Acupuntura, Dim Mak e Ciência

Vincent Cheung, Blasphemy and Mistery (2007).

As Obras de Vincent Cheung
5 min readMay 22, 2021

Qual é a sua opinião sobre a acupuntura? Você tem algo contra isso?

Eu não tenho estudado o suficiente sobre o assunto para fazer um veredicto definitivo ou aceitar o veredicto de outra pessoa. No momento, eu tenho uma visão geralmente negativa sobre isso. Um dos motivos é que ela se baseia em teorias do fluxo de “chi” e pontos de energia no corpo. Relacionado à acupuntura está o “dim mak”, que se baseia nas mesmas teorias, mas pode ser usado para infligir ferimentos, morte e outros efeitos. Embora exagerado no cinema, é um verdadeiro ensinamento nas artes marciais.

A pergunta traz à mente uma questão mais ampla que é relevante para todas as outras questões relacionadas, que são os padrões pelos quais os cristãos usam para determinar se uma determinada prática, exercício ou tratamento é espiritual e moralmente aceitável. Pelo que descobri, parece que os cristãos têm uma atitude surpreendente de aceitação em relação à acupuntura apenas porque é dito que existem dados científicos para apoiar sua eficácia, de modo que não é necessário aceitar a teoria do chi (ou outras teorias relacionadas a misticismo e falsa religião) para abraçar o tratamento em si.

No entanto, se fizemos da ciência o padrão pelo qual julgamos se algo é permitido por Deus, então nossa identidade cristã já sofreu uma tremenda devastação. Desde quando a aprovação da ciência médica ocidental é o padrão pelo qual os cristãos devem agir? Se essa forma de pensar for permitida, as comportas se abrirão para quase todas as práticas originalmente associadas a religiões falsas ou espiritualmente duvidosas. Isso inclui ioga, meditação, hipnose, controle da mente, terapia subliminar e todos os tipos de práticas psíquicas e ocultas. Até mesmo a necromancia recebe uma explicação científica de algumas pessoas que afirmam possuir esse tipo de dados para apoiar sua visão. De fato, é precisamente porque os cristãos aceitaram essa maneira de pensar que muitas igrejas hoje são centros para o ocultismo. Eles teriam sido apedrejados até a morte sob o comando de Moisés.

Uma resposta é fazer a distinção de que a ciência conectada com algumas dessas coisas é pseudociência, de modo que a ciência não justifica de fato todas elas. No entanto, mesmo com os padrões aceitos pela ciência, existe uma pseudociência em todas as áreas de investigação, sem falar nas fraudes nas áreas de estudo mais sérias. Refutar algumas afirmações não refuta todas as afirmações, especialmente quando alguns desses cientistas carregam credenciais tão legítimas quanto as de seus críticos e trabalham com as universidades e instituições mais conceituadas.

Além disso, pelo menos em minha própria pesquisa, muitas tentativas de refutações são baseadas na suposição anterior de que as teorias e alegações sob investigação são impossíveis. É claro que sempre é possível refutar o método científico e o próprio raciocínio científico (como eu faço), de modo que as afirmações que usam tal método e raciocínio sejam refutadas de uma só vez. Isso coloca a ciência em seu lugar e a torna impotente para fazer qualquer pronunciamento sobre a natureza da realidade. Mas aqui estamos nos referindo a disputas entre cientistas que não duvidam de seu próprio método e raciocínio.

Não estamos interessados ​​em destruir a ciência, mas em humilhá-la e colocar a disciplina e seus praticantes em seu lugar. E em seu lugar, eles não têm autoridade para fazer qualquer pronunciamento sobre a natureza da realidade. Essa autoridade pertence somente à revelação divina. Não porque sejamos fideístas no sentido de que pensamos que a fé e a razão se contradizem e que devemos ficar do lado da fé contra a razão. Mas é porque somos racionalistas no sentido literal do termo (não no sentido histórico ou popular), e sabemos que o bíblico também é o racional. Por outro lado, devemos descartar a ideia de que a ciência representa a racionalidade. De fato, temos demonstrado repetidamente que a ciência é irracionalismo sistemático, cometendo a tripla falácia do empirismo, indução, e afirmação do consequente. Portanto, ela deve ser a última da fila a levantar objeções contra o Cristianismo.

Além disso, mesmo que ignoremos o exposto acima por um momento, neste contexto, não importa se uma afirmação é apoiada pela pseudociência ou pela ciência “real”, uma vez que nossa reclamação é contra o tipo de pensamento, tão comum entre os cristãos, que usa a ciência como o padrão final, procurando por ela permissão para questões morais e para resolver questões espirituais. Portanto, a questão é que só porque a ciência médica ocidental afirma que a acupuntura pode funcionar não a torna automaticamente aceitável para os cristãos. De fato, ela não faz quase nada para nos aproximar dessa conclusão.

Talvez a maneira comum de pensar se deva em parte a um preconceito egocêntrico — é pensar que tudo em que confiamos já deve ser moral e biblicamente aceitável. Muitos crentes professos não apenas confiam na ciência (investigação humana e especulação — em outras palavras, eles confiam em si mesmos) mais do que na revelação (os pronunciamentos e revelações de Deus), mas permitem que a ciência determine como eles interpretam a revelação.

Existem pelo menos duas razões pelas quais muitos estão ansiosos para reconciliar fé e ciência. Eles supõem que a ciência é a própria imagem da racionalidade e da precisão, mas mostramos em outro lugar que ela é abrangente e exaustivamente falaciosa. Alguns supõem que o método científico decorre do mandato cultural — mas não decorre. Só porque existe um mandato cultural não significa automaticamente que o método científico decorre dele, ou que a investigação científica é a maneira de realizá-lo, ou que o método científico é racional, ou que as teorias e conclusões científicas têm algo a ver com a verdadeira natureza da realidade. Novamente, esta é a suprema arrogância de definir a perfeição espiritual, moral e racional por nossas crenças e práticas atualmente aceitas.

Isso é análogo ao que muitos crentes ocidentais pensam quando se trata de política e economia — isto é, tudo o que é americano deve ser cristão também, de modo que passamos a julgar se uma teoria da política ou economia é moral pelo fato de ser americana, que assumimos ser cristão. Também é comum que alguns crentes ocidentais leiam a Bíblia dessa maneira, de modo que tendam a ver a democracia e o capitalismo, na forma exata a que estão acostumados, em todas a Escritura. A obra Business for the Glory of God, de Grudem, é um exemplo desse erro.

Vincent Cheung. Blasphemy and Mistery (2007), pp. 67–68. Tradução: Luan Tavares (22/05/2021).

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Written by As Obras de Vincent Cheung

Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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