Sem “Fé” Suficiente para ser Ateu?

As Obras de Vincent Cheung
3 min readOct 22, 2019

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Ao defender a Fé Cristã, os crentes às vezes diriam algo como: “Eu não tenho suficiente para ser ateu”. Isso inclui alguns defensores da apologética pressuposicional, que abusam da palavra dizendo que toda cosmovisão deve começar estabelecendo seus primeiros princípios sobre “fé”. No entanto, isso é tanto biblicamente falso como estrategicamente tolo.

Quando os não cristãos fazem a acusação de que afirmamos o Cristianismo apenas sobre “fé”, eles não estão usando a definição bíblica da palavra, mas com ela eles querem dizer algo como “crença por pura suposição sem qualquer justificativa racional”. Alguns cristãos então, fazem um caso racional para o Cristianismo, e concluem: “É necessário mais fé para ser ateu, e eu não tenho fé suficiente para ser ateu”.

Quando usada dessa maneira, fé significa mera credulidade, e isso implica que o Cristianismo é afirmado pela credulidade, só que é preciso ainda mais credulidade para ser ateu. Esse uso antibíblico da palavra encoraja o público a ter um pouco de credulidade, de modo que ele se torne cristão, mas não muito, para que ele não se torne ateu. Mas se isso é o que “fé” significa, então por que não renunciar a toda credulidade e não ter fé alguma?

O problema é ainda mais agravado quando os cristãos afirmam no mesmo contexto que a fé não é mera credulidade, mas que a fé é racional. Mas, se incluirmos isso novamente na declaração “não tenho fé suficiente para ser ateu”, então se torna uma admissão de que o ateísmo é mais racional, o que é exatamente o que eles negaram quando disseram pela primeira vez: “Não tenho fé suficiente para ser ateu”.

Nas Escrituras, a fé é sempre uma coisa boa, e é sempre bom ter mais fé. Mas, de repente, no contexto de defender a “fé”, os cristãos afirmam que o ateísmo também deve começar com “fé” e que os ateus de fato têm mais, já que é preciso ainda mais “fé” para ser ateu. Então, na mesma discussão, eles também dizem que “fé” é racional, e que os ateus não a têm, porque é um dom de Deus. Ou eles estão dizendo que um pouco desse dom divino nos tornaria cristãos, mas muito dele nos tornaria ateus?

Se estamos usando a definição bíblica — se estamos falando sobre o tipo de fé que temos e queremos que nossos ouvintes tenham — então, a verdade é que, se eu tiver alguma fé, mesmo tão pequena quanto um grão de mostarda, eu não seria ateu. O ateu não tem fé, nem tem mais fé. Se estamos usando a definição bíblica da palavra, então se você tem alguma fé, você já é um cristão.

Portanto, esse uso indevido da palavra “fé” pode parecer inteligente para alguns, mas é de fato antibíblico, tolo, confuso e autodestrutivo. Nunca devemos usar a palavra para denotar credulidade. Ao invés de dizer: “Eu não tenho o suficiente de uma coisa boa para ser ateu”, devemos dizer: “Eu não tenho o suficiente de uma coisa ruim para ser ateu”. Portanto, é muito mais apropriado dizer: “Não sou estúpido suficiente para ser ateu”.

Segue-se que nunca devemos dizer: “Todos devemos começar com fé”. Não, não temos. Todos partimos de um primeiro princípio como o ponto de partida lógico do nosso pensamento. Os cristãos afirmam a Escritura como ponto de partida pela fé-razão (um dom divino de assentimento inteligente à verdade), mas os não cristãos afirmam seus vários princípios falsos e irracionais pela sua credulidade e iniquidade.

Vincent Cheung. Captive to Reason (2009), pp. 54–55. Traduzido por Luan Tavares em 26/10/2018.

Sobre o autor: Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos.
Site oficial: https://www.vincentcheung.com/

https://twitter.com/AsObrasDeCheung

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Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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