O Conhecimento Inato do Homem
Vincent Cheung, “Captive to Reason” (2009).¹
Eu afirmo que o homem tem um conhecimento inato de Deus, com clareza e conteúdo suficientes para que ele não tenha desculpa para negar ou desobedecer a Deus. No entanto, eu nego que um sistema de teologia possa ser fundamentado ou derivado do nosso conhecimento inato de Deus. Para dizer de outra forma, eu nego que nosso conhecimento inato de Deus possa ser o primeiro princípio de uma cosmovisão bíblica — não há conteúdo, clareza e objetividade insuficientes, entre outras razões.
É por isso que nunca apelo à intuição para justificar qualquer parte de minha teologia ou para fazer apologética. Uma compreensão precisa do conteúdo e da extensão de nosso conhecimento inato de Deus vem da revelação verbal em primeiro lugar. Em outras palavras, embora eu afirme que temos um conhecimento inato de Deus, não baseamos nossa fé e segurança ou nossa teologia e apologética neste conhecimento inato; em vez disso, devemos basear essas coisas na revelação verbal.
De fato eu me refiro ao conhecimento inato do homem em meus escritos, mas nunca faço isso como se a verdade do Cristianismo repousasse nisso como seu fundamento, ou como se esse conhecimento inato fosse em si uma prova de que o Cristianismo é verdadeiro. Caso contrário, isso se tornaria um apelo à intuição do homem, e o argumento se tornaria subjetivo. Em vez disso, eu apelo a esse conhecimento inato apenas para explicar por que as pressuposições bíblicas não são negadas na prática, mas são implicitamente assumidas até mesmo pelos incrédulos, e para explicar em que sentido temos um terreno comum ou um ponto de contato com os incrédulos ao pregar o evangelho para eles.
Eu afirmo que a Escritura é logicamente inegável, mas quando digo que o conhecimento inato do homem é inegável, a ênfase não está na inegabilidade lógica da Escritura, mas quero dizer que algumas premissas bíblicas centrais não podem ser negadas na prática, apesar da alegação dos incrédulos em contrário. Assim, nos referimos ao conhecimento inato do homem não para provar a Escritura — ao contrário, é a Escritura que prova o conhecimento inato — mas apenas para explicar por que podemos nos comunicar com os incrédulos.
Quando falamos do conhecimento inato de Deus no contexto da apologética, estamos considerando o aspecto estratégico da apologética, e não o aspecto estritamente racional. Que a Escritura é logicamente inegável é demonstrado pelo envolvimento com o conteúdo da própria Escritura, e não pelo conhecimento inato do homem.
Algumas pessoas deixam de notar essa distinção em meus escritos, ou pensam erroneamente que eu não faço essa distinção, então elas falsamente me acusam de ser incoerente neste ponto, como se eu rejeitasse a intuição como base para o conhecimento, mas então apelo a ela de modo algum. Em vez disso, em meu sistema de teologia e apologética, se não pelo fato de que a Escritura o ensina, eu posso jogar fora o conhecimento inato do homem e ele permanecerá essencialmente inalterado, uma vez que não depende do conhecimento inato do homem, embora alguns ajustes práticos sejam necessários.
Os pecadores suprimem esse conhecimento inato de Deus que está escrito no coração de cada homem. Embora seja suprimido a ponto de ser negado, ainda é chamado de conhecimento. A explicação é que só porque uma pessoa sabe algo, não significa que ela pensa conscientemente sobre isso o tempo todo. No entanto, se uma pessoa sabe algo, isso implica que pode ser lembrado.
Isso tem semelhanças com o que as pessoas querem dizer quando se referem à memória “reprimida”, embora eu desconfie das implicações que podem advir do uso da palavra. A Escritura ensina que os pecadores conhecem a Deus em suas mentes, mas eles, de uma forma moralmente culpável, suprimiram ou reprimiram esse conhecimento.
Na regeneração e na conversão, o pecador eleito é despertado de seu sono intelectual e moral, e para a luz de Cristo e da Verdade: “Mas, tudo o que é exposto pela luz torna-se visível, pois a luz torna visíveis todas as coisas. Por isso é que foi dito: ‘Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo resplandecerá sobre ti’” (Efésios 5:13–14).
━━━━━━━━━━━━━━━
¹ A seguir está uma resposta editada a uma pergunta. Para mais informações sobre o conhecimento inato do homem sobre Deus e suas implicações e usos, consulte Vincent Cheung, Systematic Theology, Ultimate Questions e Presuppositional Confrontations.
Vincent Cheung. Man’s Innate Knowledge. Disponível em Captive to Reason (2009), pp. 47–48. Tradução: Luan Tavares (08/05/2021).
━━━━━━━━━//━━━━━━━━
© Vincent Cheung. A menos que haja outra indicação, as citações bíblicas usadas neste artigo pertencem à BÍBLIA SAGRADA, NOVA VERSÃO INTERNACIONAL ® NVI ® Copyright © 1993, 2000, 2011 de Sociedade Bíblica Internacional. Todos os direitos reservados.