Cristo e os Poderes
~ Extraído de Vincent Cheung, Commentary on Ephesians ~
Na exaltação de Cristo, Deus o assentou “muito acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir” (v. 21). Alguns comentaristas observam que os leitores de Paulo residem em uma região onde a idolatria, o ocultismo e várias superstições acontecem de forma desenfreada (Atos 19:17–19, 24–28), e eles sugerem que o apóstolo possivelmente está preocupado em mostrar que “nenhum dos poderes que eles tendiam a temer podiam ser comparados aos de Jesus”.[16] Embora nossa luta seja “contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (6:12), Cristo foi exaltado acima de todos eles, e Deus nos equipou totalmente para permanecermos firmes (6:13–17).[17]
Paulo quer deixar bem claro que não há exceção, mas que Cristo está acima de “todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir”. Não importa quem, o que ou quando essas entidades são, mas Paulo diz que “Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas” (v. 22). Cristo governa com Deus à sua direita, e não há nada acima dele ou igual a ele. A autoridade de Cristo, por sua vez, assegura nossa proteção e vitória, porque é “para a igreja” (v. 22) que Deus o exaltou, de modo que a autoridade final de Cristo beneficia e capacita diretamente o povo de Deus.
Alguns de nós tenderão a pensar que esta revelação bíblica do poder de Deus e da exaltação de Cristo é menos relevante (ou mesmo totalmente irrelevante) para a igreja hoje como quando Paulo escreveu esta carta. Certamente não há espaço para considerações sérias sobre “os dominadores deste mundo de trevas” e “as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” nesta era científica moderna! Mas não é assim. Além do fato de que a própria ciência é irracional[18] e supersticiosa[19], nossa luta atual ainda é contra “o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência” (2:2).
Grande parte da população mundial é flagrantemente idólatra e supersticiosa, e a maior parte do restante (incluindo a comunidade científica) não é essencialmente melhor, mas apenas mais sofisticada em suas idolatrias e mais “científica” em suas superstições. A adivinhação e até mesmo a necromancia são tão populares como sempre entre os ocidentais; a principal diferença parece ser que eles acrescentaram religiões e superstições orientais ao seu repertório.
Até mesmo alguns cristãos professos afirmam que suas vidas podem ser governadas por forças planetárias e outras forças naturais, quando a Escritura explicitamente condena tal crença. E alguns desses supostos crentes até pensam que se reorganizarem seus móveis de acordo com o manual do Feng Shui, então riqueza e fortuna virão mais facilmente em seu caminho.
Ora, os cientistas regulares podem ridicularizar as disciplinas de parapsicologia e pesquisa paranormal como pseudociências, mas eles ainda têm que estabelecer suas próprias disciplinas de ciências naturais em bases racionais por uma filosofia da ciência sustentável. O método científico nem consegue me dizer por que meu lápis cai no chão quando eu o solto, muito menos pode refutar o Feng Shui.
Em contraste, as doutrinas bíblicas da soberania de Deus, a predestinação dos homens e a exaltação de Cristo constituem a resposta definitiva a todas as idolatrias e superstições. Porque Deus é soberano sobre todas as coisas, porque ele predestinou todos os homens (seja para a salvação ou para a condenação), e porque ele exaltou a Cristo sobre todos os poderes, estamos sobre um fundamento racional e infalível quando ridicularizamos idolatrias e superstições, quando condenamos todos religiões e filosofias não cristãs, e quando refutamos o método científico.
A pregação missionária na selva não tem razão para temer os feiticeiros, e o crente que vive na cidade não tem razão para temer que sua janela esteja voltada para a direção errada. Da mesma forma, o estudante universitário não tem razão para pensar que o método irracional e supersticioso de seu professor pode descobrir qualquer verdade, muito menos refutar sua fé.[20] O convertido de uma cultura propensa à adoração aos ancestrais agora está livre (e obrigado a) abandonar a prática blasfema e proibida. Quer estejamos falando de idolatrias antigas ou superstições modernas, misticismo panteísta ou ciência ateísta, tudo isso é um absurdo irracional. Portanto, “Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo” (Colossenses 2:8).
Na verdade, a cosmovisão bíblica não responde apenas a superstições “adultas”, mas também fornece uma resposta direta ao medo das crianças de fantasmas e monstros. Os não cristãos podem simplesmente dizer aos filhos que fantasmas e monstros não existem, mas como eles sabem disso? Com base no empirismo, seria impossível confortar uma criança que pensa ter visto um monstro, isto é, a menos que ela seja tão irracional quanto o empirista quando se trata de epistemologia e, portanto, aplique inconsistentemente a teoria empírica. Talvez o empirista deva parar de dizer ao filho: “Acredite apenas no que você pode ver e sentir” e, em vez disso, diga: “Acredite apenas no que eu digo que posso ver e sentir”!
Por outro lado, os pais cristãos podem dizer aos filhos que, mesmo se existir fantasmas e monstros, Cristo está acima de todos eles e protegerá e justificará aqueles que confiam nele. Claro, podemos (e devemos) ensinar nossos filhos um curso abrangente em demonologia bíblica para dissipar falsas ideias sobre o sobrenatural, mas mesmo antes de fazermos isso, a soberania de Deus e a exaltação de Cristo já nos fornecem uma resposta ampla e ainda mais direta a todas as coisas relativas aos “poderes”.
Assim, nós não agimos como teólogos quando precisamos de informações doutrinárias e depois mudamos para agir como místicos quando precisamos do poder divino. Uma teologia bíblica também é uma teologia poderosa. Assim, Paulo está, na verdade, orando para que seus leitores se tornem melhores teólogos, não maiores místicos e carismáticos. Para que a igreja se apodere do poder de Deus para esta geração, ela precisa de uma compreensão nova e exata da soberania de Deus, da predestinação dos homens e da exaltação de Cristo.
Notas
[16] Turner, p. 1228.
[17] Clinton Arnold, Power and Magic: The Concept of Power in Efesians; pp. 52–56.
[18] Vincent Cheung, Ultimate Questions e Presuppositional Confrontations.
[19] Bertrand Russell, Skeptical Essays, “Is Science Superstitious?”.
[20] Gordon H. Clark, The Philosophy of Science and Belief in God; The Trinity Foundation, 1996.
Vincent Cheung. Christ and the Powers. Tradução: Luan Tavares (21/05/2021).
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