O Interruptor para Desligar Westminster
Quando os israelitas foram mordidos por cobras venenosas, Deus instruiu Moisés a fazer uma serpente de bronze e a colocasse num poste, e, quando aqueles que foram mordidos pelas cobras olhassem para ela, seriam curados (Números 21:4–9). Esse objeto não tinha poder para curar as pessoas, mas simbolizava a expiação vindoura de Cristo, que se tornaria uma maldição na cruz para salvar seu povo.
Contudo, os israelitas fizeram da serpente de bronze um ídolo e queimaram incenso até o tempo de Ezequias. Era um mero símbolo, e o rei foi elogiado por destruí-la (2 Reis 18:1–4). Se um símbolo se torna mais do que um símbolo na mente das pessoas e começa a ocupar um lugar com Deus ou toma o lugar de sua palavra, então seria melhor destruir o símbolo para que as pessoas possam olhar para a realidade novamente.
Se deveríamos destruir algo que o próprio Deus ordenou por revelação sobrenatural a fim de preservar a adoração bíblica, quanto mais deveríamos destruir algo que Deus nunca ordenou, ou na melhor das hipóteses, algo que ele providenciou por meio da providência comum, a fim de preservar a doutrina bíblica?
A Confissão de Fé de Westminster contém uma declaração que praticamente funciona como um interruptor que desliga o credo: “Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares, podem errar, e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa” (CFW XXXI.III). Estamos nos focando na CFW porque as pessoas a usam contra nós, como se tivéssemos que nos curvar a ela como eles fazem, mas várias outras confissões históricas contêm uma linguagem similar (por exemplo, Os Trinta e Nove Artigos da Religião, XXI).
A declaração refere-se a “todos os concílios”, por isso deve incluir a própria CFW. Aplica-se “desde os tempos dos apóstolos”, de modo que a questão se estende desde o início, sem exceção. É possível que todos os concílios errem, e acrescenta, “e muitos têm errado”. Muitos. Isso significa que o erro não é apenas possível, mas é provável. Novamente, isso inclui a própria CFW e todos os outros credos. Portanto, a CFW continua afirmando que esses concílios “não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa” (veja também CFW I.X e XX.II).
A menos que eles fossem mentirosos, os autores nunca pretenderam que a CFW fosse uma regra de fé, mas apenas um auxílio. É uma mera ferramenta. Ela nunca foi concebida para ser um padrão autorizado. Se eles sugerissem o contrário em outro lugar, então estariam se contradizendo e cometendo aquilo que a CFW XXXI.III menciona. De fato, dentro da CFW, encontramos o que poderia ser uma declaração autodestrutiva mesmo em nosso presente tópico. É irônico que aqueles que praticamente colocam a CFW no mesmo patamar da Bíblia não levem a CFW XXXI.III a sério. Eles pegam tudo o que ela diz como Escritura, mas não aplicam a CFW XXXI.III à própria CFW. Portanto, eles são duplamente hipócritas. Assim como são seletivos sobre o que aceitam da Bíblia, eles também são seletivos sobre o que afirmam da CFW. Eles acreditaram em tudo o que quiseram todo esse tempo, e usaram a Bíblia e a CFW apenas para se justificar.
Quando estamos em desacordo com a CFW — tal como com sua heresia cessacionista, reprovação passiva, pacto de obras, liberdade e contingência de causas secundárias, misticismo no batismo e na comunhão, e assim por diante — eles devem admitir que é possível que o credo esteja errado, caso em que a discussão retornaria ao que a Bíblia diz, e é possível que algumas partes da CFW sejam completamente deturpadas, ou eles devem insistir que é impossível o credo errar, em cujo caso a própria CFW XXXI.III estaria errada, o que realmente mostraria que a CFW XXXI.III está correta, de modo que a CFW e seus seguidores se destruiriam mutuamente.
Se os autores foram sinceros — se não agiram fraudulentamente — então eu acho que eles iriam lamentar ao ver como eles se esforçaram para fornecer um “auxílio” e as pessoas a usaram como uma “regra” para suplantar a própria Escritura. Ora, se sua religião não progrediu além de 2 Reis, como você se atreve a me desafiar sobre Mateus, Marcos, Lucas e João? Eu conheço seu próprio credo melhor do que você, e de certo modo, o respeito mais do que você.
Os autores estavam preparados para lidar com idólatras como você. Mesmo que a declaração não tenha como objetivo principal desligar a CFW, ela pode funcionar como um interruptor quando as pessoas fazem do credo uma regra em vez de uma mera ferramenta, já que ela declara que o concílio de Westminster pode estar errado. É claro que, mesmo se nunca houvesse um interruptor para desligá-la, a Bíblia nos concede a autoridade para desligar a coisa toda. Arrependa-se e volte para Deus. Retorne ao evangelho de Jesus Cristo. Se o credo se tornou um ídolo, desligue o interruptor. Se você não fizer isso, eu posso sempre desligar para você.
Vincent Cheung. The Westminster Kill Switch. Disponível em Fulcrum (2017), pp. 54–55. Tradução: Luan Tavares (06/11/2018).