A Queima de Livros

Vincent Cheung, Sermonettes — Volume 1 (2010).

As Obras de Vincent Cheung
5 min readSep 20, 2021
Saint Paul and the burning of pagan books at Ephesus (1612), de Lucio Massari.

Quando isso se tornou conhecido de todos os judeus e gregos que viviam em Éfeso, todos eles foram tomados de temor; e o nome do Senhor Jesus era engrandecido. Muitos dos que creram vinham, e confessavam, e declaravam abertamente suas más obras. Grande número dos que tinham praticado ocultismo reuniram seus livros e os queimaram publicamente. Calculado o valor total, este chegou a cinquenta mil dracmas. Dessa maneira a palavra do Senhor muito se difundia e se fortalecia. (Atos 19:17–20)

Não importa o quanto a distorçamos com alguma abordagem de “história da redenção”, e não importa o quanto tentemos “pregar a Cristo de toda a Escritura”, a passagem existe em um contexto definido do qual não podemos escapar. Se as condições que cercam o texto estão ausentes em nossos dias, então uma aplicação direta dificilmente é razoável, e pode significar apenas conversa fiada e expectativas não satisfeitas.

Quando se trata da igreja moderna, as coisas não parecem boas. Exceto por algumas seitas que parecem problemáticas em teologia e que são vilipendiadas por outras tradições, quase todas as condições que vêm antes de nossa passagem se tornaram irrelevantes. Os cristãos geralmente não impõem as mãos sobre as pessoas (v. 6a). Embora Atos dos Apóstolos registrem uma série de exemplos em que o Espírito Santo é recebido como uma segunda experiência subsequente à conversão (v. 6b), eles dizem que todos esses casos foram exceções e, exceto para todas as exceções, o Espírito Santo é recebido na conversão. Essa maneira de raciocinar é a base de várias doutrinas tradicionais importantes e é uma maneira extremamente conveniente de fazer teologia. Exceto em todos os casos em que estou errado, eu sempre estou certo. Exceto para todos os casos em que a Bíblia diz algo diferente, a Bíblia sempre concorda comigo. Maravilhoso.

Aqui, eu não tenho intenção de discutir este tópico do Espírito Santo. Neste momento, pelo que me importa, você pode até crer que a conversão é uma segunda experiência subsequente à dotação do Espírito. No entanto e sempre que o obtêm, supõe-se que os cristãos tenham o poder do Espírito Santo. Nós temos? Diga! Nós temos? Os cristãos modernos exibem quase nenhum dos sinais de poder, fé, sabedoria e graça que os primeiros discípulos possuíam. Eles não têm línguas e nenhuma profecia (v. 6c). Eles não falam com ousadia (v. 8a). Eles não discutem de forma persuasiva (v. 8b). Eles não realizam milagres, muito menos os extraordinários (v. 11). Eles dependem quase exclusivamente da ciência médica para curar doenças (v. 12), e alguns deles pensam que todos os espíritos malignos desapareceram (v. 12). Antes as pessoas eram possuídas, agora elas são simplesmente loucas.

Portanto, é difícil ensinar com esta passagem como o mesmo efeito pode ser produzido nesta geração, como fazer com que os incrédulos sejam “tomados de temor” (v. 17b), e para que o nome do Senhor Jesus seja “sustentado em alta honra” (v. 17c, NIV), e para obrigar aqueles que creem a confessar abertamente suas más obras (v. 17d). De fato, é fácil ensiná-la, dizer o que ela diz. Até uma criança pode entendê-la. Mas é difícil fazer os cristãos crerem. Em vez disso, temos o efeito oposto no mundo: os não cristãos são tomados de desdém por nós, e até mesmo os cristãos não têm o nome de Cristo em alta honra.

O resultado é que é difícil fazer qualquer aplicação, exceto para mostrar como os cristãos modernos são fracos, infiéis e impotentes. Eu tenho certeza de que pregadores desonestos e imaginativos podem extrair algum princípio histórico-redentor disso, não que a abordagem seja sempre um problema, mas o próprio texto é claro — poder milagroso, em uma medida assustadora, acompanhou o testemunho dos primeiros cristãos, tanto que as pessoas foram tomadas de temor e engrandeceram o nome de Cristo. É o que diz o texto.

No entanto, uma vez que esse poder foi negado, farei o melhor que puder. Deixe-me pensar sobre isso. Aha! Pelo menos ainda sabemos fazer fogo para queimar alguns livros (v. 19). Ainda acreditamos no fogo, não é? O fogo não morreu com os apóstolos. Infelizmente, agora temos trituradores poderosos e um sistema avançado de eliminação de lixo. Ainda assim, considere as vantagens de queimar livros não cristãos:

Primeiro, reflete a desaprovação de Deus das religiões não cristãs, ensinamentos e práticas ocultas e todos os tipos de magia, adivinhação e doutrinas esotéricas. Esses males antigos persistem até hoje, e é decepcionante ver o número de cristãos professos que se envolvem, ou mais do que se envolvem, em astrologia, feitiçaria, necromacia e todos os tipos de artes proibidas, mesmo que apenas na forma de derivados mais suaves. Se você é pastor, pergunte quantos em sua congregação consultaram médiuns após sua profissão de fé. Não peça para levantar as mãos — a menos que você tenha o poder de Atos 19:4–16, não espere a honestidade de Atos 19:18. Mas se você prestar atenção, talvez veja alguns deles se contorcerem em seus assentos.

Segundo, descreve a punição de Deus para aqueles que estudam e praticam os materiais proibidos. Apocalipse 21:8 diz que, junto com incrédulos, idólatras e assassinos, aqueles que praticam artes mágicas serão lançados no lago de fogo. Uma cerimônia onde materiais não cristãos são queimados com fogo fornece uma imagem do que Deus fará para aqueles que não os abandonarem nas chamas. Ou eles desistem de seus livros para serem queimados com o fogo terreno, ou eles desistem de suas almas para serem queimados com o fogo infinito do inferno.

Terceiro, testifica nosso acordo com Deus sobre este assunto, que não há bondade e nem salvação, mas apenas mal, engano e blasfêmia, em ensinamentos não cristãos, especialmente em seus materiais espirituais e ocultos, e que aqueles que acreditam e os praticam merecem ser punidos pelo fogo do inferno, que nunca enfraquece e nunca abranda.

Embora muitos de nós rejeitem o antigo poder dos apóstolos e, portanto, não compartilhamos dele, todos os antigos pecados e manifestações permaneceram conosco. Negamos que os poderes ocultos sejam reais e, se as coisas saírem do controle, nós pedimos aos não cristãos que nos salvem prendendo as pessoas em instituições mentais. Quando se trata de coisas realmente assustadoras, vamos deixar os pentecostais cuidar delas. Deixemos nossos loucos lidarem com seus loucos. Os apóstolos demonstraram uma maneira melhor.

Devido às poderosas demonstrações de poder divino, a palavra do Senhor “muito se difundia e crescia em poder” (v. 20, NIV). Para aqueles que se dizem cristãos, mas que rejeitam esse poder, ou pelo menos essa extensão de poder, meu conselho é orar por tanto quanto você ousar, e então expandir seu pensamento para aceitar um pouco mais. Se você não pode se livrar da tradição religiosa que o proíbe de obedecer a Cristo, que por meio de Paulo ordenou que você cobiçasse os dons e poderes espirituais, então, pelo bem da igreja, cobice o máximo que puder antes que o chamem de herege. E ao pedir ao Senhor por maior poder e eficácia no ministério do evangelho, pode ser que ele também lhe conceda a humildade de dizer, talvez na privacidade de sua casa, quando ninguém está ouvindo: “Senhor, eu creio, ajuda a minha incredulidade!”.

Vincent Cheung. The Burning of Books. Disponível em Sermonettes — Volume 1 (2010), pp. 109–111. Tradução: Luan Tavares (20/09/2021).

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Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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