Absolutismo Graduado Duplo

As Obras de Vincent Cheung
5 min readDec 28, 2020

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Em relação ao artigo “Absolutismo Graduado”, a crítica dele é interessante, mas a solução proposta é pobre. O artigo não desenvolve uma resposta para o problema e não faz uma longa e cuidadosa exposição sobre como “obedecer ao mandamento” e confiar em Deus para o restante. Qual mandamento ou mandamentos? Ou ele acha que não há o dilema aqui?
Eu prefiro a solução apresentada por Charles Hodge, em que ele examina a questão do direito de uma pessoa de exigir uma resposta à questão (neste caso, o homem com a arma). Se ele não tem direito à resposta, então enganá-lo não pode ser classificado como mentira. Suspeito que Cheung diga que isso é um sofisma cristão, mas a avaliação do direito da pessoa é algo que deveria ser feito.

“Qual mandamento ou mandamentos?”

Se ele está perguntando qual mandamento se aplica, então eu diria que, pelo menos em princípio, todos os mandamentos de Deus estão em vigor ao mesmo tempo. Eu digo “em princípio” porque, embora “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” esteja sempre em vigor, se o cenário inteiro não tem nada a ver com a mulher de alguém, então isso não é diretamente relevante nessa situação. Mas, ainda assim, isso não significa que não está em vigor — significa apenas que não há mulher para ninguém cobiçar no momento.

Mas se ele está insinuando que devemos escolher um mandamento a ser aplicado, então ele está argumentando em círculo, visto que ele assume o tipo de raciocínio usado pelo absolutismo graduado sem responder às minhas objeções contra ele. Então, se é isso que ele quer dizer, então ele não está fazendo nada para defender o absolutismo graduado, mas ele está meramente afirmando isso novamente.

“Ou ele acha que não há o dilema aqui?”

Correto. Eu já disse isso no artigo, e ele deveria saber disso se prestar atenção ao que lê. Perguntar sobre isso novamente não muda nada. Certamente não explica como o caso de teste realmente contém um dilema moral.

Não há dilemas, paradoxos ou contradições — nunca — nos mandamentos de Deus e em qualquer situação. Ninguém jamais mostrou que há, de fato, um dilema no cenário acima, ou em qualquer outro cenário. E fazer essa pergunta retórica não cria um dilema onde não havia nenhum.

A verdade é que a tensão em qualquer dilema ético nunca é entre dois ou mais mandamentos de Deus, mas entre os mandamentos de Deus e as próprias opiniões e desejos da pessoa.

“O artigo não desenvolve uma resposta para o problema.”

Na verdade, eu respondi, mas ele não diz o que há de errado com a minha resposta. Além disso, como indicado acima, não há de fato “problema” nenhum, e isso também faz parte da resposta. Ele comete raciocínio circular quando simplesmente assume novamente que há um “problema” quando já expliquei o porquê de não haver problema algum. Se ele deseja insistir que há um dilema, ele terá que mostrá-lo, em vez de apenas assumi-lo e desconsiderar o que eu disse.

“… e não faz uma longa e cuidadosa exposição sobre como ‘obedecer ao mandamento’ e confiar em Deus para o restante.”

Na verdade, fiz isso também e em detalhes mais do que adequados. Mais uma vez, ele não interage com o que eu disse, mas simplesmente desconsidera isso.

“Se ele não tem direito à resposta, então enganá-lo não pode ser classificado como mentira.”

POR QUÊ? Quem inventou essa regra? Onde está isso na Bíblia? “Não dirás falso testemunho a menos que a pessoa não tenha direito à verdade”?!

Se este é o princípio aceito, então devemos agora examinar a Bíblia para nos dizer quem tem direito à verdade em cada situação. E há sempre dilemas, paradoxos e contradições quando se trata disso? Isto é, há situações em que uma pessoa parece ter o direito à verdade de acordo com uma porção da Escritura, mas então não parece ter esse direito de acordo com outra parte da Escritura? Como isso é resolvido quando acontece? Então isso é apenas absolutismo graduado duplo. Agora precisamos de um terceiro princípio para determinar quem tem o direito à verdade em cada situação. E se isso produz um dilema, então precisamos de um quarto e assim por diante.

Se alguém não tem direito à resposta, por que não se recusa a dizer algo? Ou por que não dizer: “Você não tem direito à resposta”? E quanto às outras opções possíveis que sugeri no artigo anterior? Mas de alguma forma, a ideia é que, quando alguém não tem o direito à resposta, então devemos seguir em frente e mentir para ele. Na verdade, ele diz que enganar não é mentir neste caso, o que é um absurdo. Talvez ele pretenda dizer que mentir não é pecar em tal situação.

“… mas a avaliação do direito da pessoa é algo que deveria ser feito.”

Novamente, quem diz? O Deus dele é Jeová ou Charles Hodge?

“Eu suspeito que Cheung diga que isso é um sofisma cristão.”

Não. A verdade é que vou chamá-lo de mentiroso e, e provavelmente nunca vou acreditar em nada do que ele diz. Se ele está tão preparado para mentir, então em seu coração ele já fez isso, e esse é o tipo de pessoa que ele é.

Também o chamarei de assassino, fornicador, molestador de golfinhos, ladrão e todo tipo de pecador. Ele iria trair sua esposa e estuprar seu próprio filho. Por sua própria admissão, enquanto ele pensa que há um mandamento maior em qualquer situação, ele está pronto para transgredir qualquer mandamento inferior. Ele está preparado para fazer todas essas coisas desde que possa dizer a si mesmo que está seguindo um princípio “superior”. Portanto, em seu coração, ele já fez todas essas coisas, e se sente muito justo com isso. Ele é pior, muito pior que um incrédulo.

Este é o estado do raciocínio teológico cristão. Deus tenha piedade de todos nós.

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A Blasfêmia do Absolutismo Graduado

Vincent Cheung. Double Graded Absolutism. Disponível em Blasphemy and Mistery (2007), pp. 21–23. Tradução: Luan Tavares (22/08/2018).

Sobre o autor: Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos.
Site oficial: https://www.vincentcheung.com/

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Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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