O Interruptor para Desligar Westminster

As Obras de Vincent Cheung
4 min readNov 19, 2020

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Assertion of Liberty of Conscience by the Independents of the Westminster Assembly of Divines (1847), de J. R. Herbert (1810–1890).

Quando os israelitas foram mordidos por cobras venenosas, Deus instruiu Moisés a fazer uma serpente de bronze e a colocasse num poste, e, quando aqueles que foram mordidos pelas cobras olhassem para ela, seriam curados (Números 21:4–9). Esse objeto não tinha poder para curar as pessoas, mas simbolizava a expiação vindoura de Cristo, que se tornaria uma maldição na cruz para salvar seu povo.

Contudo, os israelitas fizeram da serpente de bronze um ídolo e queimaram incenso até o tempo de Ezequias. Era um mero símbolo, e o rei foi elogiado por destruí-la (2 Reis 18:1–4). Se um símbolo se torna mais do que um símbolo na mente das pessoas e começa a ocupar um lugar com Deus ou toma o lugar de sua palavra, então seria melhor destruir o símbolo para que as pessoas possam olhar para a realidade novamente.

Se deveríamos destruir algo que o próprio Deus ordenou por revelação sobrenatural a fim de preservar a adoração bíblica, quanto mais deveríamos destruir algo que Deus nunca ordenou, ou na melhor das hipóteses, algo que ele providenciou por meio da providência comum, a fim de preservar a doutrina bíblica?

A Confissão de Fé de Westminster contém uma declaração que praticamente funciona como um interruptor que desliga o credo: “Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares, podem errar, e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa” (CFW XXXI.III). Estamos nos focando na CFW porque as pessoas a usam contra nós, como se tivéssemos que nos curvar a ela como eles fazem, mas várias outras confissões históricas contêm uma linguagem similar (por exemplo, Os Trinta e Nove Artigos da Religião, XXI).

A declaração refere-se a “todos os concílios”, por isso deve incluir a própria CFW. Aplica-se “desde os tempos dos apóstolos”, de modo que a questão se estende desde o início, sem exceção. É possível que todos os concílios errem, e acrescenta, “e muitos têm errado”. Muitos. Isso significa que o erro não é apenas possível, mas é provável. Novamente, isso inclui a própria CFW e todos os outros credos. Portanto, a CFW continua afirmando que esses concílios “não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa” (veja também CFW I.X e XX.II).

A menos que eles fossem mentirosos, os autores nunca pretenderam que a CFW fosse uma regra de fé, mas apenas um auxílio. É uma mera ferramenta. Ela nunca foi concebida para ser um padrão autorizado. Se eles sugerissem o contrário em outro lugar, então estariam se contradizendo e cometendo aquilo que a CFW XXXI.III menciona. De fato, dentro da CFW, encontramos o que poderia ser uma declaração autodestrutiva mesmo em nosso presente tópico. É irônico que aqueles que praticamente colocam a CFW no mesmo patamar da Bíblia não levem a CFW XXXI.III a sério. Eles pegam tudo o que ela diz como Escritura, mas não aplicam a CFW XXXI.III à própria CFW. Portanto, eles são duplamente hipócritas. Assim como são seletivos sobre o que aceitam da Bíblia, eles também são seletivos sobre o que afirmam da CFW. Eles acreditaram em tudo o que quiseram todo esse tempo, e usaram a Bíblia e a CFW apenas para se justificar.

Quando estamos em desacordo com a CFW — tal como com sua heresia cessacionista, reprovação passiva, pacto de obras, liberdade e contingência de causas secundárias, misticismo no batismo e na comunhão, e assim por diante — eles devem admitir que é possível que o credo esteja errado, caso em que a discussão retornaria ao que a Bíblia diz, e é possível que algumas partes da CFW sejam completamente deturpadas, ou eles devem insistir que é impossível o credo errar, em cujo caso a própria CFW XXXI.III estaria errada, o que realmente mostraria que a CFW XXXI.III está correta, de modo que a CFW e seus seguidores se destruiriam mutuamente.

Se os autores foram sinceros — se não agiram fraudulentamente — então eu acho que eles iriam lamentar ao ver como eles se esforçaram para fornecer um “auxílio” e as pessoas a usaram como uma “regra” para suplantar a própria Escritura. Ora, se sua religião não progrediu além de 2 Reis, como você se atreve a me desafiar sobre Mateus, Marcos, Lucas e João? Eu conheço seu próprio credo melhor do que você, e de certo modo, o respeito mais do que você.

Os autores estavam preparados para lidar com idólatras como você. Mesmo que a declaração não tenha como objetivo principal desligar a CFW, ela pode funcionar como um interruptor quando as pessoas fazem do credo uma regra em vez de uma mera ferramenta, já que ela declara que o concílio de Westminster pode estar errado. É claro que, mesmo se nunca houvesse um interruptor para desligá-la, a Bíblia nos concede a autoridade para desligar a coisa toda. Arrependa-se e volte para Deus. Retorne ao evangelho de Jesus Cristo. Se o credo se tornou um ídolo, desligue o interruptor. Se você não fizer isso, eu posso sempre desligar para você.

Vincent Cheung. The Westminster Kill Switch. Disponível em Fulcrum (2017), pp. 54–55. Tradução: Luan Tavares (06/11/2018).

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Written by As Obras de Vincent Cheung

Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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