Bispos e Diáconos

Vincent Cheung, “Reflections on First Timothy” (2009).

“É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível […]. Os diáconos igualmente devem ser dignos, homens de palavra […].” (1 Timóteo 3:2, 8)

Há dois tipos de oficiais na igreja. Primeiro, há os presbíteros, também chamados de bispos. São homens maduros e instruídos, cuja principal tarefa é o ensino, mas que também são responsáveis ​​pelas principais decisões administrativas da comunidade. Em conexão com isso, eles têm autoridade para fazer cumprir os mandamentos apostólicos relativos à disciplina da igreja. Então, os diáconos são os assistentes dos presbíteros e servos da igreja. Devem cuidar dos assuntos práticos que, de outra forma, impediriam os presbíteros em sua obra de oração e pregação, como a distribuição de ajuda. Eles não têm autoridade sobre os presbíteros. A “junta diaconal” moderna não é bíblica. Um modelo mais bíblico seria que houvesse uma junta de presbíteros e uma equipe de diáconos para realizar as decisões dessa junta.

Comentários estranhos são feitos às vezes a respeito de nossa passagem. De acordo com alguns pregadores e escritores, ela afirma que um oficial da igreja deve possuir um caráter digno, mas não diz que ele deve afirmar a sã doutrina. Aqueles que exigem pureza doutrinária de seus líderes são fariseus desamorosos e mesquinhos que perdem a batida do coração de Deus. Há grandes problemas com esta interpretação da passagem, com este argumento do silêncio, ou suposto silêncio, e com a conclusão tirada de tal interpretação.

Suponha que eu esteja envolvido em uma batalha judicial e passe duas horas contando isso a um amigo. Uma vez que o caso envolve disposições, comparecimentos ao tribunal e muita documentação, estou com pressa para encontrar um advogado que me represente. Meu amigo pergunta neste momento: “Que tipo de advogado você está procurando?”. Eu paro por um momento e respondo: “Procuro um advogado que seja honesto comigo e que seja pontual e eficiente, educado e apresentável. Como não conheço a legislação dessa área, ele também deve ser alguém com muita paciência”. Agora, imagine se meu amigo respondesse: “Você não mencionou que ele deve conhecer a lei. Então isso não é importante?”. É claro que um advogado deve conhecer a lei! A questão toda é sobre a lei! Eu mencionei que ele deve me representar nas disposições, no tribunal e no manuseio da documentação. Todo o contexto sugere que procuro um especialista em direito, apenas que procuro um especialista em direito que possua outras qualidades que também são importantes para mim. A reação do meu amigo indica que ele se esqueceu de todo o contexto da conversa, ou que é uma pessoa tremendamente estúpida, ou ambos.

Da mesma forma, dizer que a lista de qualificações de Paulo para presbíteros e diáconos não exige que eles sejam sãos na doutrina denuncia uma deficiência na compreensão de leitura simples e uma negligência completa do contexto das Epístolas Pastorais. Nessas cartas, encontramos uma ênfase constante na doutrina que se repete de várias maneiras e de todos os ângulos. Há mandamentos apostólicos para pregar a palavra, manter e transmitir ensinos sãos e opor-se a falsas doutrinas e falsos mestres. Muitos deles são explícitos, às vezes diretamente aplicáveis ​​ao ministro do evangelho e, frequentemente, até mesmo a todos os crentes.

Dito isso, a lista de fato requer sã doutrina em nossos presbíteros e diáconos. Paulo escreve que os superintendentes devem ser “capazes de ensinar”. Devemos pensar que ele quer dizer “capaz de ensinar falsas doutrinas”? E os diáconos “devem apegar-se ao mistério da fé”.¹ A principal tarefa dos diáconos é o serviço prático, por isso Paulo não enfatiza a capacidade de ensinar “o mistério da fé”. Mas observe que eles ainda devem confirmá-los. Aqueles que alegam que a lista não exige exatidão e precisão doutrinária são desqualificados por esta mesma passagem, pelo menos de serem presbíteros. Dizer o que eles fazem sobre esta lista indica que eles não sabem a tarefa principal do presbítero ou bispo, e não têm a habilidade de entender as afirmações claras da Escritura.

Paulo nos lembra de um princípio essencial na ordem da igreja — Deus requer características específicas nos líderes de seu povo. Uma pessoa não está qualificada apenas porque está disposta e disponível, ou mesmo ambiciosa, para a posição. Ela não está qualificada apenas porque possui algumas qualidades que o mundo considera desejáveis, mas que são irrelevantes para a liderança espiritual. Uma consideração sóbria do que Paulo diz pode nos levar à compreensão de que muitos, senão a maioria, os líderes da igreja hoje não estão qualificados para ocupar suas posições.

A Bíblia requer que um ministro do evangelho seja são tanto em sua doutrina quanto em seu caráter. Ele deve ser examinado em ambas as áreas. No entanto, se uma pessoa não é sã na doutrina, então nem mesmo precisamos considerar seu caráter — ela não pode ser presbítero ou diácono, porque pode nem mesmo ser cristão. Que Deus levante muitos entre nós e que o próprio Deus se torne seu mestre, para que se tornem sãos na fé, tanto em sua doutrina quanto em seu caráter, e conduza a igreja do descrédito para a vitória gloriosa pela verdade e poder de Jesus Cristo.

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¹ Nota do Tradutor: “Eles devem apegar-se às verdades profundas da fé” (They must keep hold of the deep truths of the faith), na versão original (NIV).

Vincent Cheung. Overseers and Deacons. Disponível em Reflections on First Timothy (2009), pp. 36–37. Tradução: Luan Tavares (08/06/2021).

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