A Prosperidade dos Ímpios

As Obras de Vincent Cheung
5 min readFeb 20, 2021

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Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei. Pois tive inveja dos arrogantes quando vi a prosperidade desses ímpios. (Salmo 73:2–3)

A Bíblia é um livro de respostas e não um livro de quebra-cabeças intermináveis. Quando seus discípulos perguntaram por que ele falava à multidão por parábolas, Jesus respondeu: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado” (Mateus 13:11 ARC). A incapacidade de entender as coisas de Deus não é uma conquista religiosa, mas um sinal de reprovação. Os teólogos têm o hábito condenável de exibir essa maldição dos demônios como se ela fosse um emblema de santidade e reverência. “Mas”, você diz, “você não acredita na distinção criador-criatura?”. É claro! É por isso que quando o criador lhe diz que você pode entender algo, é melhor você se curvar e admitir que pode entendê-lo, e entendê-lo muito bem.

Jesus disse aos seus homens: “Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu tornei conhecido a vocês” (João 15:15). O que isso diz sobre aqueles pregadores e teólogos que impõem um mandato de incompreensibilidade ao povo de Deus, como se fosse um dever moral nosso evitar o entendimento e confessar que o entendimento é impossível? Só pode significar que eles não são amigos de Cristo e que também não querem que você seja amigo dele.

Eles nos dizem: “Venha agora, venha conosco para esta caverna de escuridão. Lá encontraremos Deus. E quando o encontrarmos, ele tornará tudo ainda mais escuro, até que tudo se transforme em loucura e confusão”. Mas nós respondemos: “Afastem-se de nós, mensageiros de Satanás! Nosso Cristo é a luz da vida e veio expor sobre Deus e a salvação. Ele veio para nos dar compreensão, para despertar nossa inteligência, para nos conceder interesse e percepção nas coisas de Deus. Ah, olhe para o alto, olhe para o alto! Lá está ele, tão brilhante quanto o sol do meio-dia. Não iremos com vocês, mas iremos até ele”.

Uma das questões persistentes que preocupam os cristãos é a prosperidade dos ímpios. Asafe, o escritor do Salmo 73, viu que os ímpios viviam sem problemas, enfermidades e fardos. Eles aumentaram em orgulho e violência, em riqueza e seguidores. E eles até se gabavam: “Como saberá Deus? Terá conhecimento o Altíssimo?”. Ainda assim, problemas não aconteceram a eles e seu sucesso continuou inabalável. Asafe ficou tão perturbado com isso que teve uma crise de fé. Ele pensou: “Certamente me foi inútil manter puro o coração e lavar as mãos na inocência”. Parecia-lhe, como a muitos outros, que se alguém devia ser rico, forte e feliz, deveria ser aquele que servisse a Deus com fé e reverência. Por que os iníquos são recompensados ​​e os justos punidos?

Mesmo nessa condição triste, Asafe permaneceu fiel em um ponto crucial. Ao pensar nisso, o assunto tornou-se “muito difícil” para ele. Mas ele percebeu que se tivesse desabafado para os outros, “teria traído os teus filhos”. Muitos pregadores e teólogos hoje falam como se fossem agentes do diabo e da incredulidade. Eles se identificam com as amargas queixas dos homens contra Deus em nome da empatia. Eles encorajam os homens a liberar sua suspeita e ressentimento contra a providência divina, mesmo na oração, ou especialmente na oração, e asseguram-lhes que, fazendo isso, eles estariam apenas imitando os profetas e o melhor dos santos. Em vez de dizer: “Fique quieto e saiba que ele é Deus, para não blasfemar em sua mente ou em sua fala”, eles dizem: “Ele é seu pai! Coloque-o contra a parede!”. Esta, de fato, me parece ser a opinião da maioria. Mas Asafe faz um julgamento correto — eles são traidores, não professores e consoladores. Eles encorajam o povo de Deus a blasfemar e a fazer isso no rosto dele.

Então, Asafe foi sustentado pelo poder de Deus e guiado pelo conselho de Deus (vv. 23–24) e, ao se aproximar de Deus, percebeu a resposta que resolvia todo o assunto. Ele “compreendeu o destino dos ímpios” e percebeu que os ímpios prosperaram porque Deus os colocou “em terreno escorregadio”. Ele cercou os réprobos com conforto e amigos para que aumentassem em orgulho e se tornassem calejados pelo pecado. A prosperidade dos ímpios não é uma recompensa, mas uma armadilha.

Asafe percebeu outra coisa. Ele percebeu que Deus não o deixou sem nada, mas ele tinha a única coisa que importava — o próprio Deus. Ele escreveu: “A quem tenho nos céus senão a ti? E, na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti. O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu coração e a minha herança para sempre”. O sofrimento dos justos é para mantê-los alertas no espírito e forçá-los a amadurecer em conhecimento e piedade.

A prosperidade dos ímpios é mantê-los espiritualmente adormecidos e sem consciência do fogo e enxofre que em breve choverá sobre eles. Quando Deus se levantar contra eles, ele “os fará desaparecer”, porque “destruirá todos os infiéis”. Asafe concluiu: “Mas, para mim, bom é estar perto de Deus; fiz do Soberano SENHOR o meu refúgio; proclamarei todos os teus feitos”. O conselho divino renovou seu apreço por seu lugar em Deus e renovou sua motivação para o serviço.

Enquanto eu crescia, e antes de estar muito familiarizado com a Bíblia, uma das perguntas persistentes que me deixava intrigado não era a prosperidade dos ímpios, mas por que os cristãos agonizariam com a prosperidade dos ímpios. Parecia-me que eles eram fracos de espírito, profanos e irreverentes. Essa opinião encontraria oposição esmagadora em quase todos os círculos cristãos, mas é a opinião da Escritura, o veredicto do próprio Deus sobre o assunto. Asafe admitiu que embora seu coração estivesse entristecido e amargurado, ele era “insensato e ignorante”, até mesmo “um animal irracional” diante do Senhor. Se os cristãos aprendessem a concordar com isso, isso revolucionaria nossa pregação e aconselhamento, e produziria verdadeira fé e reverência no povo de Deus.

Vincent Cheung. The Prosperity of the Wicked. Disponível em Sermonettes — Volume 1 (2010), pp. 27–28. Tradução: Luan Tavares (20/02/2021).

© Vincent Cheung. A menos que haja outra indicação, as citações bíblicas usadas neste artigo pertencem à BÍBLIA SAGRADA, NOVA VERSÃO INTERNACIONAL ® NVI ® Copyright © 1993, 2000, 2011 de Sociedade Bíblica Internacional. Todos os direitos reservados.

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Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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