Quando um Líder Cai
De vez em quando, ou frequentemente, ouvimos denúncias alarmantes contra os líderes da igreja. Algumas delas nós levamos em conta, ou costumamos levar em conta, e outras não nos preocupamos muito em primeiro lugar. Se as alegações envolvem abuso espiritual, má conduta financeira, abuso sexual ou outras coisas, geralmente há vários pontos a serem considerados.
Apostasia. Sempre que um escândalo irrompe contra um ministro, várias pessoas se desiludem e diminuem seu compromisso com sua religião ou abandonam-na completamente. De alguma forma, o pecado de um líder é tomado como evidência de que a própria fé cristã é falsa. Estas devem ser algumas das pessoas mais estúpidas do mundo. É provável que a fé delas nunca tenha sido associada ao objeto apropriado, Jesus Cristo. Em vez disso, elas colocaram sua esperança no líder, na igreja, em outros crentes, ou no sentimento de segurança e conforto que derivam de ser um membro da comunidade. Nós reivindicamos que nossa fé está em Deus e não nos homens. Escândalos testam essa profissão para revelar a verdadeira natureza e objeto de nossa adoração.
Hipocrisia. Dizem que os cristãos são hipócritas. Um hipócrita é uma pessoa que diz ser alguém que não é, ou que diz que fará uma coisa, mas faz algo diferente. Até mesmo um psicopata assassino não é um hipócrita se ele continuar assassinando pessoas. A hipocrisia é uma acusação específica e não se aplica a todas as pessoas que fazem algo errado. Ela se refere a uma inconsistência entre a afirmação e a verdade. Dito isto, os cristãos não apenas admitem que são imperfeitos, mas insistem que continuam pecando, e pecam com frequência. Eles não estão felizes com isso, e pela graça e poder de Deus, eles se esforçam para se despojar do velho homem e se revestir do novo homem, se revestir de Jesus Cristo. Mas a base para essa admissão e essa atitude é o padrão moral que os cristãos proclamam aos não cristãos. Então onde há hipocrisia, se quando os cristãos pecam, eles fazem exatamente o que dizem ao mundo que iria acontecer?
Identidade. Um ponto importante sobre os escândalos da igreja é que muitos dos líderes caídos são de fato não cristãos. Qualquer um pode dizer que é cristão, mas ele se encaixa na definição de um cristão? Eu posso dizer que sou um astronauta russo, mas para ser verdade preciso ser russo e preciso ser astronauta. Caso contrário, se eu insultar um chef americano, não se pode dizer que os astronautas russos odeiam chefs americanos. No entanto, isso muitas vezes é o que acontece nos escândalos da igreja. Nós devemos primeiro examinar as doutrinas. Se alguém nega o que a Bíblia ensina sobre a natureza de Deus, a criação do homem e do mundo, a realidade do pecado, a divindade e humanidade de Cristo, a expiação e justificação pela fé, então ele não é um cristão. Ele não se encaixa na definição. Eu não tenho que defender os mórmons, as testemunhas de Jeová e os cientistas cristãos. E não tenho que responder por padres católicos que abusam de centenas de menininhos. Essas pessoas não se encaixam na definição do que significa ser cristão, mesmo em suas doutrinas — as indicações mais públicas e objetivas de sua identidade. Eu não preciso nem mesmo conferir se são pessoas que professam a fé, que propagam as doutrinas corretas, mas que não acreditam sinceramente — elas se declaram não cristãs pelas doutrinas que professam publicamente. Elas mantêm o nome ou o rótulo, mas não os ensinamentos reais da religião. Assim, essas pessoas são não cristãos que cometem essas atrocidades enquanto fingem ser cristãos. Se elas são hipócritas, são hipócritas não cristãos, e demonstram a hipocrisia dos não cristãos.
Calúnia. Os pregadores são alvos de falsas acusações. O próprio Senhor foi atacado por falsos testemunhos e os apóstolos foram regularmente caluniados. É claro que, quando se trata de escândalos da igreja, assumimos que algumas acusações são verdadeiras, e não concedemos àqueles que fizeram a imunidade errada da disciplina ou mesmo da acusação. Mas não seria correto acreditar numa acusação só porque foi feita. Se não tivermos informações sobre a verdade, é melhor negar o julgamento. Além disso, se houver uma tentação de se vangloriar ou sentir-se vingado quando um cristão de convicção diferente cair, resista a essa tentação. Não se alegre no mal. Contudo, se foi demonstrado que o acusado é realmente culpado, então podemos nos regozijar com a justiça que foi feita contra ele.
Compaixão. Se as acusações forem verdadeiras, e houver verdadeiras vítimas envolvidas, devemos mostrar-lhes devida compaixão e assistência, e orar por elas, para que possam receber o conforto que só vem de Deus. Ao mesmo tempo, não devemos permitir que se tornem amarguradas contra o Senhor, ou que mergulhem na incredulidade e na autopiedade. Se necessário, devemos repreendê-las com toda a severidade e autoridade, e ordenar que se arrependam de sua atitude perversa e saiam do abismo da depressão pela força do Senhor.
Temor. Paulo escreve: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia” (1 Coríntios 10:12 ARA). Devemos tomar cuidado, pois, de fato, quando os problemas caem sobre os outros, Deus os intenciona como avisos. Certamente, isso nos lembra de nos mantermos puros e íntegros, para que não ofereçamos ocasião para escândalos. Mas também devemos nos proteger contra falsas acusações ou até mesmo simples mal-entendidos. Não há razão para um ministro trancar-se em uma sala com uma mulher para “aconselhá-la”. Tenha uma testemunha presente e não passe tempo com ela em particular. Não use a compaixão como desculpa. Se ela insiste em conselho particular, encaminhe-a para uma mulher ou simplesmente a expulse. E não há razão para fazer uma atividade com uma criança em particular ou mesmo com um grupo de crianças. Insista para que um dos pais de um dos filhos esteja presente ou expulse todas elas. Quanto às finanças, pode ser uma boa ideia para os membros da igreja selecionar um indivíduo competente, conhecedor da contabilidade e cheio do Espírito Santo, para ser o tesoureiro ou para realizar auditorias, de modo que a liderança não consista em um círculo inteiramente fechado.
Fé. Devemos temer, porque vemos que em nós mesmos não podemos viver vidas santas. Nós ficaremos aquém do padrão justo de Deus e ficaremos vulneráveis a críticas e acusações. Mas não confiamos em nós mesmos para defender nossa devoção e santidade. Nós temos fé em Deus. Nós olhamos para o trono da graça. Ele nos chamou para amadurecer à imagem de seu Filho, Jesus Cristo. E Paulo escreve: “Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (1 Tessalonicenses 5:24 ARA).
Vincent Cheung. When a Leader Falls. Disponível em Sermonettes — Volume 2, pp. 90–91. Tradução: Luan Tavares (10/07/2019).
Sobre o autor: Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos.
Site oficial: https://www.vincentcheung.com/