Blasfêmia Contra o Espírito Santo

Vincent Cheung, Sermonettes — Volume 7 (2012).

As Obras de Vincent Cheung
10 min readOct 5, 2021

Por esse motivo eu digo a vocês: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem nesta era nem na que há de vir. (Mateus 12:31–32)

Jesus curou um homem endemoninhado. O povo ficou surpreso e se perguntou se ele era o Filho de Davi, cuja vinda foi predita pelos profetas. Quando os fariseus ouviram isso, eles disseram que Jesus expulsou os demônios por Belzebu, o príncipe dos demônios. No entanto, visto que Jesus de fato expulsou demônios pelo Espírito Santo, os fariseus insultaram indiretamente o Espírito Santo chamando-o de Belzebu, o príncipe dos demônios.

Em resposta, Jesus primeiro apresentou uma refutação teológica à afirmação deles e, em seguida, acrescentou uma advertência — qualquer um que fala contra Cristo pode ser perdoado, mas quem fala contra o Espírito Santo não pode ser perdoado. Muitas explicações sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo enfatizam o quão difícil ou mesmo impossível é cometer esse pecado imperdoável. Mas, visto que Jesus pretendia que sua declaração fosse uma ameaça realista, devemos considerar como é fácil cometer esse pecado, um pecado para o qual não há perdão.

A blasfêmia contra Jesus Cristo é classificada como o mesmo tipo de pecado que a blasfêmia contra o Espírito Santo. Mesmo que possamos pensar no último como outro nível de blasfêmia, embora o texto não sugira isso, os pensamentos e ações envolvidos são semelhantes. A principal diferença é o objeto que recebe o insulto. Cometer blasfêmia contra Jesus Cristo é falar contra Jesus Cristo. Cometer blasfêmia contra o Espírito Santo é falar contra o Espírito Santo.

Os eruditos cristãos são profissionais em neutralizar os ensinos bíblicos dos quais não gostam, e não gostam muito deste. Então, eles lutam para definir esse pecado como tão difícil e remoto que é praticamente impossível cometer. Mas, no mesmo contexto, Jesus acrescentou: “Mas eu digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e por suas palavras serão condenados” (vv. 36–37). O pecado não é difícil ou impossível de ser cometido, mas pode ser tão fácil de cometer que até mesmo uma palavra inútil poderia fazer isso.

A blasfêmia contra o Espírito Santo é frequentemente retratada apenas como uma rejeição mais teimosa ou final de Jesus Cristo. Mas isso não se encaixa no contexto, que tem a ver com o ministério de milagres e a expulsão de demônios. E não se encaixa no ensino explícito, que distingue blasfêmia contra Cristo e blasfêmia contra o Espírito como duas ofensas diferentes. Os objetos que recebem os insultos são diferentes. Jesus disse que falar contra o Filho é perdoável, mas falar contra o Espírito é imperdoável. Portanto, é possível falar contra o Filho em vez do Espírito, e é possível falar contra o Espírito em vez do Filho.

O esforço para fundir os dois de modo que as diferentes ofensas se tornem apenas diferentes pontos em uma escala parece ter a intenção de condenar o ensino de Jesus à irrelevância. A blasfêmia contra o Espírito Santo se tornaria menos assustadora se pudesse ser absorvida pela blasfêmia contra Jesus Cristo. Mas o próprio Jesus distinguiu os dois. Usar palavras contra Cristo não é o mesmo que usar palavras contra o Espírito. O ensino pretende ser assustador e uma advertência contra cometer este pecado imperdoável. Enfraquecer seu medo só aumentaria a possibilidade de cometê-lo.

Colocar os dois pecados na mesma escala de forma que eles se tornem apenas graus diferentes do mesmo pecado é cometer raciocínio circular. Falar contra o Espírito Santo pode muito bem ser considerado um pecado pior, mas isso não significa necessariamente que se torne apenas uma rejeição mais obstinada e final de Jesus. Ele poderia ter dito: “Quem fala contra o Filho pode ser perdoado, mas quem espalha chiclete na rua não pode ser perdoado”. A afirmação é inteiramente inteligível, e o último seria o pecado imperdoável, mas os dois não seriam apenas dois pontos diferentes na mesma escala, ou diferentes graus da mesma ofensa.

Outra tentativa de tornar o ensino de Jesus irrelevante sugere que esse pecado imperdoável só foi possível durante o ministério de Jesus, porque somente ele demonstrou a verdade e o poder de Deus sem mistura, ambiguidade e imperfeição. Esse argumento é ininteligente e contraproducente, visto que Deus envia milhões e milhões e milhões para queimar no inferno porque rejeitaram nossa pregação imperfeita de Cristo. Deus não pensa que a rejeição da verdade é possível somente quando a verdade é apresentada de forma perfeita. Embora não possamos pregar Jesus Cristo com perfeita clareza, força e precisão, ainda conta como blasfêmia quando alguém fala contra ele.

Portanto, embora não manifestemos o Espírito Santo com fé, poder ou ordem perfeita, ainda deve contar como blasfêmia quando alguém fala contra ele. Mas estamos ficando cada vez mais desconfiados de que os teólogos estão inventando uma desculpa para sua própria desobediência. Além disso, quando Jesus declarou o ensino sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo em outro lugar (Lucas 12:10), ele tinha em mente um tempo em que os discípulos estariam ministrando sozinhos e sofreriam perseguição (vv. 11–12). Portanto, não é verdade que o pecado só é possível durante o ministério de Jesus.

Os eruditos insistem que a blasfêmia contra o Espírito Santo deve ser uma ofensa informada e deliberada. No entanto, essa não é a natureza da blasfêmia como a Bíblia a descreve. Paulo indicou que embora agisse por ignorância, ele ainda era um blasfemador (1 Timóteo 1:13). Ele não percebeu verdadeiramente a identidade e divindade de Cristo, mas o que ele disse sobre Cristo ainda contava como blasfêmia. E como mencionado, no mesmo lugar onde Cristo ensinou sobre isso, ele advertiu que “toda palavra inútil” seria julgada. Portanto, é possível cometer blasfêmia não informada e deliberada. Caso contrário, um ateu, ou quase qualquer não cristão, nunca poderia blasfemar contra Deus ou Cristo, mas apenas um crente informado poderia fazê-lo. Mas Paulo blasfemava quando era ignorante e incrédulo.

É possível para um homem blasfemar de Cristo mesmo que não saiba ou admita que Cristo é o Filho de Deus. Dizer ou sugerir qualquer coisa negativa sobre Cristo seria considerado blasfêmia. De fato, nem mesmo é necessário sugerir estritamente algo negativo. O próprio Jesus foi acusado de blasfêmia porque disse algo que sugeria que ele era igual a Deus. E se ele não estivesse dizendo a verdade, isso seria considerado blasfêmia. Não era blasfêmia apenas porque ele era de fato igual a Deus e porque Deus era de fato seu Pai. Mas isso mostra que é fácil cometer blasfêmia.

Então, é dito que se alguém tem medo de ter cometido esse pecado imperdoável, então é a indicação mais forte de que ele não o cometeu. Isso se baseia no pressuposto de que o pecado só pode ser cometido por um indivíduo incuravelmente endurecido e de maneira informada, deliberada e maliciosa. Assim, alguém que comete esse pecado é totalmente entregue à incredulidade e não tem temor da ira de Deus. No entanto, já destruímos essa suposição. Os textos bíblicos sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo não sugerem nada disso, e até os demônios têm medo de Deus, embora não possam ser salvos. Além disso, o medo de que alguém cometeu esse pecado não é indicação de que ele não o cometeu, porque esse medo poderia muito bem ser nada mais do que a tristeza segundo o mundo que produz morte (2 Coríntios 7:10).

Um homem não cometeu blasfêmia contra o Espírito Santo somente se ele não cometeu blasfêmia contra o Espírito Santo. A maneira de garantir que você não falou contra o Espírito é garantir que você realmente não tenha falado contra o Espírito. E se você falou contra o Espírito Santo, então você falou contra o Espírito Santo, e você cometeu o pecado imperdoável. Não há como contornar isso ou evitar o problema. As soluções dos teólogos — tornar o pecado mais difícil de cometer, fundi-lo com a rejeição de Cristo, designar o medo ou a culpa como indício seguro de inocência — oferecem um falso conforto.

Os fariseus chamavam a obra do Espírito Santo de demônio, portanto, indiretamente, estavam chamando o Espírito Santo de demônio. Esse insulto indireto foi suficiente para incitar o ensino de Jesus sobre esse pecado imperdoável. Mas é provável que insultos ainda menos específicos ou extremos contassem como blasfêmia contra o Espírito. Considere o que seria considerado blasfêmia contra Jesus Cristo. Claro que seria blasfêmia negar direta ou indiretamente sua divindade. Mas também seria blasfêmia contra ele negar a necessidade ou o sucesso da expiação, ou sugerir que ele foi desonesto quando fez uma determinada declaração ou que cometeu um erro sobre algo. É fácil cometer blasfêmia.

A Bíblia nos instrui a testar as manifestações espirituais, e é concebível que, após um exame cuidadoso, concluamos que algumas manifestações são falsas ou mesmo demoníacas. O ensino de Jesus nos adverte a testar as manifestações espirituais com conhecimento e integridade, e não nos opor a algo apenas porque ameaça nossas tradições teológicas e eclesiásticas. Agora, o que aconteceria se um homem realmente falasse em línguas pelo Espírito Santo, e alguém zombasse dele por isso? E se, sem uma base bíblica irrefutável, ele afirma que o Espírito Santo não faz mais algo assim? E se ele chamar todos os que falam em línguas de baboseira e absurdo? E se ele declarar que os dons do Espírito, como profecia e cura, cessaram, de forma que tudo o que acontecer agora não pode ser genuíno? Se ele está enganado, então ele insultou todas essas manifestações do Espírito, desde a passagem dos apóstolos até a futura vinda de Jesus Cristo. Ele deu um tapa no Espírito ao longo dos séculos.

Os cessacionistas estão em perigo iminente de cometer o pecado imperdoável de falar contra o Espírito Santo. Eles se consideram observadores de cultos, defensores da fé e guardiães da ortodoxia, liderando a acusação contra os hereges e fanáticos. Os fariseus também, mas blasfemavam contra o Espírito Santo a torto e a direito, porque o que consideravam ortodoxia era, na verdade, a própria tradição teológica e herança eclesiástica deles. Jesus Cristo veio no poder do Espírito Santo e ameaçou tirar o respeito das pessoas, sua condição de eruditos e seu lugar como autoridades da fé. Então, eles chamaram Jesus de enganador e chamaram o Espírito de demônio.

Não precisamos testar os espíritos? Mas como você pode testar os espíritos, se você nem mesmo acredita nas verdadeiras manifestações do Espírito? Você diz: “Eu acredito que Deus faz milagres quando ele quer, mas eu acredito que os dons de sinais cessaram, ou isto e aquilo cessaram”. Mas a Bíblia não separa alguns poderes como “dons de sinais”, e a maior parte da Bíblia nem mesmo se refere aos poderes milagrosos dados aos crentes como dons espirituais. Com dons ou sem dons, Jesus disse que qualquer pessoa que tenha fé pode ordenar que uma montanha se mova. E se alguém pode ordenar que uma montanha se mova, ele pode ordenar que uma febre, um câncer ou um demônio vá embora. Toda essa conversa sobre dons é apenas um subterfúgio, uma tática de “dividir e conquistar” contra o poder de Deus.

Jesus disse que os fariseus eram como víboras por dentro, e com seus corações maus falavam palavras más (vv. 33–35). Você também fala contra o Espírito Santo porque seu coração está cheio de incredulidade e veneno. Como os fariseus, você se considera um defensor da ortodoxia, mas é um mentiroso, porque a sua não é a ortodoxia bíblica do Espírito. Você pega o que lhe agrada e rejeita o que o ameaça. Você exalta o que o faz parecer bom e se opõe ao que o faz parecer fraco.

Quando alguém menciona o poder do Espírito Santo em ação hoje, você diz: “Sim, mas até mesmo Satanás faz milagres”. Por que essa é sua reação? Por que você diz isso como se para diminuir o significado da obra do Espírito Santo? A Bíblia ensina que até mesmo Satanás pode aparecer como um anjo de luz, e eu percebo que ele também pode aparecer como um teólogo cessacionista. Em vez disso, quando ouço você dizer que Satanás faz milagres, eu digo: “Sim, mas o Espírito Santo faz milagres! E ele pode derrotar o poder de Satanás”. Em qualquer caso, em vez de acalmar as reivindicações de milagres, agora terminamos com milagres em todo o lugar, com você em louvor ao poder de Satanás e eu em louvor ao poder do Espírito Santo.

Assim como os teólogos por séculos minaram o ensino de Jesus sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo, é claro que eu espero oposição quando repito o ensino do Senhor. Mas tenho mais medo da advertência de Jesus do que jamais teria medo de alguém como você. O que você vai fazer, faça depressa. Quanto a mim, cuidarei para que eu reverencie as obras do Espírito Santo, incluindo suas poderosas manifestações de poder. “Pois por suas palavras você será absolvido e por suas palavras você será condenado.” Vamos, vamos ser testemunhas das palavras que você vai falar e escrever. Mostre ao mundo o que está em seu coração. Talvez até este ponto você não tenha blasfemado contra o Espírito Santo, e esta é a maneira de Deus incitar você a fazer isso, a fim de encher a medida de seus pecados e selar sua condenação.

Vincent Cheung. Blasphemy Against the Holy Spirit, em Sermonettes — Volume 7 (2012), pp. 81–85. Tradução: Luan Tavares (05/10/2021).

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Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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