Uma Saudação com um Propósito

As Obras de Vincent Cheung
6 min readDec 22, 2020

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Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma. (3 João 2 ARA)

Os mestres da fé (WOF)¹ costumam usar esse versículo para ensinar um evangelho de saúde e riqueza. Os críticos afirmam que a aplicação deles não respeita o gênero ou a forma literária de 3 João. O versículo aparece na parte introdutória de uma carta. Portanto, é uma saudação, pretendida como um desejo e não como uma promessa. A observação pode estar correta, mas usá-la como réplica é enganosa. Se o desvio de direção deriva de falta de reverência, falta de honestidade ou falta de inteligência, não teremos tempo para investigar. Os teólogos da incredulidade geralmente exibem as três características em suas tentativas de destruir seus inimigos.

Os mestres da fé nem sempre se referem ao versículo como uma promessa em primeiro lugar. De fato, não consigo me lembrar imediatamente de um exemplo disso. Mas vamos supor que alguns deles o façam, para que não fiquemos presos a esse ponto. Ainda assim, a verdade é que eles usam principalmente o versículo para ensinar que é “a vontade de Deus” que seu povo viva com saúde e prosperidade. Em nossos termos, isso seria no sentido preceptivo.

Se os críticos insistirem que a saudação apostólica não pode representar a vontade preceptiva de Deus sobre o assunto porque o versículo aparece na parte da saudação de uma carta, eles teriam que aplicar isso a todas as cartas apostólicas. Todas as saudações nas epístolas inspiradas seriam reduzidas a meros desejos humanos e gestos amigáveis. Isso oferece uma visão alarmante sobre o que os críticos realmente pensam sobre a Escritura e o próprio Deus.

Quais são algumas das saudações apostólicas? Paulo escreve: “Graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” (Gálatas 1:3). Uma mera saudação? Eu posso conseguir que alguém seja salvo com isso! E o próprio Paulo estendeu isso com conteúdo teológico: “… que se entregou a si mesmo por nossos pecados a fim de nos resgatar desta presente era perversa, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém” (vv. 4–5). O versículo 4 afirma a expiação, mas depende do versículo 3, a saudação. Portanto, a saudação não é apenas uma saudação.

Pedro escreve: “Graça e paz lhes sejam multiplicadas, pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus, o nosso Senhor” (2 Pedro 1:2). Isso é um mero desejo? Mas há um ensinamento aí: “… pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus, o nosso Senhor”. Podemos receber graça e paz em abundância através do conhecimento de Deus e Jesus Cristo. A saudação não é apenas uma saudação, mas também um ensinamento.

Mesmo que uma saudação corresponda a um mero desejo, sabemos que a graça e a paz nos são prometidas por meio de Cristo. Portanto, apenas porque algo aparece em uma saudação como um desejo não significa que não seja prometido em muitos outros lugares na Escritura. É principalmente assim que os mestres da fé usam o 3 João 2. O versículo nos ensina que a vontade de Deus é que seu povo possua cura e prosperidade, e ele prometeu essas coisas em vários lugares da Bíblia. A observação de que o versículo é uma saudação não anula a doutrina do WOF.

Veja a saudação em Apocalipse: “João, às sete igrejas da província da Ásia: A vocês, graça e paz da parte daquele que é, que era e que há de vir, dos sete espíritos que estão diante do seu trono e de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra. Ele nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue, e nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai. A ele sejam glória e poder para todo o sempre! Amém” (Apocalipse 1:4–6). A alta cristologia é tão integrada à saudação que é inseparável dela. Ao copiar a passagem para expressar esse argumento, fiquei cativado pelo conteúdo e li várias vezes para apreciá-la. Eu poderia experimentar a riqueza nela. A descrição elevada de Cristo foi suficiente para me levar às lágrimas, mas me contive para poder continuar. Este é o Jesus que eu amo. Mas é claro, isso é apenas uma saudação, certo?

Quando escrevo um cartão de felicitações para minha esposa, sigo o costume de terminar com uma palavra ou frase, acompanhada de uma assinatura. A diferença é que há uma frase especial que eu uso apenas para ela. Eu poderia dar a outras pessoas um “atenciosamente”, mesmo que isso. Embora seja uma parte habitual de um cartão, quando escrevo para ela, não é um mero cumprimento ou gesto educado, mas é sempre a parte mais significativa dele. Eu sempre o escrevo com a maior quantidade de sentimento e propósito. As palavras representam o que ela significa para mim. A frase é tanto uma declaração de fato quanto uma promessa solene.

Quem era Deus para João? O que Jesus significava para ele? “Aquele que é, que era e que há de vir… a testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra. Ele nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue”. Se isso é apenas uma saudação para você, Jesus não significa para você o mesmo que significa para João. Mas se Jesus significa o mesmo para você, então isso não é apenas uma saudação.

Este mesmo João cumprimenta sinceramente seu amigo Gaio: “Amado, oro para que você tenha boa saúde e tudo corra bem, assim como vai bem a sua alma” (3 João 2). Apenas um desejo? Que desejo! Ele não diz: “Amigo, desejo que a vontade soberana de Deus seja feita em sua vida, seja saúde ou doença, seja prosperidade ou calamidade”. Não, ele só quer que seu amigo esteja bem. A menos que os eruditos acusem João de ser desonesto, e assim condenariam a si mesmos, o mínimo que podemos dizer sobre o versículo é que ele representa a vontade preceptiva de Deus. E é exatamente assim que os mestres da fé o usam na maioria das vezes. Então, as promessas de Deus que poderiam cumprir o desejo de João são encontradas em outros lugares na Escritura.

O ponto principal deste versículo não é saúde e riqueza, mas se levamos a palavra de Deus a sério. Mesmo que os mestres da fé tirem mais proveito do versículo do que ele pretende, os críticos são os piores ofensores. Com todas as ferramentas intelectuais certas, é notável que eles acabem com uma aplicação tão inferior, enquanto os “hereges” não sofisticados chegam a uma melhor interpretação apenas levando o versículo mais a sério — para os críticos, a sério demais. A verdade é que esses críticos têm preconceito contra a própria Bíblia e contra os benefícios que advêm da fé em Cristo, e os cristãos do WOF acabam sendo pegos no fogo cruzado. Os metres de fé estão realmente errados em alguns pontos, mas você não pode dizer quais são, se tiver preconceito com o que a Bíblia ensina.

Quando você viu os críticos fazerem bom uso de 3 João 2? Provavelmente, o único momento em que eles trazem isso à tona é por controvérsia e refutação, não por ensino e incentivo. Então, qual grupo honra mais a palavra de Deus? De que adianta se os críticos se autodenominam doutores disto e daquilo, quando não conseguem sequer usar uma saudação corretamente? E de que serve se eles não usam a palavra de Deus para edificar a fé das pessoas? Eles não contribuiriam mais para o mundo, caso se tornassem cobaias de minas terrestres?

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¹ Nota do Tradutor: Word of Faith (Palavra da Fé).

Vincent Cheung. A Greeting with a Point. Disponível em Backstage (2016), pp. 61–63. Tradução: Luan Tavares (01/01/2020).

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Written by As Obras de Vincent Cheung

Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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