Ocasionalismo: Uma Questão de Metafísica

As Obras de Vincent Cheung
6 min readMay 9, 2021

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Quando eu me refiro ao ocasionalismo (falo apenas pela minha versão), eu estou falando primeiramente sobre metafísica, não sobre epistemologia. Quando eu o aplico à epistemologia, é a metafísica da epistemologia, ou o aspecto metafísico da epistemologia.

Parece muito raro para um filósofo incluir uma metafísica de sua epistemologia — não sua metafísica à parte de sua epistemologia, mas a metafísica de sua epistemologia. Entretanto, a metafísica é essencial, porque o conhecimento não acontece sem a realidade (por definição, nada acontece sem a realidade), então uma visão do conhecimento é incompleta e de fato impossível sem uma visão da realidade, e essa visão da realidade deve ser coerente com a visão do conhecimento. Podemos discutir sobre qual deles precisamos falar primeiro, mas eventualmente precisamos de ambos, e eles precisam concordar uns com os outros e apoiar um ao outro.

O empirista afirma que o conhecimento vem da sensação, mas metafisicamente, como isso pode acontecer e como isso acontece? Que tipo de mundo é este, em que o que ele diz é possível e verdadeiro? Esta deve ser uma realidade na qual sua teoria do conhecimento é possível e verdadeira, e sua teoria do conhecimento deve ser capaz de descobrir e explicar essa visão da realidade. Se ele falha na metafísica ou na epistemologia, ou se falha em relacionar os dois, então sua metafísica e epistemologia se desintegram.

Isso é simples. Existem duas coisas. São duas grandes coisas. São duas grandes coisas diferentes. No entanto, mesmo isso parece demais para algumas pessoas, então elas se encarregam de pontificar, embora não possam sequer distinguir e acompanhar esses tópicos grandes demais para serem omitidos. Há até mesmo algumas pessoas que, julgando-se espertas, declaram que meu ocasionalismo é como empirismo, ou apenas empirismo disfarçado, já que às vezes falo sobre o que pode acontecer na mente quando ocorre uma sensação. Ora, se o ocasionalismo é estranho para eles, parece que eles também ignoram o empirismo, porque se eles entendessem ocasionalismo ou empirismo, seria impossível para eles fazerem essa crítica.

No empirismo, o conhecimento vem das sensações, e as sensações são basicamente confiáveis ​​(seja lá o que isso signifique). No ocasionalismo, nada vem das sensações, e o que vem à mente não tem nada a ver diretamente com as sensações, e pode ser completamente diferente, independente e até contrário aos objetos e eventos que ocasionaram as sensações. De fato, um pensamento pode ocorrer na mente sem sensações correspondentes, ou dez mil sensações podem ocorrer sem que nenhum pensamento entre na mente. Como isso é empirismo? Talvez eles tenham dificuldade com isso porque a questão da metafísica ou da metafísica da epistemologia nunca passou pela cabeça deles, e então, o que quer que eu diga, eles estão presos pensando em aquisição e avaliação do conhecimento, quando estou falando de um tópico diferente. Eu estou oferecendo algo que eles não percebem que precisam.

No empirismo, se você vê um carro vermelho, você deve pensar que vê um carro vermelho, e pensa isso porque tem a sensação de ver um carro vermelho. No ocasionalismo, se você olhar para um carro vermelho, na ocasião em que isso acontece, pode ocorrer em sua mente que você vê um elefante verde, ou que está sentindo cheiro de café, ou que você realmente vê um carro vermelho, ou absolutamente nenhum pensamento pode ocorrer. Não tem nada a ver com se o pensamento é verdadeiro ou falso, e não tem nada a ver com julgar se o pensamento é verdadeiro ou falso. Deus causa dois eventos independentes, mas na mesma “ocasião”, de modo que eles parecem estar relacionados, mas que na verdade não estão relacionados em si mesmos. Como isso é empirismo?

Você se pergunta: se não tem nada a ver com a forma como julgo um pensamento, então para que serve isso? Mais uma vez, não estamos falando sobre esse tópico. Isso é metafísica. Eu estou falando sobre ser e causar. É uma descrição de como algo acontece, como tudo acontece. Esta é a mesma descrição que eu aplico à escolha humana, à colisão de objetos, à digestão de alimentos e a tudo o que acontece na realidade. Deus faz com que cada coisa aconteça, e cada coisa não tem relação com outra coisa, exceto pelo relacionamento aparente que Deus organiza quando faz com que as duas coisas ocorram na mesma “ocasião”. Não é epistemologia como tal, mas deve ser aplicada à epistemologia, porque a realidade inclui o conhecimento, e o conhecimento tem que “acontecer” na realidade, assim como tudo tem que acontecer na realidade.

O ocasionalismo não tem nada a ver com se algo é verdadeiro ou falso, bom ou mau. Isso só tem a ver com o fato de que algo acontece. Podemos fazer uma analogia a partir da diferença entre física e ética. A física pode descrever uma pessoa pegando uma faca e enfiando-a em outra pessoa. Mesmo “pessoa” e “faca” não se enquadram estritamente na física, mas se tolerarmos os verbos, podemos dizer: “A pega B e enfia B em C”. Isso não tem nada a ver com o bem e o mal. É apenas uma descrição de um evento. Você não pode nem mesmo chamar isso de “matar” a menos que você inclua biologia nisso. Alguém não entenderia se ele se queixa de que essa afirmação da física é uma teoria defeituosa da ética porque não lhe diz se o evento é bom ou mau. Qualquer teoria da física estaria imune a uma crítica tão absurda, já que seria um erro categórico. Você pode chamar isso de assassinato apenas sob ética, e você faria esse julgamento de acordo com os princípios morais de sua cosmovisão.

A física e a biologia são necessárias para este caso em ética, e assumidas mesmo que não mencionadas, porque um caso de assassinato deve acontecer na realidade. O ocasionalismo descreve, do ponto de vista da metafísica, por que você pode ter um pensamento quando ocorre uma sensação, mas não aborda diretamente a questão sobre se o pensamento é verdadeiro. Está falando de metafísica. A verdade é avaliada por outro conjunto de princípios, como as leis da lógica e os axiomas do sistema. Se você não pode julgar algo como verdadeiro pelos princípios epistemológicos de sua cosmovisão, então você não o conhece como verdadeiro de acordo com sua cosmovisão. Você pode, no entanto, continuar a considerá-lo como sua opinião.

Por alguma razão, parece que muitas pessoas não têm a capacidade mental de considerar eventos como eventos. Assassinato, como assassinato, é eticamente errado, mas é possível falar sobre assassinato como um acontecimento apenas a partir de perspectivas metafísicas, físicas e biológicas. Assim, eu me refiro a Deus como “o autor do pecado” da perspectiva da metafísica ou ontologia, porque ele é o autor de todo objeto e todo evento neste sentido. De alguma forma, as pessoas não conseguem entender isso. No entanto, isso não é um assunto teológico secundário, mas a base de tudo. Se você não reconhece este ponto, então, em princípio, você não pode prosseguir para qualquer outra coisa em seu sistema.

Como aquelas pessoas que não conseguem distinguir a metafísica e a epistemologia, ou conceber a necessidade da metafísica para a epistemologia, parece que os cristãos não têm capacidade mental para distinguir entre teologia/metafísica e soteriologia/ética, e conceber a necessidade da teologia/metafísica para soteriologia/ética. As pessoas fazem uma pergunta sobre metafísica, tal como se o homem tem livre-arbítrio, e respondem com algo da soteriologia, como dizer que a verdadeira liberdade é a obediência a Deus. Isso não aborda o tópico de forma alguma. Eles não têm inteligência para fazer distinções básicas categóricas. Tais indivíduos não estão qualificados para julgar o que eu digo.

Vincent Cheung. Occasionalism: A Matter of Metaphysics. Disponível em Sermonettes — Volume 8 (2015), pp. 51–53. Tradução: Luan Tavares (10/11/2018).

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Written by As Obras de Vincent Cheung

Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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