Deus: Passivo Somente em Relação a Si Mesmo
Eu li seu artigo sobre ofertas voluntárias e, mais uma vez, agradeço ao Senhor por usá-lo para refutar a falsa doutrina da liberdade humana em relação a Deus. Como alguém que está em total concordância com seus ensinamentos sobre esse assunto (tendo já estudado muitas de suas obras), pensei que talvez, quando o tempo permitir, você pudesse falar em Atos 14:16, onde Paulo, falando de Deus, diz: “Ele permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos” (NVI). Este é o versículo pelo qual tenho sido mais confrontado pelos defensores do livre-arbítrio.
Embora eu ainda não tenha escrito nada que aborde diretamente a Atos 14:16, eu escrevi uma extensa exposição sobre Atos 17, que contém uma afirmação semelhante. Eu sugiro que você consulte isso na minha obra Presuppositional Confrontations.
Então, no meu Commentary on Ephesians, eu menciono a interpretação correta para os versículos que parecem falar das ações de Deus de um modo passivo (“os entregou”, “os permitiu” etc.). Eu mostro que eles são passivos apenas em relação a algo que Deus já estabeleceu ativamente. Isto é, Deus nunca é passivo em relação aos homens — seus decretos nunca são cumpridos por simples permissão, nem ele “permite” algo como se os homens pudessem até mesmo decidir ou realizar o mal por seu próprio poder. Em vez disso, sempre que a Escritura fala da ação de Deus como passiva, ela invariavelmente se refere a algo que Deus já estabeleceu ativamente, apenas que ele está permitindo que o que ele mesmo fez.
Em outras palavras, sempre que a Escritura diz que Deus “permite” Y (ou qualquer expressão equivalente), invariavelmente descobrimos que Y é a consequência necessária de X, e que outras passagens diriam que é Deus quem causa X diretamente. E como tudo na criação, até mesmo a relação entre X e Y é algo diretamente estabelecido e sustentado por Deus. Portanto, é realmente Deus quem ativa e diretamente causa X e Y.
Novamente, isso significa que, metafisicamente falando, não devemos distanciar Deus do mal (e, assim, atribuir a algum outro poder um grau de controle sobre a criação no nível metafísico), pois isso necessariamente resulta em dualismo, que é pagão e não bíblico. Lamento que essa tendência pagã seja forte mesmo na teologia reformada e no calvinismo popular, e talvez mais forte ainda em outras tradições teológicas. Em conexão com isso, as doutrinas não bíblicas e incoerentes do compatibilismo, reprovação passiva, reprovação condicional, e assim por diante, também devem ser rejeitadas.
Deve ser lembrado que, quando me refiro ao controle direto de Deus sobre todas as coisas más, eu estou falando de metafísica, não de aprovação ética. Enquanto metafísica tem a ver com poder, ética tem a ver com preceito. Quando estes dois são confundidos, então alguém poderia pensar que o que Deus proíbe ao homem por preceito, ele mesmo não pode então causar pelo poder divino. Mas essas duas coisas estão em categorias completamente diferentes.
Vincent Cheung. Blasphemy and Mystery (2007), 46. Tradução: Luan Tavares (18/12/2018).