Por Que Você Não é Cristão
Há ensaios cristãos e sermões que são intitulados “Por que eu sou cristão”. Às vezes isso é feito em resposta ao “Por Que Não Sou Cristão” de Russell, mas nem sempre, já que o título é muitas vezes relevante fora deste contexto. Em qualquer caso, o “por que” é ambíguo e pode ser enganador no contexto da teologia cristã.
Se a palavra significa “como” ou “por qual motivo” ou “por qual causa” eu me tornei um cristão, então a resposta, é claro, é a preordenação de Deus na eternidade, que ele realizou por sua onipotência na história, e que resultou na minha conversão por meio de sua Palavra e Espírito. Se a palavra significa “como” ou “por qual motivo” ou “por qual causa” eu ainda sou cristão, então a resposta, naturalmente, é a preordenação de Deus na eternidade, que ele agora sustenta por sua onipotência na história e que resulta em minha permanência na fé por meio de sua Palavra e Espírito.
A palavra “por que” pode se referir à causação metafísica ou justificativa intelectual, e parece que um mero “por que” está mais apropriadamente associado à causação do que à justificação, especialmente em um contexto cristão. Isso porque a Bíblia ensina que Deus é quem converte um pecador, que faz com que uma pessoa creia no evangelho e se torne uma cristã. Ele pode associar a conversão e a perseverança de uma pessoa a argumentos em apoio à fé, mas os argumentos em si nunca são a causa, ou o “por que” da conversão e perseverança de uma pessoa. A verdade existe e há argumentos para sustentá-la, mas a conversão e a perseverança de uma pessoa nunca são creditadas, em qualquer grau, à sua própria apreciação dos méritos racionais da fé cristã.
Assim, um título mais adequado para esses ensaios e sermões seria “Por que estou certo em ser cristão”. Também é aceitável “Por que sou racional em ser cristão”. Ou, para ser mais preciso, “Meus argumentos intelectuais comunicáveis que constitui uma justificação racional para ser e permanecer cristão (embora eu não tenha me tornado e não permaneça cristão por causa desses argumentos, mas sim pela promessa e poder de Deus)”. Neste caso, a precisão destrói a concisão, mas vale a pena preservar a honra de Deus e evitar implicações enganosas.
Não importa o quanto alguém goste do argumento cosmológico, e não importa o quanto aprecie a evidência histórica da ressurreição de Cristo, ele não irá e não pode se tornar cristão com base nesses argumentos e com base em sua própria concordância com eles. Esses argumentos não têm poder para convertê-lo e ele não tem poder para se converter. Se nada mais acontece além de sua apreciação desses argumentos, então o único efeito possível é que ele se tornaria mais convencido do que antes de que está condenado ao inferno. Ele estaria tão longe da salvação como antes. Deus é o único poder que salva, e ele salva através da mensagem de Jesus Cristo com ou sem argumentos.
Agora, apesar de sua presunção e confiança, o não cristão não tem compreensão das causas da incredulidade. Ele acha que não é cristão porque discorda desse ou daquele argumento, ou porque ele acredita na evolução, ou em alguma outra visão científica tola ou religião estúpida. Mas ele realmente não tem ideia do porquê ele não é um cristão. Ele só pode oferecer argumentos sobre por que ele acha que está correto e racional em ser um. Como enfatizo constantemente, devemos atacar esses argumentos com força esmagadora e devastar completamente o orgulho dos não cristãos e sua estimativa de sua própria inteligência.
Aqui eu também insisto que devemos acrescentar ao nosso repertório ensaios e sermões sobre “Por Que Você Não é Cristão”. O cristão pode fazer pontos específicos adaptados ao seu público, mas a maioria deles deve se enquadrar em três categorias:
Primeiro: “Você não é cristão porque você não é inteligente”. Uma pessoa não é cristã porque é estúpida. Como Paulo escreve: “Os seus pensamentos se tornaram tolos, e a sua mente vazia está coberta de escuridão. Eles dizem que são sábios, mas são tolos” (Romanos 1:21–22 NTLH). A fé cristã é verdadeira, e obviamente verdadeira, mas o não cristão não pode ver isso porque ele é uma pessoa estúpida. Ele não tem inteligência para compreender os princípios mais simples e perceber os fatos mais claros. Sua mente é débil. Ele é uma pessoa defeituosa. A Bíblia o chama de moros. O não cristão é um idiota.
Segundo: “Você não é cristão porque você não é justo”. Uma pessoa não é cristã porque é pecadora, ímpia a e completamente má. Essa característica opera intimamente com a anterior. Como Paulo também ensina, o não cristão suprime a verdade por causa de sua maldade. Isto é, porque o não cristão é uma pessoa má, e porque ele não é bom, ele se recusa a ver a verdade. Quando a verdade o confronta, ou quando surge em sua mente, ele a reprime e a empurra de sua consciência, e força um sorriso em seu rosto, fingindo que nada está errado. O não cristão é de fato uma pessoa estúpida, desonesta e patética.
Quando testemunhamos os argumentos vãos e os comportamentos básicos de um não cristão, isso nos lembra que já fomos como ele, um pedaço de lixo, intelectualmente e eticamente arruinado. Isso nos lembra que o que Jesus Cristo fez por nós, e o que ele continua a fazer por nós é nada menos que uma salvação graciosa e um poderoso resgate. É uma remoção da vergonha. Olhando para o não cristão, percebemos que sem Cristo, nós seríamos… aquilo. Nosso Senhor nos ensina que sem ele não somos nada. Este ditado é verdadeiro, e nós não nos ressentimos disso. Em vez disso, quando somos lembrados dessa verdade, a gratidão irrompe de nossos corações, lágrimas de nossos olhos e louvor de nossos lábios.
Terceiro: “Você não é um cristão porque você não é escolhido”. Deus destinou e criou algumas pessoas para salvação, e destinou e criou todos as outras para a condenação. Esta é a doutrina da predestinação, ou a doutrina da eleição e reprovação. A Bíblia diz que Deus é como um oleiro, que do mesma massa faz alguns vasos para fins nobres e alguns vasos para uso comum. Entre outros propósitos, os vasos nobres eram usados como enfeites, para mostrar a riqueza e a sabedoria do proprietário. Estes são como os cristãos, os escolhidos, que exibem a graça, sabedoria, poder e justiça de Deus. Então, entre outros propósitos, os vasos comuns eram usados como vasos sanitários, para conter os excrementos e tais coisas. Estes são como os não cristãos, que contêm a sujeira deste mundo e estão cheios de coisas grotescas e repulsivas.
Assim como uma massa de barro não se divide e se transforma em vasos para vários propósitos, nenhum homem escolhe o que deve ser. Pelo contrário, Deus faz alguém em um vaso de honra, para ser um portador de sua graça e poder, e através de quem ele exibe sua divina misericórdia e perdão, e ele faz outro em um vaso de desonra, para ser um recipiente de espiritual e intelectual recusar e ser alvo de sua ira e punição eterna. A Bíblia faz disso a verdadeira explicação do porquê uma pessoa não é cristã e por que ela continua sendo não cristã. As duas razões anteriores também são explicações bíblicas, mas são secundárias e são os efeitos desta. Um réprobo é estúpido e pecador, e permanece estúpido e pecador porque Deus o faz assim.
Um vaso não pode dizer ao oleiro: “Por que você me fez assim?”. Da mesma forma, ninguém pode desafiar a decisão de Deus de transformar alguém em um réprobo, em um vaso de desonra e ira. Quem reivindica que é o dono de sua própria alma e o capitão de seu próprio destino diz isso com a boca cheia de fezes. Aquele não cristão que ri e afirma que não há argumentos racionais a favor da fé cristã faz isso com excrementos escorrendo pelo seu rosto. Então, este é alguém que diz que tem muita resistência para se tornar cristão, enquanto toma um grande gole de urina. E é alguém que diz que tem muita erudição, ou que está convencido de outra religião, enquanto se banqueteia com a sujeira no chão do banheiro. A imagem é tanto cômica quanto desagradável. Quando Deus quer fazer algo, ele não o faz de maneira incompleta.
Vincent Cheung. Why You are Not a Christian. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), pp. 33–35. Tradução: Luan Tavares (04/10/2018).
Sobre o autor: Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos.
Site oficial: https://www.vincentcheung.com