O Pragmatismo e o Currículo
Vincent Cheung. Blasphemy and Mystery (2007).
~ do e-mail ~
O pragmatismo destrói o currículo. Se permitirmos que interesses pragmáticos conduzam a educação, o currículo se tornará muito restrito, uma vez que nossas vidas são restritas em relação a todas as habilidades e disciplinas que podemos aprender. Sob uma filosofia pragmática, não há justificativa para incluir no currículo algo de que os estudantes não irão precisar. O estudante que reclama que nunca precisará do cálculo provavelmente está correto. É verdade que ele pode não saber que vocação escolherá no futuro, de modo que não pode saber se precisará do cálculo. Mas então a única razão pragmática para ele aprender é a mera possibilidade de que ele vai precisar no futuro. Esse motivo é fraco, porque a possibilidade é remota.
Não vale a pena perder tempo e dinheiro para aprender tantas coisas que se revelarão inúteis. Muitas pessoas não precisarão de física, ou biologia, ou dos clássicos, ou de línguas estrangeiras, ou da maioria das coisas que aprendem na escola. Quase ninguém vai precisar de todos eles ao mesmo tempo. Dada uma filosofia pragmática, o aluno deve pular a maioria dos materiais no ensino médio e na faculdade e ir direto para uma escola profissionalizante especializada, onde aprende apenas o que precisa saber.
Somente a fé cristã pode salvar a educação. No entanto, nem todos os cristãos operam sob os princípios cristãos. Este é o ponto que levantei contra o modelo de “aprender fazendo” proposto por Jay Adams. Como muitos outros, ele foi enganado pela suposição popular de que a “sabedoria” bíblica é principalmente prática e concreta, em vez de intelectual e abstrata. Isto é falso. A sabedoria bíblica trata tanto do intelectual quanto do prático, do abstrato e do concreto, mas aqueles que defendem a teoria popular estão cegos para seu aspecto abstrato. Está em toda parte na Escritura, mas eles não veem porque não querem ver. Eles estão presos pela noção de que o pensamento hebraico (bíblico) é prático e o pensamento grego (pagão) é teórico. Essa distinção simplista é falsa e simplesmente estúpida.
Também existe um conflito subjacente entre intelectualismo e anti-intelectualismo. Mesmo aqueles que são conhecidos por lutar contra o anti-intelectualismo frequentemente cometem esse erro, isto é, argumentar de uma perspectiva pragmática, ou pensar que a sabedoria bíblica é principalmente prática. Por outro lado, não podemos rejeitar a teoria pragmática apenas para justificar um currículo mais amplo. Se fizermos isso, ainda seremos movidos pelo pragmatismo, só que mudamos o propósito da educação de necessidade profissional para amplitude intelectual. Aqui também notamos que a filosofia do pragmatismo não nos diz qual objetivo selecionar. A teoria não pode escolher o propósito correto da educação. Ele é escolhido arbitrariamente ou por algum outro padrão que não seja pragmático. Assim, mesmo o pragmatista não pode fazer do pragmatismo a base do currículo. Ele tem algum outro padrão, alguma outra agenda.
A cosmovisão cristã é a única base válida para a educação. Um modelo bíblico é impulsionado pelo valor intrínseco do conhecimento, e não por preocupações pragmáticas. Há valor em aprender em si mesmo, em conhecer em si mesmo. A aplicação mais importante deste princípio pertence ao conhecimento teológico e bíblico. O conhecimento sobre Deus é valioso em si mesmo, um tesouro que ele oferece apenas aos seus escolhidos (João 15:15), a quem ele chama de seus amigos. E é claro que seus amigos fariam o que ele manda, colocando em prática o que ele revelou a eles. Por outro lado, a filosofia pragmática que tanto infectou o pensamento cristão considera a revelação de Deus como algo que é apenas para prática e obediência — algo para ser usado — e não um tesouro inestimável em si mesmo. Isso é humilhante para Deus, para a Escritura e para o conhecimento e a educação.
Portanto, eu me oponho ao clichê de que nunca devemos estudar “teologia pela teologia”. É claro que devemos estudar teologia pela teologia! A teologia é uma compreensão sistemática e coerente da autorrevelação de Deus, de forma que negar seu valor inerente é cuspir na face de Deus. Seus pensamentos são maravilhosos, intrigantes e hipnotizantes. A perspectiva pragmática rejeitou a beleza inerente da revelação divina e do conhecimento. É claro que devemos implementar essa revelação em nossas vidas, e devemos obedecer a seus mandamentos — eu afirmo isso com mais força do que os eruditos pragmáticos. O erro está em pensar que só porque algo se destina a ser colocado em prática é, portanto, algo que não tem valor inerente, ou que seu valor está apenas em seus efeitos pretendidos.
Vincent Cheung. Pragmatism and the Curriculum. Disponível em Blasphemy and Mystery (2007), pp. 62–63. Tradução: Luan Tavares.
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