Filipenses 3:10–4:1

Extraído de Commentary on Philippians (2014).

As Obras de Vincent Cheung
7 min readFeb 8, 2021

Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos.

Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.

Todos nós que alcançamos a maturidade devemos ver as coisas dessa forma, e, se em algum aspecto, vocês pensam de modo diferente, isso também Deus esclarecerá. Tão somente vivamos de acordo com o que já alcançamos.

Irmãos, sigam unidos o meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão que apresentamos a vocês. Pois, como já disse repetidas vezes, e agora repito com lágrimas, há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o seu deus é o estômago, e eles têm orgulho do que é vergonhoso; só pensam nas coisas terrenas. A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso.

Portanto, meus irmãos, a quem amo e de quem tenho saudade, vocês que são a minha alegria e a minha coroa, permaneçam assim firmes no Senhor, ó amados!

O legalismo não é o único inimigo da justificação pela fé. Muitas pessoas rejeitaram ou distorceram a doutrina de outra maneira, de modo que interpretaram a justificação pela fé como uma licença para pecar impunemente. Isso é “iniquidade” ou antinomianismo. Os que promovem essa heresia raciocinam falsamente: “Se a justificação depende da graça de Deus e não das minhas obras, e se a graça de Deus sempre excederá minha maldade, isso significa que posso pecar o quanto quiser e ainda serei salvo”.

Paulo antecipa esse abuso e responde: “Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma!” (Romanos 6:1–2). Mas porque não? Ele explica: “Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?” (v. 2). Isso é o que torna o antinomianismo inconsistente com a justificação pela fé — algo nos acontece na conversão que torna impossível continuarmos em uma vida de pecado. A Escritura diz que fomos “regenerados” (Tito 3:5), que “nascemos de novo” (João 3:3). João escreve: “Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus” (1 João 3:9).

Paulo diz que os cristãos “morreram para o pecado” e que “o pecado não os dominará” (Romanos 6:14). Ele explica que, uma vez que a graça nos libertou de sermos escravos do pecado, devemos parar de obedecê-lo. Mas a graça não nos deixa ser nossos próprios senhores, porque nos tornou “escravos da justiça” (Romanos 6:18). Portanto, ele diz: “Assim como vocês ofereceram os membros do seu corpo em escravidão à impureza e à maldade que leva à maldade, ofereçam-nos agora em escravidão à justiça que leva à santidade” (Romanos 6:19). Em vez de levar ao antinomianismo, a justificação pela fé leva a um estilo de vida justo e torna o antinomianismo impossível.

Quando Deus salva alguém, ele o regenera mudando sua disposição interior de amor à maldade para amor à justiça, de amor a si mesmo para amor a Cristo, e de rebeldia a Deus para obediência a Deus. Então, Deus concede a essa pessoa fé no evangelho de Cristo e, com base nisso, Deus a justifica em Cristo. A partir de então, embora esse crente possa tropeçar ao trilhar o caminho da salvação, seu estilo de vida se tornou de uma busca feroz pelo conhecimento bíblico e santidade. Ele nasceu de Deus e age como tal (1 João 3:9). Nossa regeneração e justificação não apenas mudam nossa posição diante de Deus, mas nos mudam no nível mais profundo de nossa consciência, produzindo uma mentalidade e um estilo de vida piedosos.

A graça produz desejo piedoso no crente. Paulo diz aos filipenses que ele deseja conhecer a Cristo. Claro, Paulo já conhece a Cristo, mas ele quer conhecê-lo cada vez melhor. Ele deseja saber mais sobre o poder de Cristo que está operando nele para produzir maior conhecimento e santidade (Efésios 1:16–23, 3:16–21). Ele está ansioso para participar mais profundamente do sofrimento de Cristo e passar por dificuldades por causa do evangelho, “tornando-[se] como ele em sua morte” e chegar à ressurreição dos mortos.[37]

A graça produz humildade no crente. Paulo admite que ainda não atingiu a perfeição. Mas a mesma graça que o salva e o humilha também lhe dá o impulso e o zelo para buscar essa perfeição em Cristo. Em vez de ficar satisfeito consigo mesmo ou desanimado, Paulo diz que prossegue “para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus”. Se você é cristão, foi Cristo quem o prendeu. Não pense que foi você quem iniciou seu relacionamento com ele, ou que de alguma forma teve o bom senso de aceitar o evangelho por seu próprio “livre-arbítrio”. Você é cristão hoje porque Deus o escolheu, não porque você o escolheu (João 15:16). Você o ama hoje porque ele primeiro decidiu amar você, e colocou seu amor em você para que você pudesse amá-lo e aos outros (Romanos 5:5).

Ele não escolheu salvá-lo para que continuasse pecando impunemente, mas designou você para produzir frutos que durarão (João 15:16; Filipenses 1:11). Como diz Paulo, Cristo se apoderou de você para que você, por sua vez, se apoderasse de algo. Depois de Paulo ter sido justificado, e de fato porque ele foi justificado, ele prossegue, a fim de que se torne perfeitamente santificado. Seu foco é avançar e seguir em frente, e não na expectativa de perfeição sem pecado nesta vida, o qual ele não alcançou depois de todos esses anos.

No entanto, ele se recusa a buscar a santificação de maneira indiferente. Ele prossegue para a santificação, como se estivesse se esforçando para avançar em uma competição atlética. Ele não relaxa e diz: “Deixe Deus agir”. A justificação pela fé não exclui uma busca consciente e extenuante de conhecimento e santidade. Na verdade, se você não continuar assim, isso mostra que você não foi mudado por Cristo e nunca foi salvo. Portanto, nesta curta passagem, Paulo refuta o legalismo, antinomianismo, perfeccionismo e quietismo.

A graça transforma todo o estilo de vida do crente, de modo que, em contraste com aqueles que se preocupam com “coisas terrenas”, sua vida é caracterizada por pensamentos centrados em Deus e conversas centradas em Deus (Malaquias 3:16). Como Paulo escreve em outro lugar, “Quem vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja; mas quem vive de acordo com o Espírito tem a mente voltada para o que o Espírito deseja” (Romanos 8:5). “Todos nós que alcançamos a maturidade devemos ver as coisas dessa forma” e, em qualquer caso, “tão somente vivamos de acordo com o que já alcançamos”.

É verdade que Deus o salva somente pela fé independente das obras, mas se sua fé for real, você produzirá boas obras pelo poder e influência do Espírito em você. Se sua “fé” não resultar em uma transformação em seus pensamentos e ações, então você nunca foi salvo. Como Jesus avisa:

Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?” Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!

Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda. (Mateus 7:21–27)

Somente aqueles cuja “fé” produz obediência são verdadeiramente salvos, mas “muitos” (v. 22) estão enganados sobre sua condição espiritual, porque não entendem o evangelho ou porque suas mentes foram endurecidas contra ele. “Afaste-se da iniquidade todo aquele que confessa o nome do Senhor” (2 Timóteo 2:19).

Enfatizamos a importância da união em torno do evangelho e agora vemos que este evangelho tem um conteúdo muito específico. A união em torno do evangelho significa concordar com a justificação pela fé e rejeitar todas as distorções e aberrações. Então, com base nessa unidade teológica, prosseguimos para buscar a santificação completa. Embora pareça que nunca o alcançaremos nesta vida, esquecemos o que ficou para trás e avançamos para tomar posse daquilo para o qual Cristo nos garantiu. Não fazemos isso por nosso próprio poder, visto que não temos tal poder em nós mesmos (João 15:4–5), e não o fazemos para que possamos ser justificados diante de Deus. Em vez disso, buscamos a santificação porque já fomos justificados[38] e porque o poder de Deus agora opera em nós para produzir santificação. E ao fazermos isso, aumentaremos na certeza de nosso chamado e eleição (2 Pedro 1:10).

━━━━━━━━━━━━━━━
[37] “De alguma forma” no versículo 11 provavelmente se refere à sua incerteza sobre o tempo e as circunstâncias pelas quais ele chegará a esse ponto. É uma questão sobre a providência de Deus, e não sobre a posição de Paulo diante de Deus (Romanos 8:35–39).
[38] “Desde a queda, sempre foi ilegal usar a lei de Deus na esperança de estabelecer o próprio mérito e justificação pessoal. A salvação vem por meio da promessa e da fé; o empenho com a obediência é o estilo de vida da fé, um símbolo de gratidão pela graça redentora de Deus” (Greg L. Bahnsen em Five Views on Law and Gospel; Zondervan Publishing House, 1993, 1996; p. 141; editado por Wayne G. Strickland).

Vincent Cheung. Commentary on Philippians (2014), pp. 45–48. Tradução: Luan Tavares.

--

--

As Obras de Vincent Cheung
As Obras de Vincent Cheung

Written by As Obras de Vincent Cheung

Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

No responses yet