Fracos, Doentes e Mortos
Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se cada um a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor come e bebe para sua própria condenação. Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram. Mas, se nós tivéssemos o cuidado de examinar a nós mesmos, não receberíamos juízo. Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo. (1 Coríntios 11:27–32)
Para entender o que significa pecar contra o corpo e o sangue do Senhor, precisamos compreender a natureza da Ceia do Senhor.
Várias tradições humanas dizem que mesmo que o pão e o vinho não sejam o corpo e o sangue reais de Jesus, há pelo menos uma presença “real” ou “espiritual” associada aos itens. O que isso significa nunca foi declarado em termos inteligíveis e defensáveis. A doutrina é absurda e representa uma ruptura incompleta com a abominação do Catolicismo.
Não há indicação bíblica de que o corpo, sangue ou presença de Jesus esteja associado aos elementos do pão e do vinho em qualquer sentido literal, físico, espiritual, místico ou especial. E não há indicação de que participar da Ceia do Senhor é “alimentar-se” de Cristo.
João 6 se refere a se alimentar da carne e do sangue de Cristo, mas não há referência à Ceia do Senhor, e há razões para excluir a Ceia do Senhor do seu contexto. Primeiro, Jesus estava se dirigindo a pessoas que não teriam entendido uma referência a uma ordenança que ele ainda não havia instituído. Segundo, ele estava falando sobre a salvação. É impossível que, para alcançar a salvação, Jesus exigisse a participação em uma ordenança que ainda não havia instituído. E, de fato, o ensino bíblico é que uma pessoa alcança a salvação antes de participar da Ceia do Senhor, e não que ela alcança a salvação porque participa dela. Terceiro, o contexto enfatiza ouvir e crer em suas palavras, de modo que comer sua carne e beber seu sangue são melhor entendidos como metáforas para a fé e para a aceitação das suas doutrinas.
Com João 6 fora do caminho, reafirmamos o fato de que não há indicação bíblica de que a Ceia do Senhor é para alguém “se alimentar” de Cristo para nutrição espiritual. Em vez disso, todas as outras passagens que se referem ao tópico, incluindo nosso texto de 1 Coríntios 11, representam a Ceia do Senhor como um memorial para o sacrifício que Jesus fez para nos salvar e os elementos como meros símbolos de seu corpo e sangue.
Quando um item é um símbolo claro e conhecido de uma pessoa, insultar o símbolo é insultar a pessoa. Suponha que alguém grite o nome de Jesus e diga blasfêmia contra ele. Nenhum elemento físico distinto está envolvido, mas ele pecou por ter insultado verbalmente o Senhor. Agora, suponha que alguém escreva o nome de Jesus em um pedaço de papel, jogue-o no chão e cuspa nele. O pedaço de papel não está associado à presença de Jesus em nenhum sentido especial, e escrever e cuspir em si não são atos pecaminosos. Mas essa pessoa cometeu blasfêmia contra o Senhor, como se o tivesse insultado verbalmente, porque transformou o pedaço de papel em um símbolo de Jesus e depois o insultou.
Embora o pão e o vinho sejam meros símbolos, e nada mais do que símbolos, eles são, no entanto, símbolos do corpo e sangue de Jesus Cristo. Portanto, quando alguém desrespeita esses símbolos, principalmente sabendo que são símbolos do Senhor, ele insulta o corpo e o sangue do Senhor, como se blasfemasse verbalmente. Os coríntios desrespeitaram o corpo e o sangue do Senhor, pois se tornavam desordenados e bêbados quando deveriam se reunir e lembrar de Jesus Cristo. Eles pecaram contra o corpo e sangue do Senhor.
Como resultado, Paulo disse que muitos deles estavam fracos, doentes e até mortos. Esta não foi a consequência natural ou passiva do comportamento deles, mas o julgamento ativo e deliberado de Deus. Paulo não disse que Satanás infligiu isso a eles ou que Deus simplesmente removeu sua proteção deles. Ele disse que se julgarmos a nós mesmos, Deus não nos julgará. Quando julgamos a nós mesmos, não somos passivos e não apenas removemos a proteção de nós mesmos. Nós nos confrontamos, criticamos e nos corrigimos. Fazemo-nos mudar para que pensemos e nos comportemos de maneira diferente.
Se nos recusarmos a fazer isso, então Deus o fará, e isso é algo ativo e deliberado que ele faz: “Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados”. Portanto, muitos dos coríntios estavam fracos, doentes e mortos, porque Deus os tornou fracos, enfermos e mortos. E Deus não fez isso apenas para alguns deles, mas muitos deles. Portanto, aqui está o ensino apostólico: Deus faria as pessoas adoecerem e até mesmo as mataria por desrespeitar Jesus Cristo.
O pecado deles não estava necessariamente ligado aos elementos da Ceia do Senhor, visto que existem muitas outras maneiras pelas quais as pessoas podem insultar o corpo e o sangue de Jesus. Há muitas outras maneiras pelas quais as pessoas podem incitar o Senhor à ira e convocar o julgamento sobre si mesmas. Devemos restaurar essa perspectiva ao ensinar e praticar a Fé Cristã. Deus está na igreja e no mundo. Ele está sempre observando e examinando e, embora seja paciente, não podemos supor que ele adia o julgamento para sempre. Se não nos julgarmos, ele nos disciplinará. É por isso que muitos do nosso povo estão fracos, doentes e mortos.
Vincent Cheung. Weak, Sick, and Dead. Disponível em Sermonettes — Volume 7 (2012), pp. 29–30. Tradução: Luan Tavares (14/01/2021).