Cativo à Razão

As Obras de Vincent Cheung
5 min readOct 27, 2019

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~ Esta é uma correspondência editada sobre apologética. ~

Gordon Stein perguntou a Greg Bahnsen qual poderia ser um motivo suficiente para convencê-lo de que o Cristianismo é falso. Eu não lembro de Bahnsen sendo muito convincente nesta questão. Como você lidaria com essa pergunta?

Num certo sentido, essa pergunta é difícil de responder. É difícil porque uma vez tendo chegado à minha posição atual sobre as questões filosóficas e sobre a abordagem apologética, qualquer tentativa de conceber como o Cristianismo poderia ser refutado ou eu ser convencido de que ele é falso exigiria em primeiro lugar uma plena aceitação do Cristianismo. Isto é, porque as pressuposições da cosmovisão bíblica são as pressuposições necessárias para todo pensamento e conhecimento, então é impossível para mim até mesmo conceber de como o Cristianismo possa ser refutado.

Bahnsen disse uma vez que, se alguém encontrasse os ossos de Jesus, ele admitiria que o Cristianismo é falso. O ponto em si é verdadeiro. Se uma pessoa encontrasse os ossos de Jesus, mostrando assim que ele nunca ressuscitou dentre os mortos, podemos dizer que o Cristianismo é falso. No entanto, isso é quase irrelevante, pois, à parte da cosmovisão cristã completa, como você pode ter uma epistemologia que pode aprender o próprio significado da expressão “os ossos de Jesus” e como você pode ter uma epistemologia que permita identificar os ossos?

Mesmo se admitirmos que, se alguém encontrasse os ossos de Jesus, então o Cristianismo é falso, dado o que estabeleci em outros lugares sobre a epistemologia, devemos também admitir que, se o Cristianismo é falso, nunca poderemos identificar os ossos de Jesus. Eu estabeleci que, mesmo se começarmos com os pressupostos corretos pelos quais o conhecimento é possível, todos os métodos científicos e empíricos são eles próprios logicamente falaciosos, de modo que qualquer conclusão derivada do uso de tais métodos seja, na melhor das hipóteses, uma opinião injustificada ou uma conjectura arbitrária, e não conhecimento. Portanto, o Cristianismo nunca pode ser refutado por qualquer método científico ou empírico, e os ossos de uma pessoa nunca podem ser infalivelmente identificados.

Portanto, a pergunta é difícil apenas no sentido de que não posso fornecer o tipo de resposta que um incrédulo esperaria. Mas então, a expectativa do incrédulo é baseada em sua epistemologia irracional, de modo que não sou racionalmente obrigado a respeitá-la. Talvez a resposta mais simples e verdadeira para a pergunta seja: “Eu acreditarei que o Cristianismo é falso se você puder provar que é falso”; ou, para ser mais preciso: “Acreditarei que o Cristianismo é falso se você puder provar que o que é verdadeiro é falso”.

Em outras palavras, insisto que é logicamente impossível refutar o Cristianismo, de modo que refutá-lo seria estabelecer uma contradição lógica, o que é impossível. É claro que qualquer um pode dizer fisicamente o que quiser, mas isso não significa que o que ele diz fará algum sentido, e eu estou dizendo que nenhum argumento contra o Cristianismo pode fazer algum sentido.

O máximo que posso fazer é ouvir um incrédulo quando ele tenta refutar o Cristianismo, porque eu mesmo nem consigo imaginar como eu faria isso. É claro que os incrédulos terão várias ideias, e tentarão vários argumentos, mas isso é porque eles são estúpidos e não percebem que seus argumentos são absurdos completos até que apareça alguém que aponte seus erros.

Em meus livros, mostro que estou ciente das questões relevantes e das objeções dos incrédulos, e como eu as responderia. Eu explico claramente meu método de apologética e como esse método pode defender a cosmovisão bíblica e refutar seus oponentes. Portanto, não estou partindo do ponto de vista de um fideísmo não racional ou irracional. Antes, o Cristianismo é tão racionalmente necessário que não consigo conceber como refutá-lo sem que meu próprio sistema de apologética derrote minha tentativa.

Algumas pessoas afirmam que, se uma alegação não é falseável, ela também não pode ser estabelecida ou simplesmente não tem sentido. No entanto, isso depende de que tipo de reivindicação estamos falando e por que ela não é falseável. E se ela não for falseável porque é necessariamente verdadeira? Se algo é necessariamente verdadeiro, então não é falseável; se algo é falseável, não é necessariamente verdadeiro. Nossa afirmação, que podemos racionalmente justificar, é que o Cristianismo é necessariamente verdadeiro.

Se alguém afirma que nada é necessariamente verdadeiro, então essa afirmação em si não é necessariamente verdadeira. Ele deve oferecer um argumento que mostre que é necessariamente verdade que nada é necessariamente verdadeiro, mas se o argumento dele é válido, ele se refuta (o que significa que é impossível construir um argumento válido para essa conclusão) e se o argumento dele é não válido, então ele falha em provar sua conclusão (que nada é necessariamente verdadeiro).

Não há razão para aceitar esse princípio de falseabilidade em primeiro lugar. É apenas uma desculpa para não refutar o Cristianismo. Não é minha culpa que os incrédulos sejam covardes intelectuais. Se eles não podem competir, devem ficar de fora do ringue, em vez de inventar teorias tolas para se justificar.

Minha resposta para a pergunta é o que deveria acontecer se o Cristianismo é verdadeiro e se eu sou cristão. Ou seja, minha mente está ancorada pela Palavra de Deus e mantida em cativeiro pela verdade, para que eu não possa ver uma saída e não queira uma saída. Se eu posso ver uma saída ou se quero uma saída, ou o evangelho não tem o poder que reivindica, ou eu não sou realmente um cristão. Se eu sou cristão, não seria capaz de perceber nenhuma maneira de refutar o Cristianismo.

Se o incrédulo tem a verdade, ele terá que me mostrar; ele terá que defender sua causa sem a minha ajuda. Mas ele é impedido desde o início pelo método bíblico de apologética e de argumentação, e por nosso desafio contra o pensamento deles no nível fundacional ou pressuposicional.

A verdade é que o não cristão também é mantido em cativeiro pelo Logos de Deus e por seu conhecimento inato dos atributos de Deus e das leis de Deus, de modo que sua mente só pode funcionar nos termos de Deus, mesmo quando ele se rebela contra Cristo, que é a Razão. O não cristão é enganado a pensar que é um “pensador livre”, mas a única coisa da qual ele está fugindo é da Razão. Ainda assim, ele não pode escapar, pois a Razão o esmaga todas as vezes e transforma seus argumentos fúteis em pó.

Vincent Cheung. Captive to Reason (2009), pp. 8–10. Traduzido por Luan Tavares em 05/10/2019.

Sobre o autor: Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos.
Site oficial: https://www.vincentcheung.com/

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Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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