Suicídio

As Obras de Vincent Cheung
6 min readOct 23, 2019

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Eu acho que uma pessoa que comete suicídio pode ser salva. Você acha que 1 Coríntios 10:13 apresenta um problema para essa visão? O versículo diz: “Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar”.

Para começar, podemos dizer duas coisas sobre suicídio. Primeiro, como a definição bíblica de assassinato é o fim deliberado da vida humana sem a aprovação preceptiva de Deus, isso deve significar que suicídio é equivalente ao assassinato. Segundo, para quem comete esse ato, é ainda mais definitivo do que se ele matasse outra pessoa. Como o assassino também é quem é assassinado, não apenas a vida termina, mas também não há oportunidade para arrependimento e restauração. Portanto, devemos concluir que o suicídio implica muito perigo espiritual.

Ora, eu não tenho aversão pessoal à ideia de que todos aqueles que se suicidam são de fato não cristãos, independentemente do que eles afirmam acreditar. Se todos os que cometem suicídio são enviados para o inferno, que assim seja. Minhas emoções não me fazem preferir uma posição ou outra. Dito isto, neste momento não estou convencido de que esse seja realmente o caso. Em outras palavras, parece que é possível que um crente genuíno se mate.

A razão do suicídio pode ser um fator. A pessoa é louca? A pessoa sofre de depressão extrema ou abuso sexual ou físico constante e prolongado, sem maneira aparente de escape? Ela está enfrentando um tipo de pressão ou perigo tão extremo que acha que o suicídio é a única opção? Ou é um soldado ou agente do governo que é capturado pelo inimigo e quem pensa que deve recorrer ao suicídio em vez de se arriscar a revelar informações secretas que possam prejudicar seu país?

Não estou afirmando que esses fatores concedem permissão moral para o suicídio, mas apenas que essas são perguntas relevantes no caminho para a resposta e que, mesmo que a maioria dos casos de suicídio seja pecaminosa, é possível que alguns casos não o sejam. Talvez um homem louco seja tão culpado quanto qualquer outro. Isso é algo que precisamos discutir. Para aqueles que não passam por isso, às vezes é difícil julgar. No entanto, parece que a situação como a do soldado ou agente se enquadra em uma categoria diferente de razões e é muito mais provável que seja aceitável, se é realmente aceitável. Poderia ser considerado um ato de sacrifício voluntário em uma situação de guerra e, como tal, é muito diferente de uma pessoa que se mata apenas por estar deprimida, ou por ser um adolescente confuso, ou porque deve muito dinheiro às pessoas.

Quanto a 1 Coríntios 10:13, a passagem não contradiz a visão de que um crente poderia cometer suicídio e ser salvo. Isso ocorre porque qualquer pecado é um pecado contra 1 Coríntios 10:13. A passagem significa apenas que nunca há uma desculpa para o pecado, incluindo o suicídio. Mas ainda pecamos muitas vezes e recebemos perdão por isso através da fé em Jesus Cristo. Da mesma forma, na medida em que o suicídio é pecaminoso, a passagem pode significar que o suicídio nunca é necessário, e é errado uma pessoa pensar que essa é sua única opção. Mas, novamente, nenhum pecado é necessário, ou a única opção de uma pessoa. E se houver uma distinção entre suicídio pecaminoso e não pecaminoso, o versículo significa que o suicídio pecaminoso nunca é necessário.

Algumas tentativas a partir de argumentos bíblicos estão longe de serem conclusivas.

Por exemplo, o suicídio de Judas é insuficiente para estabelecer sua pecaminosidade. Ele pecou em trair a Cristo, pecou novamente em não se arrepender e depois pecou mais uma vez em se matar. Mas não há nada aqui para nos dizer que o suicídio é pecaminoso — sabemos que é pecaminoso a partir de outras partes das Escrituras. Não há nada aqui que nos diga se uma pessoa que comete suicídio é necessariamente exposta como incrédula e condenada ao inferno porque ela comete suicídio. Ou, relacionado a isso, embora saibamos que Judas é um reprovado, não há nada aqui que nos diga que apenas uma pessoa reprovada, destinada ao inferno, cometerá suicídio.

Por outro lado, também não podemos dizer que o exemplo de Sansão justifica o suicídio, pelo motivo de que pode não ser suicídio. Em sua demonstração final de força, “na sua morte, Sansão matou mais homens do que em toda a sua vida” (Juízes 16:30). Em outras palavras, ele fez mais para cumprir sua missão nesse ato, que ele sabia que o mataria também, do que em suas façanhas anteriores. Ele se mataria se soubesse que nenhum filisteu teria morrido por causa disso? E se ele realmente queria se suicidar como tal, por que ele não fez isso muito antes? Ele ficou em cativeiro por tempo suficiente para o cabelo crescer novamente. Ele poderia ter se matado a qualquer momento durante esse período apenas mordendo a língua e sangrando até a morte. Sim, ele sabia que ia morrer (v. 30), mas declarou sua intenção dois versículos antes quando disse: “Ó Soberano SENHOR, lembra-te de mim! Ó Deus, eu te suplico, dá-me forças, mais uma vez, e faze com que eu me vingue dos filisteus por causa dos meus dois olhos”. Seu principal objetivo era matar os filisteus. Ele morreu em combate, cumprindo sua missão melhor do que qualquer coisa que ele fez antes. Assim, é difícil chamar isso de suicídio como tal.

Devemos continuar a examinar argumentos bíblicos sobre o assunto. De qualquer forma, mesmo se dissermos que é possível que um crente genuíno cometa suicídio, devemos insistir que permanece o fato de que o ato é espiritualmente perigoso e devemos fazer o máximo para alertar as pessoas contra isso e afastá-las. Certamente, a melhor solução a longo prazo não é que uma pessoa espere até chegar ao ponto do suicídio, mas que ela se exercite diariamente com fé e piedade, e obtenha assistência, conselho e encorajamento de uma comunidade cristã.

Ao aconselhar aqueles que pensam em suicidar-se, devemos ter compaixão pelos problemas que estão enfrentando; no entanto, também devemos lidar com eles firmemente sobre sua atitude.

Para ilustrar, os abortistas perguntam: “As mulheres não devem ter o direito de decidir o que fazer com seus próprios corpos?”. Em vez de dizer: “Sim, mas…”, devemos responder: “É claro que não!”. Deus é quem dita o que elas devem fazer com seus corpos e como devem tratar os corpos de seus filhos em seus úteros. A verdade é que não temos autoridade absoluta sobre nosso próprio corpo, mesmo em relação a outras pessoas, pois Deus também definiu os princípios que governam vários relacionamentos humanos. Por exemplo, os pais têm o direito de punir fisicamente seus filhos desobedientes, e aqueles que são casados ​​possuem direitos conjugais sobre seus cônjuges, sejam homens ou mulheres.

Consequentemente, aqueles que pensam em suicídio devem aprender que não têm direitos finais sobre seus próprios corpos, uma vez que são propriedade de Deus. Isso é verdade para os crentes em um sentido especial, já que as Escrituras os chamam de tesouro pessoal de Deus. Mas sejam cristãos ou não cristãos, a menos que tenham a permissão preceptiva de Deus — isto é, a menos que as Escrituras aprovem — , eles não têm direito moral de se matar.

Além disso, devemos afirmar que se uma pessoa que comete suicídio é, no entanto, salva, isso se deve unicamente devido à graça soberana de Deus, que a escolheu para a salvação, e ao sangue expiatório de Cristo, que pagou por todos os seus pecados, incluindo o que parece ser um ato final de rebelião e incredulidade.

O que quer que façamos, não devemos minimizar o perigo associado ao suicídio, pois, mesmo em casos excepcionais em que o “suicídio” é permitido, essas são de fato exceções (guerra, sacrifício, talvez insanidade extrema e assim por diante). Podemos dizer com confiança que, mesmo que o suicídio não seja pecaminoso em todos os casos, ele é pecaminoso na maioria dos casos. E mesmo que o suicídio às vezes seja cometido por alguns crentes genuínos, a maioria dos que cometem suicídio é incrédula. Portanto, a maioria das pessoas que comete suicídio é enviada para o inferno e lá sofrerão tortura extrema e eterna. Desta vez não haverá escapatória.

Vincent Cheung. Suicide, do livro Blasphemy and Mystery, pp. 73–75. Traduzido por Luan Tavares em 01/10/2019.

Sobre o autor: Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos.
Site oficial: https://www.vincentcheung.com/

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Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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