Algumas Perguntas para os Empiristas
INTRODUÇÃO
A seguir estão algumas perguntas que fiz a um ateu há vários anos no decorrer de uma comunicação escrita. Essas perguntas e outras semelhantes são irrespondíveis por qualquer sistema de crença que coloque qualquer dependência na confiabilidade das sensações, tornando-as insustentáveis.
As perguntas não se aplicam apenas a sistemas não cristãos, mas quase todas também se aplicam a qualquer sistema das supostas teologia cristã, filosofia ou apologética que afirme a confiabilidade das sensações, incluindo aquela que afirma que a confiabilidade das sensações é “apropriadamente básica” para que não exija justificação racional, e a escola de pseudo-pressuposicionalismo que afirma que as pressuposições bíblicas “explicam” a confiabilidade das sensações, da indução e da ciência.
Mesmo que seja “apropriadamente básico” poder enxergar uma miragem, também é propriamente inútil fazer isso, a menos que possamos saber, pela sensação, que é uma miragem. Portanto, a confiabilidade básica adequada não é suficiente; o empirista precisa de infalibilidade adequadamente básica. Mas ele ainda tem confiabilidade básica?
Então, é pura blasfêmia alegar que os princípios bíblicos podem “explicar”, em um sentido que aprova ou justifica, algo que é inerentemente ilógico ou impossível, como o empirismo, a indução e a ciência, cujo método de experimentação acrescenta a falácia da afirmação do consequente às falácias do empirismo e da indução. Assim, essa filosofia, que afirma ser um método de apologética, faz com que Deus e as Escrituras sejam cúmplices da irracionalidade e falsidade. Todavia, é verdade que a Escritura pode explicar esta blasfêmia insensata e perversa por sua doutrina da depravação humana.
O pseudo-pressuposicionalismo afirma começar dos princípios bíblicos como sua base, mas quando pressionado sobre o assunto, ele afirma, até insiste, que a confiabilidade das sensações é o ponto de partida epistemológico necessário, que é até mesmo a precondição pela qual os princípios bíblicos são conhecidos. Assim, a menos que esse sistema possa justificar a confiabilidade das sensações, ele é banido da própria Escritura e do próprio Cristianismo. Uma vez que, de fato, ele falha em justificar a confiabilidade das sensações, com ou sem pressuposições bíblicas, ele, por necessidade lógica, tornou-se uma filosofia pagã.
É claro que há muitas outras perguntas e desafios que podemos colocar aos empiristas, sejam eles da variedade “cristã” ou não cristã. Estes são fornecidos em meus outros escritos.
PERGUNTAS PARA OS EMPIRISTAS
Visto que a sensação é tão importante para sua visão, gostaria de entender sobre o que você está falando.
O que é uma sensação? Como você aprende o significado de uma sensação? Como você sabe quando está tendo uma sensação? Você disse que toda informação vem externamente e da sensação. Assim, você sente a sensação para saber que tem uma sensação? Se você sente uma sensação, então como você sabe disso? Você sente a sensação que sente a sensação? Então, você sente a sensação que sente a sensação que sente a sensação? Se essa não é a sua visão, então, por favor, explique. Isto é, se toda informação vem a partir da sensação, então como você sabe quando está tendo uma sensação?
Você alguma vez não teve uma sensação? Como sabe disso? A própria falta de uma sensação é uma sensação? Então, você sente que não está tendo uma sensação?
Você pode ter uma sensação e não estar cônscio dela? Como você sabe disso? Você alguma vez já sentiu que não estava cônscio de uma sensação particular? Se sim, então você não está de fato cônscio dela? Isso não nos leva de volta à pergunta original, isto é, você pode ter uma sensação e não estar cônscio dela?
Ou, você está cônscio de todas as sensações que está tendo? Como você sabe disso? Você sente que está sentindo tudo? Mas então, você sente que sente que está sentindo tudo? Como sabe? Novamente pela sensação?
Você sempre sente tudo ao seu redor? Se não, como você sabe que não está sentindo todas as coisas ao seu redor, se não está sentindo todas as coisas para saber o que há para sentir e saber o que está lá, mas sem sentir?
Existem ondas de rádio? Se sim, você sente as ondas de rádio? Todas as estações de rádio e TV ao mesmo tempo? Se você usa um dispositivo de rádio para melhorar essas ondas, então o que você está sentindo? O som do rádio, ou as ondas de rádio? Você ouve as palavras e a música do rádio? Se sim, então as ondas de rádio são palavras e músicas? Você poderia dizer que esses são os “efeitos” das ondas de rádio. Mas então, você está sentindo apenas os efeitos e não a causa. Se sim, como você conhece a causa? Se você infere a partir dos efeitos até a causa, então como sabe que a inferência é válida? Novamente pela sensação? O que você sente que confirmaria isso?
Além disso, como você sabe que não sabe certas coisas? Pela sensação? Novamente, a falta de sensação é uma sensação? Como sabe disso? Você sente que uma falta de sensação é uma sensação?
Então, se você sabe que não sabe certas coisas, o que são essas “certas coisas”? Se sabe o que elas são, então você deve saber o que elas são pela sensação, mas então, isso significa que você as sentiu — se sim, em que sentido você não as conhece?
Você crê que a terra é plana, ou que é uma esfera? Se crê que é uma esfera,então como sabe disso? Pela sensação? Como? Você já viu a terra do espaço?
Ou você confia nos experts e cientistas? Mas então, você não sentiu o que alega conhecer, mas sentiu somente o testemunho desses “experts”. Talvez você tenha visto uma foto da terra? Mas uma foto não é a terra, de forma que na melhor das hipóteses você sentiu uma foto. Como você sabe que a foto não foi “adulterada”? Pela sensação? Como você sente que ela “não foi adulterada”? Além disso, uma foto é plana; assim, como a terra é uma esfera?
O sol parece muito plano para mim. Agora suponha que eu olhe para o sol a partir do espaço e veja que ele é esférico; então, em que devo crer? Se afirmarmos que o sol e a terra são esferas e que fazem movimento de rotação, a rotação não é realmente sentida, mas calculada. Mesmo então, como você confirma que nenhum erro foi feito no cálculo? Novamente pela sensação? O que você sente para saber disso?
Além disso, você crê em átomos? Já sentiu um átomo? Mesmo que tenha sentido, como sabe que há outros átomos além daqueles que sentiu? Ou devemos apenas confiar nos cientistas? Eles são o seu papa? Se você não crê em tudo o que eles dizem, então por que aceita algumas das coisas que eles dizem e não outras, quando na verdade você não sentiu nenhuma delas (exceto o testemunho deles, se mesmo isso)? Eles já sentiram os átomos? Eles já sentiram os efeitos dos átomos? Se sim, como sabem que aqueles efeitos foram produzidos pelos átomos? E ainda, talvez eles sentiram os efeitos (se mesmo isso), e não os átomos.
Como você aprendeu seu nome? Você aceitou uma palavra como seu nome, apenas por que pessoas chamaram você de alguma coisa um número suficiente de vezes? Eu posso pensar em várias coisas para lhe chamar além do seu nome, mas você aceitaria uma ou mais dessas palavras como seu nome ou nomes, se eu lhe chamasse disso com uma frequência suficiente? Por que sim ou por que não? Se eu lhe chamar de “Ralph” duas vezes, você aceitaria esse como o seu novo nome? E o que dizer sobre seiscentas vezes? Por que sim ou por que não? Com que frequência é “frequência suficiente”? Como você soube que foi suficiente quando primeiro aceitou seu nome? Você sente o “suficiente”? Ou os efeitos do “suficiente”? Como? Você é o cão de Pavlov? Mas nem sempre havia comida após a sensação do toque da sineta, havia? Ou você de alguma forma inferiu a partir do que ouviu? Se sim, você sentiu a inferência? Por favor, escreva o processo de inferência em forma silogística, de forma que possa exibir sua validade lógica.
Você gosta de lógica? Você quer ser racional? Então, como você aprendeu a lei da contradição (ou não contradição)? Se você aprende todas as coisas por sensação, então como você sentiu a lei da contradição? Se você a sentiu (viu ou ouviu) sendo usada ou aplicada e então inferiu esta lei, então o seu conhecimento ainda procede da sensação? Ou procede da sensação mais a inferência lógica? Mas então, como você usou a inferência lógica antes de aprender a lei da contradição? Também, antes de aprender a lei da contradição, você teve sensações? Se sim, você aplicou a lei da contradição àquelas sensações, de forma que uma sensação não poderia significar uma coisa e o seu oposto ao mesmo tempo? Se você não aplicou a lei, então como todas as sensações não eram absurdas? Se você aplicou a lei, como pôde fazer isso antes de aprendê-la?
Como você aprendeu a palavra “Deus”? Se todo conhecimento procede da sensação, então você sentiu Deus? Se você sentiu Deus, então por que você é um ateu? Se você não sentiu Deus, então talvez ouviu a palavra e inferiu o significado da palavra, mas então pela sensação você aprendeu somente o som e não o significado, visto que você inferiu o significado. Mas então, você e eu inferimos a mesma coisa do som? Queremos dizer a mesma coisa quando dizemos “Deus”? Se não queremos dizer a mesma coisa, então todos os argumentos que você tem contra “Deus” não se aplicam a mim.
Quanto à questão de identidade pessoal, como você sabe que hoje você é a mesma pessoa que era ontem? Você sente que é a mesma pessoa? Mas duas coisas diferentes não podem lhe dar a mesma sensação? Se sim, então o problema permanece. Se não, então como você sabe? Isto é, como ou o que você sentiu por meio do que duas coisas neste universo podem lhe dar a mesma sensação, de forma que você sempre consiga discernir coisas diferentes?
Vincent Cheung. Sermonettes — Volume 1, pp. 67–70.Traduzido por Luan Tavares em 20/08/2019.