Por Que Deus Criou o Mal

As Obras de Vincent Cheung
5 min readJan 6, 2021

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Um dos meus amigos no seminário leu seu artigo e perguntou: “Então por que Deus criou o pecado?”

Esta é uma pergunta inválida? O correto seria “causar” e não “criar”?

Quais são seus pensamentos?

Dizer “criar” ou “causar” significaria a mesma coisa em nosso contexto, e ambas as palavras são aplicáveis, portanto ambas são boas.

Nós não estamos usando a palavra “criar” no mesmo sentido que a criação original de Deus do nada, mas estamos nos referindo ao controle de Deus sobre as coisas que ele já criou. Embora Deus deva causar ativamente maus pensamentos e inclinações na criatura, e então ele deve ativamente causar as ações malignas correspondentes, ele não cria novo material ou substância quando ele faz isso, já que ele está controlando o que ele já criou.

É verdade que uma pessoa peca de acordo com sua natureza maligna, mas como escreve Lutero, é Deus quem “cria” essa natureza maligna em cada pessoa recém-concebida segundo o padrão do Adão caído, cuja queda Deus também causou. E então, Deus deve ativamente fazer com que esta natureza maligna funcione e a pessoa a agir de acordo com ela. Lutero escreve que Deus nunca permite que esta natureza má esteja ociosa em Satanás e em pessoas ímpias, mas ele continuamente faz com que ela funcione pelo seu poder.¹

Lutero percebeu os absurdos bíblicos e metafísicos de afirmar algo menos do que isso; em contraste, a visão fraca (comum aos cristãos Reformados) é uma evasão antibíblica, desnecessária, irracional e sofística. Se a nossa posição é hipercalvinista (e não é), então isso significa que o hipercalvinismo é a visão correta e bíblica. Fatalismo também é o rótulo errado para isso.

Quanto ao propósito de Deus para o pecado e o mal, primeiro, quando reconhecemos o ensino bíblico de que Deus é o soberano e justo “autor do pecado”, mesmo que não possamos dizer por que ele causa o pecado e o mal, isso não enfraquecerá o que eu tenho dito. Mesmo que não saibamos a razão, nossa visão não contradiz a Escritura ou a si mesma. Seria apenas uma questão de informação incompleta.

No entanto, nós realmente temos a resposta, e está na própria passagem que examinamos em Romanos 9:

Mas algum de vocês me dirá: “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois quem resiste à sua vontade?” Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? “Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim?’” O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?

E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira, preparados para a destruição? Que dizer, se ele fez isso para tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (vv. 19–24)

De acordo com Paulo, uma das razões pelas quais Deus criou os réprobos é fornecer um contexto no qual ele possa revelar sua ira — algo que os eleitos de outra forma nunca irão testemunhar ou experimentar. Os réprobos são para a educação e edificação dos escolhidos. Eles mantêm um mundo de lutas e tentações para os eleitos e, no final, os eleitos testemunharão o derramamento da ira divina contra eles.

Um benefício importante que o amor de Deus torna disponível para os cristãos é a iluminação espiritual:

Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele. (João 14:21)

Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu tornei conhecido a vocês. (João 15:15)

O conhecimento sobre as coisas espirituais é um dos dons menos valiosos de Deus, mas ser amigo de Deus significa ter tal conhecimento. Muitos mostram que eles não amam verdadeiramente a Deus pelo desprezo com que consideram os estudos doutrinários, embora gostariam de pensar que o amam. Devemos tornar nossa prioridade obter entendimento e conhecimento sobre Deus:

Assim diz o SENHOR: “Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o SENHOR e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado”, declara o SENHOR. (Jeremias 9:23–24)

O conhecimento sobre Deus é o tesouro mais valioso, e tudo o mais é “esterco” em comparação (Filipenses 3:8). Ao oferecer aos seus escolhidos informações confiáveis ​​sobre si mesmo, Deus lhes dá um dos maiores presentes que ele pode dar a alguém.

Deus criou os réprobos — “os objetos de sua ira” ou aqueles que estão “preparados para a destruição” — para que ele possa revelar este aspecto de sua natureza aos “vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para glória” (Romanos 9:22–23).

Visto que os cristãos foram “salvos da ira de Deus” (Romanos 5:9) por meio de Cristo, esse é um atributo divino que eles nunca experimentarão e, portanto, deve ser demonstrado a eles em outras pessoas. Deus deseja oferecer aos seus escolhidos conhecimento sobre si mesmo, e isso nos mostra até que ponto ele irá para se fazer conhecido ao seu povo.

As pessoas podem não gostar desta explicação, mas é o que a Bíblia ensina. Tudo o que Deus faz é intrinsecamente bom e justo, então também é bom e justo para ele criar os réprobos para o propósito acima. Alguns ficariam horrorizados com isso porque estão mais preocupados com a dignidade e o conforto do homem do que com o propósito e glória de Deus, mas aqueles que têm a mente de Cristo irromperiam em gratidão e reverência, e afirmariam que Deus é justo e que todas as coisas que ele faz são boas.

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¹ Veja Martinho Lutero, The Bondage of the Will, e Vincent Cheung, Commentary on Ephesians.

Vincent Cheung. Why God Created Evil. Disponível em The Author of Sin (2014), pp. 10–12. Tradução: Luan Tavares (18/08/2019).

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Written by As Obras de Vincent Cheung

Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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