A Incompreensibilidade de Deus
Extraído de Commentary on Colossians (2008).
COLOSSENSES 1:9–14
Por essa razão, desde o dia em que o ouvimos, não deixamos de orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual. E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus e sendo fortalecidos com todo o poder, de acordo com a força da sua glória, para que tenham toda a perseverança e paciência com alegria, dando graças ao Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no reino da luz. Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.
As cartas e orações de Paulo demonstram que sua prioridade é que os cristãos aumentem seu conhecimento. Embora leve a outras coisas que ele também valoriza, o conhecimento espiritual — ou teologia, que é apenas um termo formal para a mesma coisa — vem primeiro com o apóstolo (1:28–29). Aqui ele escreve: “Não deixamos de orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual” (1:9). Ou, como ele escreve aos efésios: “Peço que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o glorioso Pai, dê a vocês espírito de sabedoria e de revelação, no pleno conhecimento dele” (Efésios 1:17). E para os filipenses, ele diz: “Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo” (Filipenses 1:9–10).
Sabedoria, conhecimento, discernimento e afins são necessários e fundamentais para o desenvolvimento espiritual. Sem eles, é impossível compreender “a vontade de Deus”, “o pleno conhecimento dele”, “discernir o que é melhor” e “ser puro e irrepreensível até o dia de Cristo”. Portanto, é autocontraditório afirmar: “Eu posso não saber muito a Bíblia, mas conheço a Deus” ou mesmo “Eu posso não saber muito a teologia, mas sei muito sobre Deus”.
Essa ênfase bíblica na sabedoria e no conhecimento não limita o desenvolvimento espiritual a apenas um pequeno número de cristãos. Ora, de fato, há aqueles que praticam uma forma de elitismo — eles decidiriam como ilegítimos a teologia ou o ministério de uma pessoa porque não obteve um certo diploma em um determinado seminário, ou porque não interage com um certo teólogo, ou porque não escreve para um público acadêmico. São pessoas que criticariam um livro não por falta de verdade ou zelo, mas porque não cita os importantes eruditos em suas notas de rodapé. De qualquer forma, os elitistas geralmente não são a elite espiritual, mas são covardes e hipócritas incompetentes. E é por isso que eles não criticariam o mesmo argumento em outro escritor se ele fosse famoso ou idolatrado o suficiente de modo que a inveja e o cinismo deles saíssem pela culatra contra eles.
Esses elitistas são os descendentes espirituais dos fariseus e são muito difundidos. Eles gostam de perguntar: “Com que autoridade estás fazendo estas coisas?” (Mateus 21:23), quando, de fato, a própria autoridade deles vem uns dos outros. Assim como os fariseus, o apelo dos elitistas é feito não a Cristo, mas a ídolos e tradições humanas. Eles condenariam alguém por seguir a prática bíblica de xingamento, mas não hesitam em praticar a idolatria de constante name-dropping. A sabedoria deles não é pura e espiritual, mas demoníaca. Por pura influência e não pela razão, eles tentam intimidar os cristãos à submissão. Eles não devem ser temidos, mas resistidos, escarnecidos e desprezados.
A Escritura não tolera o elitismo. Ela não exclui ninguém por causa dos padrões mundanos ou das tradições humanas. A sabedoria espiritual está disponível para todo cristão que pede a Deus por ela. Aqui Paulo ora por todos os crentes em Colossos, para que todos eles recebam “sabedoria e entendimento espiritual”. Tiago escreve: “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida” (Tiago 1:5), embora ele diga que isso exige fé e paciência. De qualquer forma, essa sabedoria leva à humildade e a boas obras (Tiago 3:13), enquanto a sabedoria demoníaca dos incrédulos e dos elitistas exibe inveja e ambição egoísta (Tiago 3:14), e muitas vezes desejo de poder, controle e admiração.
A boa notícia é que a sabedoria espiritual necessária para se desenvolver como crente e para crescer em fé, amor e esperança está disponível para todo cristão através dos meios que Deus forneceu, como oração e estudo. Mas isso também remove qualquer desculpa do crente para ignorância espiritual e teológica. A falta de educação formal não é desculpa, visto que a sabedoria espiritual vem de Deus e não do homem.
A promessa de Deus na Escritura de que ele derramará sua sabedoria sobre aqueles que pedirem, é mais do que suficiente para superar qualquer obstáculo que pareça estar presente devido à falta de treinamento acadêmico. Negar isso é também negar o poder e a promessa de Deus. Por outro lado, há aqueles que se orgulham de continuar sem uma educação formal e, ao mesmo tempo, não fazem nenhum esforço para buscar a sabedoria e o conhecimento através da oração e do estudo. Isso não é espiritualidade, mas delírio hipócrita. A questão é que, se alguém recebeu ou não uma educação formal ou qualquer treinamento facilitado pelo homem, a verdadeira sabedoria vem de Deus, através de seus meios designados, e leva não ao elitismo, mas à humildade e ao serviço com grande ousadia.
Então, Paulo continua: “E [oramos] isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra” (1:10). A Bíblia ensina uma forte conexão entre a verdadeira sabedoria e a conduta santa. Por exemplo, os versículos que citamos da carta de Paulo aos Filipenses dizem que devemos abundar “em conhecimento e em toda a percepção”, a fim de que sejamos “puros e irrepreensíveis”. Nossa passagem fala de ser preenchido com “o conhecimento da vontade de Deus”. A “vontade” de Deus num contexto como esse denota seus preceitos e não seus decretos, isto é, a moralidade que ele definiu, e não a realidade que ele determinou. Um crente forte e em crescimento, portanto, é aquele que está aprendendo e obedecendo à vontade de Deus, ou aos ensinamentos e preceitos da Bíblia.
Há três observações que podemos fazer em relação a isso. As duas primeiras são dois lados da mesma questão e a terceira nos levará a uma discussão separada.
Primeiro, Paulo ora para que os crentes recebam sabedoria espiritual com a intenção de que isso também produza boas obras. O fruto natural da sabedoria piedosa é uma vida piedosa, porque essa sabedoria possui o conhecimento que define a piedade, o entendimento de que esse é o caminho que se deve seguir e o discernimento de concordar com tudo o que Deus revelou. Portanto, a verdadeira sabedoria leva à conduta piedosa, mas o que parece ser conduta piedosa é apenas se for um produto da sabedoria de Deus. Uma conformidade externa a um preceito de Deus que se baseia em um motivo maligno ou em um entendimento falso não é piedosa de forma alguma. A conformidade neste caso é incidental e não intencional. Além disso, uma vida piedosa não é caracterizada apenas pelo altruísmo, mas também perseverança, paciência, alegria e ação de graças.
O primeiro ponto é provavelmente aceitável para a maioria e é amplamente enfatizado, mas no segundo ponto devo desafiar um ensino comum. Esta é a ideia de que, se o conhecimento não leva a boas obras, então o conhecimento é inútil, e se a teologia de alguém não produz santidade, então a teologia está com defeito. Junto com isso, vem a afirmação de que o conhecimento está necessariamente ligado à piedade e que o único objetivo da teologia é produzir uma vida piedosa (há variações desse ensino, mas a ideia básica é a mesma). No entanto, a Bíblia não ensina isso.
O exposto acima é frequentemente afirmado com base em passagens como Colossenses 1:9–14, nas quais Paulo realmente exige sabedoria espiritual para seus leitores, para que eles vivam “frutificando em toda boa obra”. Mas isso é uma falsa inferência e um mau uso da passagem. Ao contrário do ensino popular, esse relacionamento não se aplica da mesma maneira quando é revertido — que a teologia se destina a produzir piedade não torna a teologia inútil quando não há piedade. Não há necessidade de explicação detalhada. A ideia está simplesmente ausente da passagem.
Nem mesmo 1 Coríntios 13 apoia o ensino. Lá, Paulo diz: “Ainda que eu […] saiba todos os mistérios e todo o conhecimento […], se não tiver amor, nada serei”. Ele não diz que o conhecimento não é nada, ou que a capacidade de compreendê-lo não é nada, mas que a pessoa que não tem amor não é nada. A teologia é uma revelação da mente de Deus e, como tal, possui valor intrínseco, de modo que denegri-la é semelhante à blasfêmia, se já não é. Quando houver uma teologia sã, mas nenhuma conduta sã, denegriremos a pessoa — ela é inútil e defeituosa — e não a teologia.
Terceiro, Paulo ora para que os cristãos sejam “cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual”. Diferentemente de muitos crentes que exibem humildade fingida ou incredulidade genuína, o apóstolo pede que seus leitores sejam cheios do conhecimento com toda a sabedoria. Ele pede a eles o máximo — a plenitude — tanto em termos da natureza do conhecimento quanto na capacidade deles de contê-lo e compreendê-lo.
Certamente, mesmo o nosso máximo tem um limite (1 Coríntios 13:12), mas o apóstolo estabelece esse limite muito, muito além daqueles que exaltam a doutrina de nossa “mente humana finita” mais do que a generosidade e promessa de Deus (Tiago 1:5), e seu poder na conversão. Essa plenitude de toda a sabedoria é extensa o suficiente para que, se alcançada, capacita-nos a “em tudo […] agradá-lo, frutificando em toda boa obra” (Colossenses 1:9–10), servindo-o com “todo o poder” e “toda perseverança” (v. 11). A oração de Paulo é por plenitude em conhecimento, santidade e poder. Como essa oração é escrita sob inspiração divina, mesmo que não alcancemos essa plenitude, nunca devemos sugerir que alcançá-la seja impossível em princípio.
Esse ensino bíblico exige que revisemos algumas das formulações teológicas tradicionais que exaltam erroneamente as doutrinas da finitude e depravação humanas acima das doutrinas da revelação e salvação. Porque não alcançamos ou recebemos é um ponto, mas o que há para alcançar ou receber é outro. Não devemos reduzir a graça de Deus e a obra de Cristo ao nível do nosso fracasso e incredulidade. Paulo diz que o dom de Deus é maior que o pecado do homem:
Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. De fato, muitos morreram por causa da transgressão de um só homem, mas a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só, Jesus Cristo, transbordou ainda mais para muitos. Não se pode comparar a dádiva de Deus com a consequência do pecado de um só homem: por um pecado veio o julgamento que trouxe condenação, mas a dádiva decorreu de muitas transgressões e trouxe justificação. Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais aqueles que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça reinarão em vida por meio de um único homem, Jesus Cristo. (Romanos 5:15–17)
Como a presente discussão diz respeito à plenitude do conhecimento espiritual, é apropriado considerar a doutrina da incompreensibilidade de Deus em relação ao que é dito acima. Alguns cursos de dogmática começam sua apresentação dos atributos divinos com a incompreensibilidade de Deus e de uma maneira que estabelece um tom pessimista para todo o empreendimento teológico. Isso é contrário ao padrão bíblico.
Considere o exemplo de Romanos 11:33–35, uma passagem frequentemente citada em relação à incompreensibilidade de Deus: “Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense?”. É um abuso da passagem torná-la um ponto de referência absoluto, como se estivesse sozinha na Escritura, ou torná-la o ponto de partida de nossa teologia. Isso porque, quando consideramos a passagem no contexto, percebemos que ela chega à conclusão de uma seção doutrinária longa e extensa na qual Paulo expõe toda a gama da teologia cristã, incluindo criação divina, depravação humana, julgamento presente e futuro, a liderança federal de Adão no pecado, a expiação vicária de Cristo na redenção, a justificação pela fé (e não pelas obras), a santificação pelo Espírito, a predestinação (eleição e reprovação) e muito mais. Em Romanos 11:33, Paulo resolveu todas as questões que ele levantou, incluindo os tópicos que muitos teólogos insistem em chamar de mistérios e paradoxos, mesmo em rebeldia à Escritura, como o propósito e a justiça de Deus nas eleições (Romanos 9) e seus decretos soberanos (Romanos 10–11).
Charles Hodge pensa que a passagem afirma “o caráter incompreensível e a excelência infinita da natureza e dispensações divinas” e que “Nós podemos apenas nos maravilhar e adorar. Nunca podemos entender”. No entanto, isso não é, de forma alguma, o que a passagem sugere. Quer estejamos considerando o contexto imediato de Romanos 11 e Romanos 9–11, ou todos os materiais anteriores em Romanos 1–11, o que exatamente não entendemos? O que Paulo não explicou? Ele abordou e resolveu todas as questões que levantou com pleno conhecimento e confiança.
Se entendemos Paulo é outra questão — eu afirmo que podemos, mas agora esse não é o nosso tópico. E se não entendemos Paulo, ainda não podemos atribuir isso à incompreensibilidade de Deus, pois Paulo parece não ter problemas em entender as coisas que ele escreve, de modo que, em princípio, não é impossível entender tudo o que ele expõe na carta. Agora, se Hodge quer dizer que Deus não pode ser “plenamente compreendido”, então poderíamos concordar (não obstante, com as qualificações que discutiremos mais tarde), mas certamente é errado dizer que “Nós podemos apenas nos maravilhar e adorar. Nunca podemos compreender”. Não é isso que acontece em Romanos. Em Romanos, admiramos e adoramos porque compreendemos Romanos 1–11 — totalmente.
Vamos considerar Romanos 11:33–35 em seu contexto imediato. Ele escreve no versículo 25: “Irmãos, quero que vocês entendam este mistério” (NVT). Nosso propósito não exige que consideremos o próprio mistério, mas apenas que Paulo quer que seus leitores entendam o que ele chama de mistério. Como em outros casos em que ele usa a palavra, mistério não se refere a algo que é intelectualmente inatingível no sentido técnico, quando em como o cálculo pode iludir uma criança. Antes, um mistério é algo que podemos entender, mas, pelo menos por um período de tempo, não nos foi dito ou explicado.
Eu poderia pensar em um número entre 1 e 100.000, e enquanto eu me recusar a revelá-lo, ele permaneceria um “mistério” para você. Mas você não teria dificuldade em entender se eu lhe dissesse o número. Mistério na Escritura não indica algo que não podemos entender por causa de nossa compreensão limitada, mas algo que não podemos descobrir a menos que nos seja transmitido e explicado por revelação. Então, podemos entendê-lo, em muitos casos, sem nenhuma dificuldade. Portanto, Romanos 11:33–35 poderia expressar um sentimento de apreciação e admiração pelo que Paulo acabou de explicar e pelo que acabamos de entender (seja em Romanos 11, 9–11 ou em todo o 1–11). Mas ele não deixou nenhuma pergunta sem resposta para 11:33–35 expressar uma incapacidade de descobrir ou entender qualquer coisa.
Em particular, considere 11:34, que vem de Isaías 40:13. Paulo também cita o versículo em 1 Coríntios 2:16. Mas logo após ele acrescenta: “Nós, porém, temos a mente de Cristo”. E, no versículo 12, ele escreve: “Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente”. O argumento dele é que não podemos conhecer a Deus e seus caminhos independente de sua palavra e seu Espírito (1:21), mas, porque ele nos deu sua palavra e seu Espírito, nós entendemos — muito bem, de fato (2:6–10, 13–16), porque “Deus o revelou a nós por meio do Espírito” (2:10).
É mais do que provável que Paulo esteja fazendo uma observação semelhante com Isaías 40:13 em Romanos 11, isto é, não para dizer que não podemos entender, mas para dizer que podemos e entendemos, e ao mesmo tempo, para expressarmos admiração pelo que acabamos de entender. E como em 1 Coríntios 1–2, seu uso também transmite a suposição de que não podemos entender Deus e seus caminhos sem ou além do que ele revelou — MAS ele de fato revelou e explicou para nós tudo o que Paulo escreveu, e isso inclui a maioria — senão todos os tópicos — que os teólogos costumam chamar de misteriosos, paradoxais e incompreensíveis. Paulo usa Isaías 40:13 para enfatizar a abundância de informações reveladas aos crentes e seu potencial para entendê-las, todas elas.
Paulo não começa sua carta aos Romanos com a incompreensibilidade de Deus, mas chamando a atenção para o quanto já sabemos sobre Deus — mesmo quando os incrédulos tentam suprimir esse conhecimento — em vez de quão pouco podemos saber sobre ele. De fato, para muitas pessoas, a visão dele de nosso conhecimento é otimista demais para o consolo. Ele declara que mesmo os incrédulos não podem deixar de conhecer esse Deus, incluindo seu poder e sabedoria na criação (Romanos 1). Até alguns de seus princípios morais são inatos no homem (Romanos 2). Em outro lugar, é dito que os incrédulos são ignorantes sobre Deus, pois suprimem o que sabem sobre ele, e não o conhecem no sentido de ter um relacionamento positivo com ele. Neste momento, o ponto é que Paulo não inicia sua carta — ou, nesse caso, nenhuma de suas apresentações — com a incompreensibilidade de Deus. Mas descobrimos que ele frequentemente começa com a capacidade de conhecer a Deus, especialmente no que diz respeito aos cristãos — que eles podem e conhecem a Deus, e que podem e possuem conhecimento amplo e preciso sobre ele.
Ele escreve em 1 Coríntios 1:21: “Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura da pregação”. Deus não pode ser descoberto ou compreendido apenas pelo esforço humano, independente da revelação. Deus se revela através do evangelho, o qual salva aqueles que creem. Os incrédulos realmente possuem um conhecimento inato de Deus, um conhecimento que Deus colocou neles. Eles não o conseguiram pela própria sabedoria humana deles. E eles são realmente tão estúpidos que muitos deles negam esse conhecimento, mesmo que as suposições no discurso e conduta deles revelem o contrário. Esse conhecimento universal é suficiente para condená-los, mas insuficiente para iluminá-los à verdade e produzir fé em Cristo.
Nosso foco principal, no entanto, é como a incompreensibilidade de Deus se aplica aos cristãos. E descobrimos que, mesmo antes de 1:21, no início da carta, Paulo diz: “Pois nele vocês foram enriquecidos em tudo, isto é, em toda palavra e em todo conhecimento, porque o testemunho de Cristo foi confirmado entre vocês” (1 Coríntios 1:5–6). Então, no final do segundo capítulo, depois de citar Isaías 40:13, um versículo frequentemente usado para afirmar a incompreensibilidade de Deus, ele acrescenta: “Nós, porém, temos a mente de Cristo” (2:16). Tudo isso — que embora os incrédulos o conheçam, eles o negam, mas que os crentes o conhecem através da sua autorrevelação — é consistente com o que dissemos sobre Romanos 1–2 e 11.
Tomemos outro exemplo do discurso de Paulo aos gregos no Areópago, conforme registrado em Atos 17. Lá ele começa com uma afirmação confiante de seu próprio conhecimento de Deus, em contraste com a ignorância dos não cristãos (v. 23). O restante de seu discurso tem uma notável semelhança com muitos de nossos dogmáticos, tanto em linhas gerais quanto em conteúdo. Podemos multiplicar exemplos. A carta aos Hebreus começa chamando a atenção para a revelação verbal de Deus proferida através dos profetas, e agora mesmo através do Filho (Hebreus 1:1–2). Assim, ela começa com nosso banco de dados de conhecimento espiritual extenso e cada vez mais claro, não ignorância humana ou incompreensibilidade divina. E João começa sua primeira carta reivindicando contato físico com Cristo, que independente da sensação (Mateus 16:17; João 6:45; 1 Coríntios 2:9–10), ele reconheceu como a “Palavra da vida” (1 João 1:1–3). Assim, ele começa com uma afirmação de conhecimento e entendimento diretos, não com a ocultação ou incompreensibilidade de Deus.
Em sua Teologia Sistemática, Louis Berkhof precede sua discussão sobre os atributos de Deus com um capítulo sobre “A Cognoscibilidade de Deus”. Mas ele começa este capítulo da seguinte forma: “A Igreja Cristã confessa, por um lado, que Deus é o Incompreensível, mas também, por outro, que Ele pode ser conhecido e que o conhecimento Dele é um requisito absoluto para a salvação”. A afirmação é aceitável dentro das suas limitações, embora a ênfase aqui reverte o padrão que a Escritura exibe quando se dirige aos crentes, que constituem o público principal de Berkhof.
Ele continua: “Ela reconhece a força da pergunta de Zofar: ‘Porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso?’ Jó 11:7 (ARA)”. Mas este é um mau uso do versículo. Quem disse que estamos tentando conhecer a Deus “desvendando”? Já reconhecemos 1 Coríntios 1:21: “Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura da pregação”. Ficamos desesperados ao tentar conhecer a verdade espiritual através dos nossos esforços pecaminosos, mas “Deus o revelou a nós por meio do Espírito” (2:10), tornando Jó 11:7 praticamente irrelevante neste contexto. Nem mesmo tentamos fazer o que esse versículo nos diz que não podemos fazer.
Então, em sua Dogmática Reformada, Herman Bavinck começa sua apresentação da teologia da seguinte maneira:
O mistério é a alma da dogmática. Certamente, o termo “mistério” na Escritura não significa uma verdade sobrenatural abstrata no sentido Católico Romano. No entanto, a Escritura está igualmente distante da ideia de que os crentes podem compreender os mistérios revelados em um sentido científico. Na verdade, o conhecimento que Deus revelou de si mesmo na natureza e na Escritura ultrapassa em muito a imaginação e o entendimento humano. Nesse sentido, ele é todo o mistério com o qual a ciência da dogmática está envolvida, pois ele não lida com criaturas finitas, mas do começo ao fim olha além de todas as criaturas e focaliza o próprio Eterno e infinito. Desde o início de seus labores, ele enfrenta Aquele que é incompreensível.
Isso provavelmente parece sensato e piedoso para muitas pessoas, mas afirma o oposto do padrão e ênfase bíblicos. Pelo menos ele levanta o ponto relevante do entendimento da revelação do crente, e não uma tentativa de conhecer a Deus através de seu próprio esforço. Mas, para nossa decepção, ele diz que o cristão mal consegue entender o que é revelado. Pelo contrário, Jesus diz: “Eu […] falarei abertamente a respeito de meu Pai” (João 16:25) e Paulo diz: “Nós, porém, temos a mente de Cristo” (1 Coríntios 2:16). Não há apoio na Escritura para a ideia de que não possamos, nem mesmo em princípio, entender algo que Deus nos revelou.
De fato, reformular o parágrafo de Bavinck na direção oposta produz um resumo preciso da visão bíblica:
A compreensão é a alma da dogmática. A Escritura está muito distante da ideia de que os crentes não podem compreender a plenitude da revelação. Na verdade, o conhecimento que Deus revelou de si mesmo na Escritura é adequado ao intelecto redimido. Nesse sentido, ele é toda a compreensão com que a ciência da dogmática está envolvida, pois ele não lida com a investigação de criaturas finitas e pecadoras, mas do começo ao fim olha além de todas as criaturas e focaliza o Eterno e infinito, que revelou a si mesmo. Desde o início de seus labores, ele enfrenta Aquele que conhece a mente humana, e que iluminou aqueles que creem, e que claramente se revelou a eles de uma maneira que eles possam entender.
Iniciar o empreendimento teológico com ignorância e pessimismo, em vez de uma afirmação confiante de conhecimento, mesmo que tenhamos recebido a palavra de Deus e o Espírito de Deus, é nos colocar na posição de não cristãos. Isso não é humildade, mas uma negação arrogante e rebelde da graça de Deus e da obra que ele realizou em nós.
O padrão bíblico é iniciar pela cognoscibilidade de Deus — não apenas que ele é conhecível, mas que, como cristãos, nós realmente o conhecemos — e se é para ser mencionada, deve concluir com a incompreensibilidade de Deus depois que todas as perguntas forem respondidas e resolvidas. A única razão aceitável para introduzir essa doutrina no início é incluir o tópico sob a cognoscibilidade de Deus e, em seguida, usá-la para enfatizar o fato de que Deus se tornou conhecível e conhecido, especialmente para aqueles que creem (1 Coríntios 1–2).
A doutrina bíblica é que não podemos conhecer a Deus por nossos próprios esforços e métodos, mas sabemos apenas o que ele nos revela — isto é, o que ele nos diz. Não podemos conhecer e não devemos especular além do que ele revelou. Deus revelou uma abundância de informações para nós, muito mais do que muitos teólogos estão dispostos a reconhecer. Essa quantidade de informações é suficiente para constituir uma cosmovisão completa que responde a todas as perguntas necessárias e de uma maneira explícita e consistente, sem contradições aparentes ou reais.
Os teólogos geralmente apresentam uma visão diferente sobre a extensão real dessa revelação e a natureza de nossa compreensão dela. Meu julgamento é que as propostas usuais são falsas e geralmente blasfemas, pelo menos por implicação.
Primeiro, há a afirmação precipitada, veementemente defendida, de que Deus não revelou nada além do que eles compreenderam. É dito que algumas perguntas estão além da revelação como a temos, quando a verdade é que as perguntas estão além de seu próprio entendimento ou que as respostas estão além de sua vontade de aceitar. Toda essa conversa sobre a “mente humana finita” equivale a medir a revelação divina por nossa finitude humana. É exatamente o oposto da humildade.
Segundo, existe a insistência violenta de que a revelação que temos contém numerosos paradoxos e contradições, e que apenas revelações adicionais, que não receberemos nesta vida presente, fornecerão os materiais necessários para a compreensão e a reconciliação. Essa negação da clareza da revelação e o efeito da redenção é tão essencial para o pensamento teológico e a postura eclesiástica de alguns teólogos que eles até se esforçavam para excomungar ministros que insistem que a revelação de Deus é compreensível e autoconsistente.
J. H. Thornwell conclui sua palestra sobre “A Natureza e os Limites do Nosso Conhecimento de Deus” da seguinte maneira:
Nossa ignorância do Infinito é a verdadeira solução dos problemas mais desconcertantes que nos encontram a cada passo do estudo da verdade Divina. Temos dado um grande passo à frente quando descobrimos que eles são realmente insolúveis — que eles contêm um elemento que não podemos entender e sem o qual o todo deve permanecer um mistério inexplicável. As doutrinas da Trindade, da Encarnação, da Presciência de Deus e da Liberdade do Homem, a Permissão da Queda, a Propagação do Pecado Original, as Obras da Graça Eficiente, todos esses fatos são claramente ensinados; como fatos, eles podem ser prontamente aceitos, mas desafiam todos os esforços para reduzi-los à ciência.
Ele parece dizer que, se não podemos “reduzi-los à ciência”, eles são “inexplicáveis”. Ele está mesmo afirmando esse relacionamento? Algo ou é “ciência” caso contrário é inexplicável? Por quê? E o que ele quer dizer com “ciência”? Por que deveríamos reduzir alguma coisa à “ciência”? Não vamos perder tempo com essas perguntas. Nesse ponto, precisamos apenas notar que ele chama as doutrinas que listou de “inexplicáveis” e que elas carregam problemas que são “insolúveis”.
Primeiro, os “problemas” com todas essas doutrinas foram resolvidos de maneira conclusiva, geralmente apenas apontando que não havia problemas em primeiro lugar — eles foram inventados pela tradição e filosofia humanas. Se Thornwell não sabe ou se recusa a aceitar essas soluções, a culpa é dele. Mas quando ele propõe que a “ignorância” é a “solução” para todos esses problemas, devemos protestar que toda a Escritura é contra ele, tanto em seu padrão quanto em seu conteúdo. A Escritura não usa a ignorância como desculpa para os crentes ou como defesa contra os incrédulos. Ela não admite nenhuma incoerência interna e, depois, não apela à infinitude de Deus ou à finitude do homem para “resolver” o problema. Quando seguimos Thornwell, que representa apenas um dentre muitos como ele, introduzimos confusão e falsa humildade nos cristãos, e em vez de exaltar a verdade do evangelho diante dos incrédulos, os confirmamos em sua incredulidade e irreverência.
De fato, começar nossa consideração da doutrina de Deus com sua incompreensibilidade, e introduzir pessimismo para os crentes, é modelar a disposição pagã de suprimir o conhecimento de Deus, talvez a partir de um motivo similar, isto é, abrir lugar para a incredulidade, discórdia e desobediência contra ele. A diferença é o ponto de partida para a negação — os incrédulos negam a Deus num ponto anterior — mas o princípio é idêntico. E de fato descobrimos que a incompreensibilidade de Deus é frequentemente usada como uma desculpa para rejeitar as respostas de Deus a inúmeras questões doutrinárias.
Insistir que não podemos entender algo quando Deus repetidamente a explica e responde todas as questões sobre ele — por exemplo, quando se trata do “problema” do mal — é apenas uma forma polida de dizer que rejeitamos a revelação de Deus sobre o assunto. É uma tentativa de pensar como o diabo, mas falar como um santo. E é dessa forma que os ensinos sobre a incompreensibilidade de Deus e a finitude da mente humana são, na maioria dos casos, usados para demonstrar falsa humildade e disfarçar rebelião grosseira contra a revelação explícita e completa de Deus.
Suponha que exista uma criança cujos pais entendem como ela processa a informação e fornecem explicações e instruções detalhadas a ela, mas ela tapa seus ouvidos e grita: “Não! Não! Não! Eu não entendo! Vocês são tão sábios e maduros, muito além de mim, mas eu sou apenas uma criança. Não posso entender o que vocês estão dizendo”. Não há humildade aqui; antes, ela zomba de seus pais e despreza a autoridade deles. Ela é uma criança irritante e desobediente que precisa de correção e disciplina.
Ora, Deus é infinitamente maior que os pais humanos, de modo que ele está de fato muito além do nosso entendimento? Sim, mas ele é também infinitamente mais conhecedor sobre a mente humana, infinitamente mais capaz de explicar a si mesmo, com um acesso infinitamente maior às nossas almas pelo seu Espírito. Se falamos com fé e honestidade, teremos que dizer que podemos conhecer a Deus e sua vontade muito mais do que podemos conhecer nossos pais humanos. Isso ainda pode não ser muito, comparado a tudo o que existe para ser conhecido sobre um ser infinito. Nunca poderemos saber tudo sobre ele, mas conhecemos nossos pais bem menos.
Paulo escreve: “Pois quem conhece os pensamentos do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus. Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente” (1 Coríntios 2:11–12). Em nós mesmos, não temos acesso à mente do homem nem à mente de Deus, mas Deus nos revelou a sua mente (não a mente de outros homens) pelo seu Espírito. A Escritura é consistentemente otimista sobre a capacidade dos cristãos conhecer a Deus. A doutrina tradicional da incompreensibilidade de Deus que ensina o oposto é completamente condenável.
Os críticos podem dizer agora: “Ah, agora ele alega ter todas as respostas”. Baseado no padrão das objeções anteriores, deveríamos antecipar isso como uma possível reação. Mas essa resposta mostra uma vez mais quão obcecados eles estão com personalidade e consigo mesmo. O quanto um cristão em particular sabe é irrelevante para uma formulação apropriada da doutrina. Nossa preocupação principal tem sido a posição bíblica, ou o princípio do assunto. Além disso, ao longo da nossa discussão, deixamos claro que esse otimismo bíblico é aplicado a todos os cristãos, embora seja retido daqueles que permanecem em incredulidade. Por outro lado, os nossos críticos e os teólogos que eles seguem desejam impor suas próprias limitações sobre todos os crentes, e até mesmo ao conteúdo da palavra de Deus e ao poder do Espírito de Deus.
Ao revisar a doutrina tradicional da incompreensibilidade de Deus, devemos reconsiderar também a terminologia que é usada e a categoria que é assumida. Há a concordância de que Deus é infinito e, portanto, há quantidade infinita de informação que poderia ser conhecida sobre ele. E visto que somos finitos, isso significa que nunca podemos conhecer tudo sobre Deus. Nesse sentido, Deus é incompreensível. Não que não possamos entender algo sobre ele de forma alguma, mas que ele pode ser conhecido somente até o ponto em que ele se revelou.
Os teólogos caem no erro, e eu diria heresia e blasfêmia, quando dizem que não podemos conhecer nem mesmo a revelação escrita de Deus. Mas eles são frequentemente ambíguos e inconsistentes nesse ponto. Em todo o caso, a questão importante agora é observar que “incompreensível” frequentemente significa que não podemos entender tudo sobre Deus, e não nada sobre Deus. E a doutrina é geralmente introduzida como uma característica intrínseca da natureza de Deus, ou um atributo de Deus.
Em relação à terminologia, a palavra “incompreensível” pode ser enganosa, pois pode ser, e geralmente é, usada de duas maneiras diferentes. A primeira definição do Merriam-Webster’s Dictionary, designada como arcaica, é “não ter ou não estar sujeito a limites”. Essa definição é apropriada à doutrina, já que de fato admitimos que não podemos conhecer a totalidade de Deus porque ele é infinito. No entanto, a segunda definição, não arcaica, é “impossível de se compreender: ininteligível”. Esta não é a ideia que desejamos transmitir pela doutrina. De fato, há teólogos que às vezes afirmam que Deus é incompreensível nesse sentido, mas já falamos bastante sobre eles até aqui — a Escritura expõe a falsa humildade deles. Deus e sua revelação não são ininteligíveis. Como a primeira definição é arcaica, talvez o Webster’s New World Dictionary esteja correto ao reverter a ordem, de modo que sua primeira definição da palavra é “não compreensível; que não pode ser entendido; obscuro ou ininteligível”. Novamente, não devemos dizer que Deus e sua revelação são incompreensíveis nesse sentido.
O ponto é que o significado primário para “incompreensível” é agora “ininteligível”. E esse é o primeiro significado que vem à mente quando muitos crentes e incrédulos tomam conhecimento da doutrina. Se isso é o que pretendemos dizer, então estamos errados. Mas se não é isso, então estamos enganando nosso ouvinte e comprometendo a fé. Os crentes que lutam contra os ataques de pessoas de fora, bem como suas próprias dúvidas, pensarão que não temos respostas para elas. E os incrédulos que já pensam que o Cristianismo é irracional e que os cristãos são tolos receberão confirmação de sua suspeita — seus próprios teólogos chamam Deus e sua revelação de “ininteligível”, que não está muito longe de um “completo absurdo”.
Nossa única opção é repudiar os teólogos e crentes que falam dessa forma (eles não representam a fé cristã), e declarar novamente a nossa doutrina de acordo com a Escritura — que Deus revelou a si mesmo de uma maneira clara e coerente, e de uma forma apropriada para o intelecto humano, que entendemos muito sobre Deus e sua revelação, e que somos capazes de responder todas as perguntas e desafios contra a fé, e que enquanto os não cristãos permanecem em cegueira e ignorância, nós lhes proclamamos a plenitude da vontade de Deus a partir de uma posição de conhecimento e autoridade (Atos 17:23).
Para corrigir esse problema de terminologia enganosa, podemos incluir essa doutrina sob o tópico “cognoscibilidade” de Deus (e enquanto estivermos no assunto, talvez “compreensibilidade” seja uma palavra melhor), ou inclui-la sob o tópico “infinidade” de Deus. Ele é infinito, mas inteligível e compreensível. Ele tem falado abundante e claramente à humanidade. E é a partir desse fundamento de revelação, conhecimento e entendimento que proclamamos: “Agora [Deus] ordena que todos, em todo lugar, se arrependam” (Atos 17:30).
Em relação à categoria, deveríamos observar que a incompreensibilidade de Deus é de fato um atributo do homem. Se um gato não pode me entender completamente, isso não significa que a incompreensibilidade seja inerente a mim, ou que seja um dos meus atributos. Se eu pudesse ser plenamente entendido, mesmo que apenas em princípio ou somente por Deus, então a incompreensibilidade não seria um dos meus atributos.
Deus é incompreensível às suas criaturas, mas como ele é onisciente, ele não é incompreensível para si mesmo. Como ele entende plenamente a si mesmo, a incompreensibilidade não pode ser uma das suas qualidades intrínsecas. Ele não é incompreensível; nós o achamos incompreensível. E o atributo divino que o torna incompreensível para nós é a sua infinidade, não um atributo intrínseco de incompreensibilidade.
Se não houvesse criaturas, Deus ainda seria triúno, espiritual, eterno, autoexistente, imutável, onipotente, onisciente, onipresente, e assim por diante. Mas não haveria ninguém para achá-lo incompreensível. Ele ainda seria infinito, e o seu entendimento infinito compreenderia completamente o seu próprio ser infinito.
Vincent Cheung. The Incomprehensibility of God. Extraído de Commentary on Colossians (2008), pp. 20–31. Tradução: Luan Tavares.
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