Clonagem Humana e a Alma
Vincent Cheung, “Doctrine and Obedience” (2012).
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Estamos considerando a questão da clonagem humana e da alma. Supondo que o procedimento seja realmente bem-sucedido, o clone humano possuiria uma alma; caso contrário, não podemos dizer que foi realmente bem-sucedido. Na teologia sistemática, e sob a doutrina do homem, o “criacionismo” sustenta que Deus cria cada nova alma provavelmente no momento da concepção e a associa ao novo corpo, e o “traducianismo” sustenta que tanto a alma quanto o corpo são herdados do pais.
O criacionismo é a visão bíblica, mas para nosso propósito, não há necessidade de discutir qual é a correta. Qualquer uma das posições permitiria que uma pessoa humana clonada com sucesso tivesse uma alma. Dado o criacionismo, isso significaria que Deus cria uma nova alma cada vez que uma pessoa é clonada com sucesso. Dado o traducianismo, significaria que há pouca diferença técnica entre o que acontece na clonagem e o que acontece na concepção natural, uma vez que a alma seria propagada do original para o clone. O clone teria uma alma diferente, com características herdadas do original.
O fato de algo funcionar tem pouco a ver com o fato de ser ético. Para ilustrar, só Deus tem o direito e o poder de acabar com uma vida. Ainda assim, o assassinato “funciona” — o assassino pode de fato matar sua vítima. Isso significa que Deus preordenou o evento e ele acaba com a vida da vítima quando o crime ocorre. Mas os preceitos de Deus nos ensinam que não é ético cometer assassinato.
Como acontece com muitas coisas (assassinato, estupro, a crucificação de Cristo, etc.), o que Deus decretou que acontece é frequentemente diferente do que Deus definiu como ético. O que é feito de acordo com o decreto de Deus pode ao mesmo tempo ser feito contra o preceito de Deus. Uma criança pode ser concebida por causa de um estupro. O estupro é contra o preceito de Deus — é pecado — mas tanto o estupro quanto a criança aconteceram por causa do decreto de Deus, porque nada pode acontecer fora do que ele decreta e faz acontecer.
Portanto, mesmo que a clonagem “funcione” no sentido de que resulta em uma alma humana, isso não a tornaria eticamente aceitável. Visto que cada pessoa clonada com sucesso teria uma alma, isso significa que Deus sempre decretou o sucesso da clonagem e a existência dos clones. Novamente, um decreto é diferente de um preceito, de modo que mesmo que Deus tenha predeterminado o sucesso da clonagem, isso não significa que ele a aprova moralmente, mas se for pecado, então significaria que ele ordenou que o pecado deve ocorrer.
Quer estejamos considerando o problema da alma relativo à clonagem, ou quer estejamos considerando a soberania de Deus em relação a algo que é contra seus preceitos morais, não há problema para a teologia cristã. A clonagem bem-sucedida, mesmo que pecaminosa, não representa um desafio racional contra a fé cristã. Se a clonagem humana fosse bem-sucedida, não violaria nada que a Bíblia ensina sobre a realidade, mesmo que violasse o que a Bíblia ensina sobre moralidade.
Vincent Cheung. Human Cloning and the Soul. Disponível em Doctrine and Obedience (2012), pp. 40–41. Tradução: Luan Tavares (19/05/2021).