Conselho para Vencedores
Vincent Cheung, Sermonettes — Volume 1 (2010).
“Se você correu com homens e eles o cansaram, como poderá competir com cavalos? Se você tropeça em terreno seguro, o que fará nos matagais junto ao Jordão?” (Jeremias 12:5)
Jeremias teve uma vida difícil. Deus o chamou para falar uma mensagem de punição ao povo, e por isso, eles o odiavam, e até mesmo sua própria família conspirou contra ele. Ele não gostava de proclamar tal mensagem e antagonizar a todos, mas era a mensagem que Deus ordenou que ele falasse, e que inspirou no profeta pelo Espírito.
Assim, em um lugar, lemos: “Sempre que falo é para gritar que há violência e destruição. Por isso a palavra do SENHOR trouxe-me insulto e censura o tempo todo. Mas, se eu digo: ‘Não o mencionarei nem mais falarei em seu nome’, é como se um fogo ardesse em meu coração, um fogo dentro de mim. Estou exausto tentando contê-lo; já não posso mais!” (Jeremias 20:8–9). Os cristãos costumam citar o versículo 9 para expressar seu desejo de pregar o evangelho, mas insultamos Jeremias se ignorarmos o contexto original. Sua tarefa era dizer ao povo que Deus enviaria os inimigos de Israel para matá-los e capturá-los. Isso viria como punição contra sua idolatria e desobediência. A decisão foi tomada e o julgamento não pôde ser evitado. Era tarde demais. Deus disse a Jeremias que, mesmo que Moisés e Samuel orassem pelo povo, ele não ouviria.
Jeremias não queria proclamar uma mensagem tão dura, mas Deus queria que ele a proclamasse, e ele colocou uma compulsão espiritual no vaso de barro que, mesmo quando o profeta decidiu encerrar seu ministério, o fogo ardeu dentro dele até que era impossível de suportar. Ele abriu a boca novamente, e “violência e destruição” saiu. Como Paulo escreveu: “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus” (Romanos 11:22, ARC). Este é o tipo de Deus a quem servimos. Quando os pecadores o irritam o suficiente, ele os mata e os manda para o inferno, e é a coisa certa a se fazer.
Tiago escreveu que Elias era um homem como nós. Mas ele mencionou isso para que pudéssemos imitar seu exemplo de fé na oração (Tiago 5:17), e não para que pudéssemos fugir quando Jezabel o persegue. Se você parar a chuva por três anos e meio, então poderia ter uma desculpa para se esbaldar em lamúrias — bem, nem mesmo assim. Em qualquer caso, se tudo que você sabe fazer é fugir quando alguém o persegue, você não é um Elias.
Jeremias também era um homem como nós, e ele estava sentindo a pressão da oposição, e exasperado, ele orou: “Tu és justo, SENHOR, quando apresento uma causa diante de ti. Contudo, eu gostaria de discutir contigo sobre a tua justiça. Por que o caminho dos ímpios prospera? Por que todos os traidores vivem sem problemas?” (12:1). Parece haver um consenso na literatura cristã, exceto por alguns escritos pentecostais e carismáticos que muitas vezes são acusados de uma compreensão distorcida da fé, de que esse tipo de oração de reclamação é digno de imitação. Os cristãos são encorajados a expressar suas frustrações a Deus, mesmo em um tom questionador e acusatório. Este é um conselho de perdedores espirituais para perdedores espirituais. Eles apelam aos profetas e aos salmos em busca de apoio, mas deixam de mencionar como Deus respondeu a essa atitude.
Por exemplo, Asafe ficou perturbado com a prosperidade dos ímpios no Salmo 73, mas ele admitiu que estava errado, que seu pé quase escorregou e que ele era insensato e ignorante, e como um animal bruto perante o Senhor. Em outras palavras, ele nunca deveria ter pensado da maneira que pensava. Mas se mesmo Asafe não tinha desculpa, por que você acha que tem uma, se você tem o benefício do Salmo 73 e muito mais? Devemos apelar aos profetas e aos salmos para proibir este tipo de atitude e oração. Se você não pode dizer algo reverente a Deus, cale a boca e leia a resposta que ele já deu na Bíblia. Então, comece sua oração com arrependimento por sua fé fraca e emoções blasfemas.
Jeremias foi um vencedor espiritual. Esse era o seu destino. E Deus não estava disposto a deixá-lo pensar como um perdedor — talvez alguém como você. Então ele disse ao profeta: “Se você correu com homens e eles o cansaram, como poderá competir com cavalos? Se você tropeça em terreno seguro, o que fará nos matagais junto ao Jordão?”. Em outras palavras: “Se agora você não aguenta e se agora tropeça, como terá êxito quando as coisas ficarem ainda mais difíceis?”. Este é um conselho para um vencedor espiritual, aquele que está destinado a aumentar a grandeza no serviço de Deus.
A maioria de nossos problemas não se parece em nada com as ameaças que Jeremias enfrentou, e o grau de fé e paciência que ele exibiu seria incompreensível para os cristãos de hoje. Assim, para baixá-lo ao nível deles, eu poderia dizer: “Se você agora está imobilizado de tristeza porque seu esquilo-da-mongólia de estimação morreu, como você pode encorajar alguém cujos filhos morreram em um acidente, e como você lutará contra ateus e hereges?” Dá para entender?
O conselho de Deus é severo quando medido pelos sentimentos delicados e afeminados do Cristianismo moderno. Ele nos desafia a renunciar à nossa autopiedade e incredulidade, apresentando-nos dificuldades ainda maiores. Ele se recusa a relaxar sua demanda por excelência. Isso é contrário à mentalidade de perdedor da psicologia não cristã, e isso envenenou os ensinamentos de pregadores e conselheiros cristãos. Nosso Senhor Jesus não é aquele que diz: “Eu sei, eu sei, apenas coloque tudo para fora…”, mas aquele que exclama: “Quanto tempo terei de ficar preso a você? Quanto tempo eu tenho de aturar isso? Cara, onde está a sua fé?” (veja Mateus 17:17, Lucas 8:25). Ele quer que seus discípulos sejam vencedores espirituais. Ironicamente, hoje sua abordagem seria considerada anticristã, desprovida de amor e refinamento.
Relacionado:
Mais Conselhos para Vencedores
Vincent Cheung. Counsel for Winners, em Sermonettes — Volume 1 (2010), pp. 29–30. Tradução: Luan Tavares (16/10/2021).
━━━━━━━━━//━━━━━━━━
Copyright © 2010 por Vincent Cheung
http://www.vincentcheung.com