Filipenses 2:1–11
Extraído de Commentary on Philippians (2014).
Se por estarmos em Cristo nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão, completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude. Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.
Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus,
que, embora sendo Deus,
não considerou que o ser igual a Deus
era algo a que devia apegar-se;
mas esvaziou-se a si mesmo,¹
vindo a ser servo,
tornando-se semelhante aos homens.
E, sendo encontrado em forma humana,
humilhou-se a si mesmo
e foi obediente até a morte,
e morte de cruz!
Por isso Deus o exaltou à mais alta posição
e lhe deu o nome que está acima de todo nome,
para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho,
nos céus, na terra e debaixo da terra,
e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor,
para a glória de Deus Pai.
Os cooperadores do evangelho são unidos pelo evangelho. Eles se unem para promover uma mensagem e um propósito. Ao fazer isso, eles evidenciam que são de fato os escolhidos de Deus e, ao mesmo tempo, expõem todos aqueles que se opõem a eles como os condenados por Deus. No entanto, os hábitos pecaminosos obstinados permanecem nas pessoas mesmo após a conversão, e várias circunstâncias podem provocar o egoísmo restante deles para proteger seus próprios interesses, mesmo às custas dos outros e do evangelho, ameaçando assim a unidade dos cristãos.
Portanto, Paulo defende a abnegação, para que eles não percam de vista o que é importante e permaneçam firmes em sua unidade em torno do evangelho. A santificação bíblica não vem somente pela oração ou pela força de vontade, mas vem e cresce repetidamente, lembrando e persuadindo os crentes a obedecer aos preceitos de Deus e a seguir o exemplo de Cristo.
Por conseguinte, Paulo os lembra da participação comum deles no evangelho. Como ele enfatiza em outro lugar, existe apenas um corpo de crentes, chamado por Deus para uma única esperança. Esta comunidade está unida por um só Espírito, um só Senhor, uma só fé, um só batismo e um só Deus e Pai (Efésios 4:4–6). Não há como alcançar a verdadeira unidade com aqueles que estão fora deste corpo, nem a unidade com eles é desejável. Mas todos aqueles que realmente compartilham os benefícios supremos e exclusivos do evangelho, de fato, têm algo importante em comum, e isso deve levar à sua unidade.
Quando a “ambição egoísta” e a “vaidade” interferem para enfraquecer essa unidade, devemos nos esforçar para preservá-la, mesmo à custa de nossos próprios interesses e orgulho. Paulo exorta a abnegação diante do egoísmo e prescreve a humildade para superar o orgulho. Devemos cuidar não apenas de nós mesmos, mas também dos interesses dos outros. Se tivermos sido verdadeiramente convertidos por Deus, isto é, se tivermos recebido os benefícios do evangelho, então devemos nos unir em torno de uma mensagem e num mesmo propósito, e assim teremos “o mesmo modo de pensar”. Aqueles que são cooperadores no evangelho, devem também serem unidos pelo evangelho.
Para instruir e encorajar os filipenses a praticar a abnegação, Paulo cita o exemplo de Jesus nos versículos 5–11. Embora uma exegese precisa dessa passagem envolva algumas dificuldades, o significado geral é claro. Jesus sempre foi Deus, mas ele não se apegou a isso, de modo que ele não se recusou a se humilhar assumindo a forma humana para redimir os escolhidos. Antes, sendo Deus, ele voluntariamente se submeteu à humilhação de se tornar um servo. Além disso, ele foi obediente à vontade do Pai a ponto de morrer voluntariamente como um criminoso.
Onde a NIV [New International Version] diz que “ele se fez nada”, a NASB [New American Standard Bible] diz que “ele se esvaziou”, o que é mais literal. Algumas pessoas falsamente inferiram desta expressão que Jesus deixou de lado alguns de seus atributos divinos em sua encarnação. Isso é chamado de teoria da kenosis ou teologia kenótica. É uma heresia condenável.
Como os atributos de um ser definem o ser, um ser que deixa de lado esses atributos essenciais (mesmo que seja possível fazê-lo) deixa de ser o que originalmente era. Se Jesus tivesse deixado de lado qualquer um de seus atributos divinos, ele teria deixado de ser Deus. Como os atributos divinos são o que fazem Deus ser Deus, é um absurdo dizer que Deus pode ser Deus se deixou de lado alguns de seus atributos divinos. Além disso, Deus é imutável, de modo que, se Jesus sempre era Deus, ele nunca poderia deixar de ser Deus.
Portanto, aqueles que afirmam a impossível teoria da kenosis perde a base sobre a qual eles podem se chamar cristãos, porque a doutrina equivale a uma negação da divindade de Cristo, que ele não era Deus quando estava na terra. Em vez disso, os cristãos devem afirmar que Jesus sempre foi Deus, e ele permaneceu Deus quando assumiu a forma humana e viveu na terra.² Ele não pôs de lado seus atributos divinos. Ele nunca existiu como um mero ser humano.
Quando Paulo diz que Cristo “esvaziou-se a si mesmo”, ele não está imaginando Cristo como um recipiente com atributos divinos que poderiam ser derramados como água, após o que esses atributos não estariam mais nele até sua ressurreição ou ascensão. O propósito da passagem é lembrar a humildade e humilhação de Cristo para admoestar e encorajar os crentes a praticar abnegação e preservar sua unidade em torno do evangelho. A humilhação de Cristo não estava em se esvaziar de algo, mas sim, ele se humilhou “tomando” atributos humanos (v. 7). Seu ato de “esvaziar-se a si mesmo” estava em seu ato de “tomar” uma natureza humana. Dizer que ele se esvaziou é apenas uma metáfora, como quando Paulo diz: “Estou sendo oferecido como libação” (v. 17), ele não quer dizer que seus órgãos internos ou seus atributos humanos seriam derramados como líquidos de uma garrafa (também 2 Coríntios 12:15; 2 Timóteo 4:6). O ponto é que Cristo praticou abnegação e autossacrifício por nossa causa (2 Coríntios 8:9).
Este é o maior exemplo de abnegação, e Paulo nos chama a adotar a mesma atitude, tendo a mesma prontidão para negar nossa “ambição egoísta e a vaidade” em prol do evangelho e em benefício de outros crentes. Diversas circunstâncias podem provocar nosso egoísmo remanescente para proteger nossos próprios interesses, colocando em risco a unidade dos cristãos. É nesses momentos que devemos estar dispostos a nos humilhar por uma causa maior, isto é, pela única mensagem e um propósito em torno do qual todos devemos nos unir.
Deus exaltou a Cristo à mais alta posição, de modo que todos devem adorá-lo. Ele sempre foi Deus, mas agora ele está sentado à direita de Deus como alguém que permanece totalmente divino e plenamente humano, para que possa ser o campeão e mediador do seu povo. Todos devem se curvar a ele, incluindo todas as falsas divindades e falsos profetas nas religiões não cristãs. Eles são forçados a se curvarem a Jesus Cristo de onde estão no inferno, não como adoradores sinceros, mas como inimigos derrotados. Como Pedro escreve: “Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido” (1 Pedro 5:6). Se você se humilhar diante de Deus, ele o exaltará.
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¹ Nota do Tradutor: A NIV, a versão usada pelo autor, diz: “Ele se fez nada”.
² O Deus-Filho não viveu na terra no sentido de que ele estava restrito ao seu corpo humano; caso contrário, ele teria de fato posto de lado o atributo divino da onipresença, o que é impossível. Em vez disso, o Deus-Filho, sempre foi e ainda é onipresente, mesmo quando viveu na terra de acordo com essa natureza humana. Mesmo agora, sua natureza humana não é onipresente, embora sua natureza divina seja onipresente.
Vincent Cheung. Commentary on Philippians (2014), pp. 29–31. Tradução: Luan Tavares (19/12/2018).
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