O Arminianismo Interior
Vincent Cheung, “Blasphemy and Mystery” (2007).
Eu tenho pensado sobre Hebreus 6:4–6, e ainda estou lutando para ser mais imparcial com ele… Eu lembro que você falou sobre esses versículos, mas ainda estou tendo dificuldades…
Além das minhas próprias observações, há vários comentários que abordam adequadamente Hebreus 6. É bom ler e revisá-los. Depois disso, a luta não está em alcançar precisão exegética da passagem, mas sim em você que ainda tende a ler Hebreus 6 como um arminiano — como um rebelde egocêntrico — quando não há justificativa para isso.
Considere o exemplo de João 3:16. Ele diz que todo aquele que crê não perece, mas tem a vida eterna— que tanto o calvinismo quanto o arminianismo afirmam, mas não diz quem crerá ou por que crerá. Assim, o versículo afirma somente a salvação pela fé e não tem relevância para o desacordo entre o calvinismo e o arminianismo, até que você traga outras passagens bíblicas para a discussão.
No entanto, algumas pessoas leem João 3:16 como arminianas, e assim acham que a passagem prova o arminianismo. Elas tomam as palavras “todo aquele que crê” para significar algo deveras diferente como “Todo homem tem livre-arbítrio, e qualquer um pode, por seu livre-arbítrio, crer em Cristo à parte da preordenação e do controle direto de Deus”. Eu também poderia deduzir todo o Alice no País das Maravilhas quando alguém diz “Bom dia” ou “Tenha um bom dia”. O mesmo acontece com a palavra “mundo” nesse versículo. De alguma forma, elas acham que isso deve se referir a todos os indivíduos em toda a história humana.
Da mesma forma, Hebreus 6 diz que quem tem os itens listados e depois se desvia da fé não poderá se arrepender novamente. Como é isto o que está escrito, então é isso que significa. Podemos discutir se esses itens definem completamente um crente. Poderíamos argumentar a partir do exemplo de Judas, que exerceu os próprios poderes do mundo vindouro, mas Jesus sabia desde o princípio que ele era “um diabo”. Ele nunca foi verdadeiramente convertido.
No entanto, até mesmo esta discussão é desnecessária, uma vez que é irrelevante para o ponto principal da passagem. Mesmo se a passagem descreve um crente, um crente realmente se desvia? Isso já aconteceu? A passagem não diz. A única menção a esse tópico aponta para a outra direção: “Amados, mesmo falando dessa forma, estamos convictos de coisas melhores em relação a vocês, coisas próprias da salvação” (v. 9). O escritor está convencido de que esses leitores originais não sofreriam o destino que ele descreve. Assim, a passagem não pode apoiar o arminianismo, visto que não é nem mesmo relevante.
Eu poderia dizer: “Se Deus morrer, então a terra também desaparecerá”, ou algo nesse sentido. A afirmação é verdadeira. Mas isso acontecerá? É mesmo possível? Seria pura loucura inferir da afirmação: “Portanto, é possível que Deus morra”. A afirmação definitivamente não aborda o tópico.
Agora, poderíamos argumentar que as palavras “se Deus morrer” contêm um erro categórico, tornando a frase sem sentido, mas fora isso, a afirmação faz um ponto importante, que Deus é o sustentador de todas as coisas, e que todas as coisas dependem continuamente dele. É isso que ela implica, mas não se pode concluir mais a menos que se faça pela força. Da mesma forma, a passagem de Hebreus faz um ponto importante, mas não o ponto que o arminiano deseja concluir dela.
Parte da dificuldade em confrontar o arminianismo, então, é superar seu próprio arminianismo — o que quer que permaneça em seu coração.
Vincent Cheung. Blasphemy and Mystery (2007), pp. 51–52. Tradução: Luan Tavares (10/02/2019).
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