Respondendo a Objeções ao Castigo Corporal

Vincent Cheung, Sermonettes — Volume 8 (2015).

As Obras de Vincent Cheung
7 min readOct 23, 2021

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1. Estudos mostram que o castigo corporal não torna as crianças melhores, mas piores quando crescem.

(a)
Melhor ou pior o quê? Um cristão melhor? Ou um não cristão melhor? O que é um cristão melhor? O que é um não cristão melhor? Melhor de acordo com qual padrão? Por que devemos usar esse padrão? O que é melhor e o que é pior? Quem decide? Como é medido?

Digamos que quem nunca recebeu castigo corporal está mais bem ajustado socialmente. O que isso significa? Quem define isso? Por que isso é bom ou importante? O que é bom? Importante para quê? Com quem eles estão mais bem ajustados socialmente? Com outros criminosos, adúlteros, beberrões ou com cristãos devotos? Aquele que recebeu castigo corporal é reprimido ou é mais disciplinado e íntegro? A ciência define e mede a moralidade? Por que ou por que não? Como? E moralidade de quem? Uma vez que você introduz moralidade nisso, ainda é “científico”? Esses são apenas alguns detalhes, e podemos listar muitos mais. Eles não sabem o que devem medir, o que estão medindo, por que estão medindo e como estão medindo.

Este ponto por si só torna todos os estudos praticamente sem sentido. Caso contrário, eu posso ganhar o argumento dizendo que tudo o que as crianças que receberam castigo corporal cresceram foi o que pretendíamos o tempo todo, e que consideramos o resultado muito bom. Portanto, estudos mostram que os castigos corporais melhoram as crianças quando se tornam adultas, porque assim dizemos. Isso é “científico” da mesma forma, e mostra que alcançamos uma taxa de sucesso de cem por cento por meio do castigo corporal.

(b)
Se não nos importamos se estamos fazendo cristãos, ou melhores cristãos, então a questão passa a ser evangelismo e apologética, porque devemos nos importar. Se não nos importamos, isso significaria que os estudos têm como objetivo fazer incrédulos “melhores” — isto é, produzir pessoas inferiores. Mas se nos preocupamos em fazer cristãos melhores, então podemos medir apenas os verdadeiros cristãos — aqueles cristãos que têm fé em Deus, que têm o Espírito de Deus e que fornecem um ambiente cristão forte para as crianças o tempo todo, não apenas quando eles exercem castigo corporal.

Castigo corporal sem o contexto de instrução adequada não é o que a Bíblia ensina. Portanto, todos os não cristãos e cristãos nominais não podem contar nesses estudos. Isso provavelmente torna quase cem por cento da amostra irrelevante quando consideramos a questão como cristãos. Os estudos usuais apenas observam réprobos atacando réprobos sobre sabe-se lá quem é o problema que eles têm. É um salto impossível fazer disso uma base para julgar o ensino da Bíblia. Eles deveriam simplesmente admitir que rejeitam o ensino da Bíblia por puro preconceito e dar o fora.

Um problema semelhante ocorre na forma como as pessoas contam as taxas de divórcio. Elas incluem todos aqueles que têm o crachá “cristão”, o que significa que o grupo incluiria mórmons, católicos, cristãos nominais ou “não praticantes” e outros. O grupo não teria nada a ver com o que a Bíblia considera como cristãos. O resultado seria, na melhor das hipóteses, uma medida das taxas de divórcio entre não cristãos. Ou seria como realizar um experimento sobre se a oração “funciona”, mas inclua no grupo ateus, mórmons, muçulmanos, satanistas, budistas e outros tipos de pessoas. É claro que o resultado mostraria que não funciona, mas significaria apenas que a oração não cristã não funciona.

(c)
Estamos falando sobre mentes e pessoas, e observando cada indivíduo por um período de tempo, até anos. E cada um é diferente. Como você pode saber se uma pessoa em particular — o mesmo indivíduo — estaria em melhor situação ou em pior situação se fosse criada de uma maneira diferente? No momento, esqueçamos o fato de que cada uma das duas primeiras críticas torna os estudos inúteis. Então, para que os estudos sejam significativos, temos que educar cada pessoa com o uso de castigos corporais e observá-la ao longo de sua vida, e então voltar no tempo e criar a mesma pessoa sem o uso de castigos corporais e observá-la por toda a vida.

Criar pessoas diferentes com pais diferentes? Como você pode comparar? As próprias observações são imprecisas por causa do método defeituoso e irracional e da epistemologia impossível. No entanto, mesmo se fingirmos que as observações relatam os fatos com precisão, o melhor que podem fazer é fornecer informações sobre o que é e o que foi, não o que poderia ser ou poderia ter sido. Mas precisamos de informações sobre o que poderia ser ou poderia ter sido para determinar se o castigo corporal torna as crianças melhores ou piores.

Talvez uma pessoa pudesse se tornar o próximo Hitler, mas como foi açoitado da cabeça aos pés ano após ano, agora ele está apenas um pouco reprimido e antissocial. Talvez outra pessoa pudesse se tornar o próximo Lutero, mas porque ele nunca foi chicoteado, agora ele é um beberrão, um apostador, um mulherengo, mesmo que seja um empresário socialmente bem ajustado, seja lá o que isso quer dizer.

É impossível fazer comparações e conclusões adequadas. Haveria trilhões de variáveis ​​nos pais, nos filhos e nos ambientes de cada grupo. O uso de castigo corporal não seria a única diferença entre os grupos. O único método justo é comparar cada pessoa consigo mesma, e isso só é possível com viagem no tempo ou com onisciência. E ainda não há solução para os dois primeiros pontos.

Em qualquer caso, a vara na Bíblia é prescrita em um contexto cristão. Você não pode bater em uma criança e não dizer nada a ela ou não ensiná-la nada, e ainda assim esperar bons resultados. O castigo corporal é um aspecto da paternidade. A dor tem que significar algo e não se resumir apenas a uma agressão aleatória. Os estudos não medem isso. Para medir isso, pelo menos os estudos devem ser conduzidos por pregadores que concordam com o que eu disse acima, em vez de psicólogos e sociólogos.

Provavelmente faria bem para os não cristãos usarem castigo corporal em seus filhos, mas sem uma educação e ambiente cristãos o efeito seria limitado e produziria efeitos colaterais indesejáveis, como ressentimento. Ainda pode ajudar os filhos a desenvolver algum grau de autocontrole, de capacidade de adiar a gratificação, de ficar longe do crime e das drogas, e assim por diante. No entanto, o efeito seria em um nível totalmente diferente, talvez no nível de treinamento de animais.

2. A “vara” na Bíblia não se refere a um instrumento físico, mas é uma metáfora para disciplina e orientação.

(a)
Eu não os deixaria jogar o ônus da prova sobre mim. Eles precisam me mostrar que se trata de uma metáfora, em vez de apenas sugeri-la. Eu não vou simplesmente aceitar. Eles vão ter muito sufoco. Será uma experiência desagradável para eles.

(b)
O Salmo 89:32 diz: “Com a vara castigarei o seu pecado, e a sua iniquidade com açoites”. O paralelo à “vara” é “açoites” (“chicotadas” na ESV, “surra” na NLT).¹ Portanto, vara significa açoite. Ora, neste versículo é de fato uma metáfora! Mas o contexto é sobre como Deus lida com reis e nações, de modo que a metáfora se refere a guerra, pragas, escravidão, massacre generalizado e muito mais. Assim, só porque algo é uma metáfora, não significa que a realidade seja menos violenta ou severa. Muitas vezes significa que a realidade é mais. Se a “vara” para a disciplina infantil for uma metáfora, isso pode significar que devemos jogar um carro sobre a criança em vez de fustigá-la.

(c)
Provérbios 10:13 diz: “A sabedoria está nos lábios dos que têm discernimento, mas a vara é para as costas daquele que não tem juízo”. Os “lábios” são contrastados com a “vara”. Essas são duas abordagens estendidas a diferentes tipos de pessoas. A sabedoria lida com palavras. Não diz palavras gentis ou algo parecido, mas apenas palavras. Portanto, o contraste não é entre dois tipos de discurso, mas entre o verbal e o físico.

O tolo não ouve, por isso deve ser surrado. Isso é verdade mesmo quando deixamos o contexto dos pais e falamos sobre como a sociedade funciona. O sábio ouve as palavras da lei, mas o tolo se recusa a ouvir e, portanto, deve ser preso, surrado ou executado. Veja também Provérbios 19:29. Então, Provérbios 26:3 diz: “O chicote é para o cavalo; o freio, para o jumento; e a vara, para as costas do tolo!”. O chicote e o freio são físicos. Você não discute com um cavalo ou burro. Portanto, a vara também é física e não há garantia para dizer o contrário.

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¹ Nota do Tradutor: ESV (English Standard Version): “stripes”. NLT (New Living Translation): “beating”.

Vincent Cheung. Answering Objections to Corporal Punishment, em Sermonettes — Volume 8 (2015), pp. 96–98. Tradução: Luan Tavares (23/10/2021).

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© Vincent Cheung. A menos que haja outra indicação, as citações bíblicas usadas nesta tradução pertencem à BÍBLIA SAGRADA, NOVA VERSÃO INTERNACIONAL ® NVI ® Copyright © 1993, 2000, 2011 de Sociedade Bíblica Internacional. Todos os direitos reservados.

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Sobre o autor: Vincent Cheung nasceu em Hong Kong (China), em 16 de setembro de 1976. Atualmente reside em Boston (EUA) com a sua esposa Denise. Ele é autor de mais de trinta livros e centenas de palestras sobre assuntos como teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como sistema de pensamento abrangente e coerente, como revelado por Deus na Escritura.

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Written by As Obras de Vincent Cheung

Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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