Granadas Emocionais e Soberania Divina
Desde o início faço conhecido o fim, desde tempos remotos, o que ainda virá. Digo: Meu propósito ficará de pé, e farei tudo o que me agrada. (Isaías 46:10)
Eu formo a luz e crio as trevas, promovo a paz e causo a desgraça; eu, o SENHOR, faço todas essas coisas. (Isaías 45:7)
Quando a trombeta toca na cidade, o povo não treme? Ocorre alguma desgraça na cidade, sem que o SENHOR a tenha mandado? (Amós 3:6)
A Bíblia ensina que Deus decreta, causa e controla todas as coisas. A soberania de Deus é ao mesmo tempo exaustiva e eficaz. Ele não apenas organiza todas as coisas para acontecer, mas faz com que todas as coisas aconteçam. Isso significa que ele é o autor do pecado, no sentido de que ele é a causa metafísica de pensamentos, decisões, ações e eventos que ele mesmo definiu como pecaminosos.
Embora a distinção deva ser óbvia, é importante apontar uma confusão comum. Dizer que Deus cria ou causa o pecado não é dizer que Deus comete ou aprova o pecado moralmente, isto é, aprova o pecado no sentido preceptivo. A Bíblia define o pecado como a transgressão da lei de Deus. Deus revelou sua definição de certo e errado para o pensamento e comportamento humanos, e fazer o que ele proíbe, ou deixar de fazer o que ele ordena, é pecar. Não há lei que diga que Deus não deve causar pecado; portanto, quando Deus causa o pecado, ele não comete ou aprova o pecado moralmente. Se nossa doutrina falha em afirmar que Deus ordena e causa pecado, então devemos admitir que rejeitamos a doutrina bíblica, que ele exerce poder total sobre todas as coisas.
Como esperado, há muitas tentativas de refutação. Mas o ensinamento é o que Deus revelou sobre si mesmo. Ele exige que acreditemos e, mais do que isso, que gostemos. Recusar-se a acreditar ou recusar-se a gostar é insultar sua natureza e caráter. É sugerir que há algo errado com ele. Insistir que ele não é assim é se recusar a aceitá-lo como ele é. Muitos cristãos acham difícil aceitar a Deus como ele é. Esta é apenas outra maneira de dizer que não gostam dele. E mesmo aqueles que exaltam sua soberania colocam um limite sobre ele, e o repreende para que ele não afirme sua soberania direta longe demais, até mesmo ao reino do pecado e do mal. Mas nós somos de uma geração diferente. Afirmamos que a soberania de Deus é exaustiva e eficaz, e se estende a todas as coisas, mesmo ao pecado e ao mal. Ele nos ensina isso. Nós acreditamos nisso e gostamos disso.
Uma das tentativas contra a doutrina se apresenta desta forma: “Se Deus ordena e causa todas as coisas, então isso também se aplica ao estupro de uma criança”. Se isto é declarado como uma observação ou uma pergunta retórica, não há argumento aqui que compele uma resposta que é mais do que um simples “Sim”. Se Deus ordena e causa todas as coisas, então é claro que isso se aplica ao estupro de uma criança ou a cinco bilhões de crianças. Não há refutação.
Esta é uma granada emocional. Seu poder está no sentimento popular de que o bem-estar das crianças é um dos princípios supremos sob os quais todas as outras coisas são subservientes. Neste caso, a granada é lançada contra a honra e o poder de Deus. Mesmo assim, é uma granada emocional que tem uma chance considerável de sucesso, porque até mesmo aqueles que se chamam cristãos colocariam avidamente o bem-estar dos filhos muito acima de sua reverência a Deus. Estes são, evidentemente, maus cristãos. Mas há muitos maus cristãos. De fato, muitas pessoas colocariam seus animais de estimação acima de sua religião. Assim, pode-se esperar sucesso com: “Se Deus ordena e causa todas as coisas, então isso também se aplica à indigestão do seu cão”. Com isso, não me surpreenderia nem um pouco se alguém abandonasse a doutrina da soberania divina e se recuasse a um teísmo finito, ou se voltasse contra Deus por ferir seu cachorrinho inocente.
Não devemos nos afastar da doutrina bíblica, mas devemos avançar e atacar aqueles que buscam minar a glória de Deus e fazê-los lamentar sua insolência. Em vez de absorver o golpe do adversário, devemos pegar a granada e jogá-la de volta na cara dele.
A Bíblia diz que até mesmo a crucificação de Cristo foi preordenada por Deus (Atos 2:23, 4:28), e que “foi da vontade do SENHOR esmagá-lo e fazê-lo sofrer” (Isaías 53:10). O estupro de uma criança é realmente terrível. Qualquer um que cometer tal crime deve ser executado. Mas até mesmo o estupro de uma criança, ou quinze trilhões de crianças, ainda é insignificante comparado à vergonha e ao sofrimento que o Cristo Divino teve que suportar. Você não consegue ver que, se ficar ofendido com isso, ou mesmo um pouco desconfortável, isso diz algo sobre você? Isso me diz que você valoriza mais as crianças do que a Deus e do que a Jesus Cristo. Seus valores são centrados no homem.
Somos apenas pó e devemos continuamente agradecer que nos é permitido viver. Mas o Altíssimo ordenou e fez com que seu próprio Filho, uma pessoa de infinita glória e valor, visitasse os pecadores e recebesse insultos, perseguições e até mesmo a morte pelas mãos deles. Se o oponente ignora isso, isso o expõe como incompetente. Se ele assumir que nos importamos mais com a criança, então ele supõe que somos maus cristãos. Em muitos casos, ele estaria no alvo, mas não desta vez. E mesmo que alguns tropecem nisso, isso ainda não refuta a doutrina, mas significa apenas que o oponente descobriu alguns maus cristãos. E se o oponente afirma ser um cristão, então ele se expôs como um mau cristão. Ele se importa mais com uma criança do que com o Senhor Jesus.
Vincent Cheung. Emotional Grenades and Divine Sovereignty, disponível em Sermonettes — Volume 2, pp. 76–77. Traduzido por Luan Tavares em 20/08/2018.
Sobre o autor: Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos.
Site oficial: https://www.vincentcheung.com/