O Ad Hominem Hitler
Outro dia eu estava conversando com alguém no trabalho, e ele me disse que ninguém deveria julgar a crença ou religião de outra pessoa. Em resposta, eu disse que, se fosse esse o caso, Hitler estava justificado no que fez. Ele respondeu que Hitler acreditava que estava certo, então para ele era certo. Por favor, comente sobre isso.
Uma pessoa deve ser cuidadosa quando tenta reduzir a posição de seu oponente ao absurdo ou deduzir da posição uma implicação que mesmo seu oponente não aceitará. Chamamos isso de argumento ad hominem, isto é, um ad hominem lógico em vez de um ad hominem de ataque pessoal irrelevante. Quando usado incorretamente, a tática pode sair pela culatra.
É melhor reduzir a posição do oponente ao absurdo lógico do que apenas ao absurdo cultural. Você pode revelar as implicações de uma posição tal que alguém de um fundo ou cultura particular consideraria isso absurdo e, portanto, inaceitável, mas isso não refuta a posição. Isso nos diz algo sobre a pessoa e sua cultura, mas a posição em si não é afetada. Apenas algo que é logicamente absurdo é verdadeiramente errado, refutado e indefensável.
Se limitarmos a discussão a um contexto restrito, excluindo premissas bíblicas ou qualquer outro padrão moral, então não há nada logicamente absurdo no que Hitler fez ou na posição de que o que ele fez poderia ser considerado correto. Então, se você pressionar uma posição apenas até um ponto em que ela é culturalmente inaceitável, então o argumento sai pela culatra quando seu oponente rompe com a cultura e a aceita mesmo assim.
Você nunca deve aceitar um ad hominem, ou dar a impressão que você o aceitou. Aceitar um ad hominem pode significar que você realmente não tem nenhuma razão positiva para sua fé. Então, se você der a impressão de estar aceitando um ad hominem e sair pela culatra, seu oponente vai pensar que ele surpreendeu você e que agora ele tem a vantagem.
Ao pregar o evangelho e defender a fé, é insuficiente mostrar apenas que você está menos errado. Você deve mostrar que está certo e que seu oponente está errado. Mesmo um ad hominem que mostra um absurdo lógico em seu oponente pode provar apenas que ele está errado. E um ad hominem que mostra o absurdo cultural, se funciona no oponente, pode provar apenas que ele é inconsistente. Isso nem sequer mostra que a posição dele básica está errada.
Quando usado cuidadosamente e corretamente, um ad hominem pode ser um modo efetivo de iniciar uma conversa, desorientar seu oponente no debate ou, às vezes, até mesmo refutar uma posição (sem necessariamente provar o contrário). Talvez o propósito mais importante e útil de um ad hominem seja conduzir o debate para as questões mais profundas da metafísica e da epistemologia. Estes são os propósitos pelos quais eu às vezes utilizaria argumentos ad hominem, mas eu insistiria que minha própria posição não depende deles, especialmente quando as conclusões desses argumentos não demonstram absurdos lógicos em meu oponente, ou quando refutando sua posição desse modo não prova a minha.
Dado o ponto de vista do seu oponente, a resposta dele estava correta, no sentido de que ele foi consistente com o que disse. A menos que haja um padrão moral absoluto, não há justificativa racional para condenar Hitler. Então você não pode dizer que, porque condenamos Hitler, deve haver um padrão absoluto — isso reverte a ordem correta do raciocínio. Você pode suavizar isso e dizer que, porque condenamos Hitler, isso implica que acreditamos em um padrão absoluto. Mas se isso é efetivo ainda depende de como o seu oponente responde. Ele pode dizer que então estamos errados em ter um padrão, de modo que devemos abandoná-lo.
Você pode insistir que, sem um padrão absoluto, não podemos explicar princípios éticos. Seu oponente poderia responder que não devemos, portanto, ter princípios éticos. A partir daqui você ainda pode ganhar o debate, mas você já complicou muito as coisas. É inútil argumentar dizendo: “A menos que X seja verdadeiro, você não pode justificar Y”, a menos que X seja realmente verdade, e a menos que seja realmente necessário justificar Y. Assim, complicando o debate, sem provar ou refutar nada, você apenas adiou, pelo menos em um passo, a necessidade de discutir as questões reais, que dizem respeito à metafísica e à epistemologia.
Aqui também é onde o pseudo-pressuposicionalismo erra. Habitualmente ele exige que o oponente justifique as coisas que são inerentemente irracionais, que não podem e não devem ser defendidas em primeiro lugar. Então, ele alega que a cosmovisão bíblica pode justificá-la, mas nunca consegue mostrar como. Além disso, ele agrava o problema tornando o que é inerentemente irracional a condição prévia para conhecer a cosmovisão bíblica, e assim também se excluindo a partir dela. Então, no final, só se configura em outra escola de irracionalismo. Em contraste, reconhecemos que a cosmovisão bíblica é perfeitamente racional, de modo que exclui todas as coisas que não são. O que tiramos dos incrédulos não adotamos, mas jogamos fora.
Vincent Cheung. The Hitler Ad Hominem. Disponível em Blasphemy and Mistery (2007), pp. 10–11. Tradução: Luan Tavares (25/01/2019).