A Manobra Fatal
Há uma manobra fatal no debate em que se você conseguir mostrar que a posição de seu oponente se contradiz ou se torna impossível, então você efetivamente destruiu a posição dele e tudo o que se segue dela. É um movimento poderoso. Ela coloca seu oponente em xeque-mate. No entanto, se for usada ilegitimamente, ela pode sair pela culatra e infligir um golpe fatal contra a posição de quem a usa.
Meu sistema de filosofia e método de apologética é justamente chamado de “bíblico” ou “pressuposicional”. Eu começo com a revelação e deduzo o restante do sistema a partir dela. A partir desse princípio básico, o sistema pode ser adaptado para responder a qualquer objeção, bem como para destruir qualquer sistema oposto. O sistema é construído sobre a revelação e depois usa a dedução para derivar a informação inerente à revelação. Desde o início, ele exclui epistemologias irracionais e impossíveis, como aquelas que colocam qualquer confiança na intuição e na sensação.
Uma escola proeminente de apologética “pressuposicional” protesta que isso certamente vai longe demais. Ela admite que a indução é falaciosa, pelo menos por si mesma, mas, de alguma forma, é redimida quando operamos sob pressuposições bíblicas. Ela admite que a sensação não pode produzir conhecimento, pelo menos por si mesma, mas pode funcionar como uma maneira confiável de adquirir conhecimento, uma vez que os princípios bíblicos sejam assumidos. Ou, ela diz que o incrédulo pode usar indução e sensação com bom efeito, mas apenas que ele não pode “contar” com ela. Eu já critiquei esta escola incoerente e antibíblica de apologética em vários lugares, e não é meu propósito principal criticá-la novamente aqui. Mas no restante desta discussão, precisamos ter em mente que seus adeptos nunca mostraram o que ou como as pressuposições bíblicas podem tornar o que é inerentemente irracional e ilógico tornar-se racional e lógico. É apenas uma afirmação injustificada da parte deles.
Todavia, meu ponto diz respeito a outra coisa, sobre como essa escola de apologética tenta refutar a minha, e como o tiro sai pela culatra contra eles. Uma objeção frequente é que se devemos começar a partir da Bíblia, então certamente devemos primeiro usar nossos sentidos para ler a Bíblia. Eu já respondi isso várias vezes em vários lugares, e não houve tentativas bem-sucedidas de refutação. Entre outras coisas, essa objeção comete a falácia de petição de princípio e, antes de tudo, ignora minha posição. Isto porque se eu estiver correto, então nós realmente não precisamos usar nossos sentidos (no sentido pretendido pelos meus oponentes) para ler a Bíblia. Eu poderia responder à objeção exatamente como responderia a qualquer ateísta empirista — eu poderia levar o debate para um mundo puramente mental (como em um sonho) apenas sugerindo isso. A partir daí, posso restabelecer o mundo físico pelo meu primeiro princípio, mas o que aconteceria ao empirista, seja cristão ou não?
Porque eu respondi a objeção, ela não conseguiu me prejudicar. No entanto, agora que meus oponentes declararam a objeção e a declararam como algo que é consistente com a posição deles, eles devem respondê-la para si mesmos. Porque eles afirmaram que é preciso usar seus sentidos para saber o que a Bíblia diz, agora eles devem mostrar que nossos sentidos são infalíveis, ou se nossos sentidos são falíveis, que existe uma maneira infalível de dizer em quais instâncias eles estão corretos e em quais instâncias eles estão incorretos. Se eles não podem fazer isso, então não podem ler a Bíblia, de modo que todo o seu sistema — toda a sua fé cristã — se desmorona, e o faz tão facilmente quanto o ateísmo empírico, ou qualquer religião ou filosofia não cristã.
Alguns deles tentam justificar a sensação como uma maneira confiável de obter conhecimento. Argumentar a favor do empirismo desconsiderando a Escritura é impossível, e eles reconhecem isso. E assim, aparentemente consistente com sua própria posição, eles argumentam pela confiabilidade básica da sensação das Escrituras. Mas o que seria necessário para estabelecer a posição deles a partir das Escrituras? Eles reconhecem que nossos sentidos são falíveis e, portanto, não estão interessados em apoiar o empirismo argumentando que os sentidos são infalíveis. Entretanto, se os sentidos são falíveis, eles devem estabelecer a partir das Escrituras um método infalível para distinguir instâncias em que os sentidos estão corretos e instâncias em que estão errados. Mas se eles têm um método, e se o método deles é falível, então ainda precisamos saber infalivelmente quão falível é e quando é falível; caso contrário, tudo isso se transforma em ceticismo novamente. Eles nem mesmo chegaram perto de estabelecer nada disso. Na melhor das hipóteses, eles mostraram apenas que a sensação de um dado personagem bíblico era precisa em um caso particular, porque a Bíblia revela que era precisa naquele caso em particular. Pelo que sabemos, essa pessoa nunca teve outra sensação precisa novamente. Então eles precisam de muito mais que isso. O que eles precisam (mas não fornecem) é uma teoria da epistemologia referente à sensação que se aplica às pessoas e experiências que não estão descritas na Bíblia.
Porque eles insistem no empirismo, mas falham em justificá-lo, então, ao aplicar a objeção contra mim, eles se afastaram completamente da Bíblia. Na tentativa de realizar uma manobra fatal contra minha posição, eles destruíram a deles. De fato, a menos que eles possam responder a sua própria objeção, eles não podem sequer ter uma objeção contra mim, já que de acordo com eles, eles precisariam da confiabilidade dos sentidos para ler ou ouvir sobre a minha posição em primeiro lugar. Portanto, se eu fosse levar a posição deles a sério, eu teria que dizer que todo o sistema deles se desintegra, que não há como eles saberem de nada que está na Bíblia, que eles nunca ouviram o Evangelho, e que nem sequer podem ser cristãos. Mas como não os levo a sério, e como posso explicar suas vidas com a minha posição, posso ser mais caridoso com eles do que a posição deles permite.
Dessa forma, qualquer não cristão pode confrontar os adeptos desta escola de apologética e, aparentemente, derrubar todo o sistema cristão usando apenas este ponto. É verdade que a maioria dos não cristãos não fará isso, porque a maioria dos não cristãos tem o empirismo como parte integrante de seus sistemas de crenças, de modo que eles geralmente não atacam o que eles mesmos acreditam. No entanto, se um não cristão está encurralado, ele pode sempre trazer isso à tona para garantir a destruição mútua. Assim, declaro que essa outra escola de apologética pressuposicionalista é um completo fracasso. Na medida em que ela adere à Escritura em suas várias partes, é claro que ela é superior a sistemas não cristãos, mas isso é irrelevante na construção de uma filosofia, uma vez que ela falha no início, de modo que ela não pode sequer chegar àqueles partes das Escrituras, e se os não cristão alguma vez se despertarem para isso, o debate e o evangelismo será um desastre total para esses crentes.
Se alguém discordar do que foi dito acima, que ele prove — não apenas afirme — como, pela sensação, ele consegue ler até mesmo uma palavra da Bíblia. Demonstre logicamente como isso acontece — estabeleça todas as premissas e mostre que cada passo prossegue pela inferência necessária — e abrirei mão de todo o debate sobre esse assunto. Qualquer outra coisa que você diga é irrelevante — você afirmou a necessidade da sensação, como algo que você precisa mesmo antes de ler a Bíblia, então agora você deve estabelecê-la.
Se você é incapaz de fazer isso, mas insiste em manter a sua posição, então deixe-me dar-lhe um conselho. Você pode nunca encontrar um não cristão que desafiará a confiabilidade da sensação, mas se alguma vez encontrar alguém que o faça, saiba que a resposta é rejeitar a sensação e apoiar-se somente na revelação. Muitas pessoas estão interessadas em defender um teólogo-ídolo, mas eu estou interessado na causa de Cristo. Eu não posso impedir se você deve permanecer em sua posição falsa e desonesta por causa de sua lealdade a uma personalidade particular ou escola de pensamento. Mas lembre-se do que estou dizendo. Um dia você pode precisar. Nem todo não cristão que você debate lhe dará o mesmo passe sobre esta questão que você dá a si mesmo.
Então, há outra objeção que tem a ver com a minha visão sobre a soberania divina e como ela se relaciona com a metafísica e a epistemologia. Eu afirmo que Deus deve ser ativo em facilitar e controlar todos os pensamentos humanos, sejam eles verdadeiros ou falsos, bíblicos ou heréticos. Os adeptos dessa outra escola de apologética pressuposicional novamente tentam realizar uma manobra fatal contra mim. Eles sugerem que, do meu ponto de vista, eu poderia estar enganado ao afirmar minha opinião. Primeiro, isso é simplesmente estúpido, já que a Bíblia diz que Deus pode enviar espíritos malignos para convencer pessoas de erros. Então, não importa como isso acontece, Deus é quem decretou que alguém seria enganado. Segundo, eles demonstram que realmente não têm ideia de como realizar essa manobra fatal, uma vez que ela também sai pela culatra contra eles. Se eu estou enganado da maneira que a objeção sugere (isto é, pela minha própria explicação de como alguém acredita na falsidade), então isso realmente prova minha posição. Se estou enganado da maneira como digo que alguém está enganado, então, na verdade, não estou enganado. Para ilustrar: Se Deus envia um demônio para “enganar” alguém a pensar que Deus não envia demônios para enganar, então Deus de fato envia demônios para enganar. Da mesma forma, se Deus faz com que eu acredite na “falsidade” que é Deus quem faz com que alguém acredite na mentira, então Deus de fato faz com que alguém acredite na mentira, e eu não sou de fato enganado. Em outras palavras, minha posição não pode ser demonstrada como autorrefutável da maneira que a objeção pretendia.
A manobra fatal de mostrar autocontradição na posição do seu oponente pode ser um movimento poderoso e eficaz em debate. Apenas certifique-se de que a posição do oponente é, de fato, autorrefutável e que sua objeção não dá um tiro pela culatra contra você. Cuide para que essa manobra fatal não seja fatal apenas para você. É claro que, se pode sair pela culatra para mostrar incoerência em sua própria posição, então sua posição está errada e não vale a pena defender em primeiro lugar, como mostrado acima.
E se você ainda discordar, aqui está outro exercício. Mostre este artigo para qualquer não cristão acima da sexta série e diga-lhe para aplicar o que ele lê aqui. Agora veja se você ainda pode defender sua fé contra ele usando sua marca de apologética “pressuposicional”.
Vincent Cheung. Captive to Reason, pp. 37–39 Traduzido por Luan Tavares em 25/10/2018.
Sobre o autor: Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos.
Site oficial: https://www.vincentcheung.com/