Ananias e Safira
Vincent Cheung, Sermonettes — Volume 7 (2012).
Um homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, também vendeu uma propriedade. Ele reteve parte do dinheiro para si, sabendo disso também sua mulher; e o restante levou e colocou aos pés dos apóstolos. Então perguntou Pedro: “Ananias, como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, a ponto de você mentir ao Espírito Santo e guardar para você uma parte do dinheiro que recebeu pela propriedade? Ela não pertencia a você? E, depois de vendida, o dinheiro não estava em seu poder? O que o levou a pensar em fazer tal coisa? Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus”. Ouvindo isso, Ananias caiu morto. Grande temor apoderou-se de todos os que ouviram o que tinha acontecido. Então os moços vieram, envolveram seu corpo, levaram-no para fora e o sepultaram.
Cerca de três horas mais tarde, entrou sua mulher, sem saber o que havia acontecido. Pedro lhe perguntou: “Diga-me, foi esse o preço que vocês conseguiram pela propriedade?” Respondeu ela: “Sim, foi esse mesmo”. Pedro lhe disse: “Por que vocês entraram em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Veja! Estão à porta os pés dos que sepultaram seu marido, e eles a levarão também”. Naquele mesmo instante, ela caiu morta aos pés dele. Então os moços entraram e, encontrando-a morta, levaram-na e a sepultaram ao lado de seu marido. E grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ouviram falar desses acontecimentos. (Atos 5:1–11)
Os cristãos estavam contribuindo com o que tinham para estabelecer e promover a fé em Jesus Cristo e estavam ajudando uns aos outros. As propriedades foram vendidas e o dinheiro entregue aos apóstolos para ser distribuído aos necessitados. Barnabé era um dos conhecidos por ter vendido seu campo e levado o dinheiro aos apóstolos. Ananias também vendeu sua propriedade; no entanto, ele não queria oferecer toda a soma que recebeu e, ao mesmo tempo, queria que as pessoas pensassem que ele deu tudo. Safira, sua esposa, consentiu com isso.
Eles não achavam que outros descobririam isso, mas Pedro sabia a verdade. Sua resposta nos mostra que os cristãos não renunciaram à propriedade privada de bens e propriedades. A propriedade pertencia a Ananias, e ele não teve de vendê-la. Então, depois que ele vendeu a propriedade, o dinheiro pertencia a ele, e ele não teve que oferecer tudo ou nada para a igreja. Renunciar à própria riqueza para a igreja nunca foi um requisito para alguém se tornar um membro ou para permanecer em boa posição. Tudo isso foi voluntário. Os crentes deveriam ser movidos por generosidade sincera, compaixão e reverência ao Senhor quando distribuíam suas riquezas para outros.
É importante compreender a natureza da ofensa, porque nos ajudará a apreciar a resposta — tanto de Pedro quanto de Deus. O casal não roubou nada. Eles não roubaram ninguém. Eles não enganaram outras pessoas quanto à sua riqueza. E eles não deviam nada legalmente à igreja. Em vez disso, eles guardaram parte do dinheiro para si mesmos, mas queriam que as pessoas pensassem que eles deram tudo para que parecessem tão altruístas e generosos quanto alguém como Barnabé. Essa foi uma transgressão moral que aparentemente não infligiu dano direto a ninguém; de fato, as pessoas teriam sido ajudadas pelo dinheiro que foi oferecido.
Mas Pedro reagiu fortemente a isso. Ele disse que Satanás encheu seus corações e que eles mentiram para Deus e tentaram seu Espírito. E então Deus os matou por isso. Hoje em dia, os cristãos podem zombar da tentativa de impressionar, mas podem não considerá-la com tanta seriedade como Pedro e Deus o consideram. Certamente, Ananias e Safira estavam errados, mas eles mereciam uma repreensão severa e execução instantânea? Pedro e Deus pensaram que sim. Não devemos nos tornar insensíveis ao pecado apenas porque as transgressões são excessivas e os incrédulos ao nosso redor se apegam a um padrão intelectual e ético muito inferior. Deus deseja que recuperemos aquele sentimento de alarme e indignação que Pedro exibiu.
Parece que Ananias foi o principal culpado, mas Safira concordou com sua trama. No Éden, a mulher pecou primeiro e depois o homem pecou com ela. A lição não foi aprendida, então aqui o homem pecou primeiro e depois a mulher pecou com ele. Nossa lealdade deve ser primeiro para com Deus, e não para com nossos pais, cônjuge, amigo, sexo, raça, igreja, nação ou qualquer outra pessoa ou grupo. Cada um de nós deve enfrentar Deus primeiro como indivíduo e não como comunidade; de fato, devemos romper prontamente com nossa comunidade ou mesmo nos opor a ela quando as pessoas se rebelam contra o Senhor. Sua fidelidade a Deus deve ser mais forte do que a qualquer homem, mulher ou grupo; caso contrário, sua fé é uma farsa. E a verdade é que seu relacionamento com uma pessoa ou grupo pode florescer em pureza e retidão somente quando se baseia em uma lealdade comum a Deus.
Jesus ensinou aos cristãos como lidar com o pecado na igreja: confrontar, intensificar, excomungar (Mateus 18:15–17). Primeiro confrontamos o ofensor e, se ele se recusar a se arrepender, agravamos a situação convidando outras testemunhas e, em seguida, apresentando o assunto a toda a comunidade. Se ele permanecer obstinado, ele é expulso da igreja e removido de qualquer associação com seus membros. O estágio final é a excomunhão, não a execução. Cortar a comunhão é a resposta mais severa que os cristãos podem dar a um ofensor. Os apóstolos insistiram no ministério pacífico e não violento, bem como na submissão ao governo e suas leis. Deus nos chamou para usar nosso discurso inteligente e comportamento justo para promover a verdade de Jesus Cristo.
Por outro lado, Deus pode matar quem quiser, em qualquer momento ou lugar, e ele não se submete a nenhum governo. Paulo explica: “Façam todo o possível para viver em paz com todos. Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: ‘Minha é a vingança; eu retribuirei’, diz o Senhor” (Romanos 12:18–19). Não é nossa função infligir dano a ninguém, não porque Deus não queira que ninguém seja prejudicado, mas porque Ele quer ser aquele que faz isso. Se alguém deve ser ferido, Deus quer ser aquele que o fere. Se alguém morrer, Deus quer ser aquele que o faz cair morto.
Os cristãos devem ser um povo pacífico. Os não cristãos não devem ter nada a temer de nós a esse respeito — falaremos com eles, às vezes de maneira severa, mas não moveremos um dedo para prejudicá-los. Isso não significa que os não cristãos nada tenham a temer; ao contrário, eles têm ainda mais a temer, porque o próprio Deus pode caçá-los e matá-los. Ananias e Safira eram membros da igreja, mas Deus não os poupou. Como Pedro escreve: “Pois chegou a hora de começar o julgamento pela casa de Deus; e, se começa primeiro conosco, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?” (1 Pedro 4:17). Os não cristãos discutem conosco, zombam de nós e nos perseguem, e não fazemos nada para prejudicá-los. Mas eles responderão a Deus. Ele pode fazê-los sofrer muito nesta vida, e mesmo que não faça nesta vida, ele os torturará severa e infinitamente no inferno, onde não há escapatória.
Pedro os lembrou que eles não mentiram aos homens, mas eles mentiram a Deus e tentaram seu Espírito. Aqui estava o erro fatal deles. Eles estavam tentando impressionar os homens, mas não estavam cientes de que estavam vivendo para Deus — todos os pensamentos e ações deles eram claros para ele. Nunca devemos cometer esse erro quando praticamos e apresentamos a fé cristã. Esta não é uma religião dos apóstolos. Esta não é uma comunhão de meros homens. A fé cristã é uma revelação do único Deus verdadeiro. A comunidade de Jesus Cristo não é apenas mais uma organização para o bem social e o benefício mútuo dos homens ou de sua ideologia compartilhada. É uma comunidade de santos, escolhida antes da criação do mundo, para a adoração e serviço da única divindade.
O mundo precisa ver que a igreja não tolerará o pecado e o abuso e que não abrigará hipócritas e criminosos em sua própria comunidade. Isso acontece quando seguimos a receita do Senhor de ensinar as pessoas e confrontar os ofensores. Deus matou Ananias e Safira para sinalizar seu descontentamento. Obviamente, ele não mata imediatamente todos os que pecam, ou não haveria lugar para disciplina e excomunhão na igreja. Podemos, entretanto, esperar que ele faça isso de vez em quando como um testemunho de sua justiça e julgamento, especialmente quando sua presença é forte com a igreja.
Ore para que Deus volte às nossas igrejas em sua força e poder, para que ele cumpra toda a sua vontade para julgar e punir aqueles que transgridem e se recusam a se arrepender, a fim de que as pessoas o temam e percebam que suas vidas não são delas mesmas, e que existem graves consequências para sua incredulidade e rebeldia. Os cristãos são um povo pacífico, e isso deve tornar a fé cristã ainda mais assustadora. Isso porque quando os cristãos não se vingam, Deus vem para vingá-los e reivindicar sua própria honra. E que coisa terrível é cair nas mãos do Deus vivo.
Vincent Cheung. Ananias and Sapphira, de Sermonettes — Volume 7 (2012), pp. 26–28. Tradução: Luan Tavares (17/10/2021).
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Copyright © 2012 por Vincent Cheung
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Sobre o autor: Vincent Cheung nasceu em Hong Kong (China), em 16 de setembro de 1976. Atualmente reside em Boston (EUA) com a sua esposa Denise. Ele é autor de mais de trinta livros e centenas de palestras sobre assuntos como teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como sistema de pensamento abrangente e coerente, como revelado por Deus na Escritura.