A Distinção Criador-Criatura
Vincent Cheung, “Contract” (2020).
Quanto a Exclusive Psalmody [Salmodia Exclusiva], deixe-me fazer uma observação motivada pelo que eu disse lá. Sabemos que algumas pessoas pertencem a uma tradição teológica que enfatiza a distinção criador-criatura. Para elas, isso significa que elas devem sempre assumir a vasta distância entre Deus e o homem. Devemos permanecer centrados em Deus em nossa interpretação da Escritura e de todas as coisas, e de alguma forma isso também significa que devemos ter em mente nossa finitude humana. Eu tenho dificuldades para manter isso unido, porque aqui é onde eles param de fazer sentido, e desmorona em minhas mãos. Isso porque, por exemplo, essas pessoas que enfatizam a distinção criador-criatura e uma interpretação centrada em Deus impõem de alguma forma uma interpretação centrada no homem em todas as coisas, como elas mesmas, o mundo, a Escritura e o próprio Deus. Podemos entender Deus ou a Bíblia? Bem, devemos respeitar a distinção criador-criatura e, como o criador é tão grandioso e somos tão finitos, não podemos entendê-lo. Espere… então a nossa finitude vence? Então a nossa finitude é maior que sua infinitude? Isso soa terrivelmente centrado no homem. Se ele é tão grandioso, ele pode nos fazer entender. Ele é o fator decisivo, não nós. Agora isso é ser centrado em Deus.
Isso foi apenas um exemplo. Eu quero falar sobre as coisas que extraí dos Salmos. Considere todas as promessas e bênçãos de Deus que os escritores dos Salmos aplicaram a si mesmos. Eles reconheceram a distinção criador-criatura. Eles frequentemente reconheciam sua fraqueza, até mesmo o desespero. A diferença é que eles não permitiram que isso determinasse o que Deus faria em suas vidas. Se eles tivessem feito isso, seriam centrados no homem como nossos teólogos inúteis. Nós somos pecadores. Deus é justo. O que acontece? Ele perdoa todos os nossos pecados e nos torna justos. Nós estamos doentes. Deus é quem cura. O que acontece? Ele cura todas as nossas doenças e nos torna saudáveis. Estamos sozinhos e com medo. Ele é autossuficiente e todo-poderoso. O que acontece? Ele se torna nosso Pai, nosso Pastor, nosso Amigo, e nos torna fortes, cheios de alegria e paz. Os Salmos estão cheios disso. Em contraste, nossa ortodoxia histórica e reconhecida se centra no lado humano das coisas e interpreta tudo dessa suposição, até anulando a onipotência e as promessas divinas.
Isso se aplica a toda a Bíblia. Eu reconheço a distinção criador-criatura. Como Jesus disse, eu não posso nem tornar meu cabelo preto ou branco me preocupando com isso. E ele disse que sem ele eu não posso fazer nada, mas nada é impossível para Deus. Então o que acontece? Como criatura, volto-me ao criador e me torno centrado no criador, pensando em minhas possibilidades. E agora Jesus me diz que tudo é possível para quem crê. E agora Jesus me diz que, se eu permanecer nele e suas palavras permanecerem em mim, pedirei o que eu quiser, e ser-me-á dado. E agora Jesus me diz que, se eu tiver fé, posso até ordenar que uma montanha se mova para o mar, e ela me obedecerá. E agora Jesus me diz que, se eu acreditar nele, posso fazer os mesmos milagres que ele fez, e milagres ainda maiores. O que eu fiz? Quando reconheço a distinção criador-criatura e me torno centrado no criador, vejo-me da perspectiva dele e vejo minhas possibilidades de acordo com as habilidades do criador, não de acordo com as limitações da criatura. Os teólogos de diplomas inúteis pensam que, se você reconhece a distinção criador-criatura, a conclusão deve ser uma fraqueza, mas o oposto é verdadeiro. Como Paulo disse, quando estou fraco, ENTÃO SOU FORTE!!!
Portanto, é assim que você deve ler os Salmos e a Bíblia inteira. Quando temos fé no criador — quando estamos centrados em Deus — significa que não estamos mais limitados ao que é possível a meras criaturas, mas pensamos no que é possível ao criador. Você pode perceber como a teologia convencional falhou completamente e traiu o evangelho e todo o povo de Deus? Eles projetam a finitude da criatura em todo o relacionamento com o criador. Eles fazem do homem o fator decisivo. Então o entendimento é difícil. Então os milagres são impossíveis. A santidade é uma luta. E a confiança é uma blasfêmia total. A palavra de Deus nos liberta dessa loucura, dessa teologia hipócrita e egocêntrica. Vamos parar de impor os limites do homem a cada coisinha e paremos de rejeitar o que o próprio Deus disse sobre isso. Sabemos que somos apenas criaturas, e é por isso que não nos focaremos em nossas limitações, mas nos focaremos no criador, em suas habilidades e em suas promessas. Vamos crer em coisas maiores que nós mesmos. Vamos crer em milagres e bênçãos. Nós seremos cristãos.
Eles dizem: “Não se esqueça da distinção criador-criatura! Você é apenas um homem. Você não é Deus!”. Mas eu não preciso ser Deus. Como ELE é Deus, então, como Jesus disse, quando tenho fé nele, eu posso ordenar que até mesmo uma montanha se mova daqui para lá, e ele disse: “Nada será impossível para você”. Eles dizem: “Lembre-se de que você é finito! Você é apenas um homem. Você não entende!”. Mas eu não preciso ser infinito. Como ELE é Deus, então, como Jesus disse, quando o Espírito da verdade vier, ele me guiará a toda a verdade. Se alguém insistir que, porque ele é homem, e porque é finito, e por isso ele não pode entender e não pode realizar feitos extraordinários, a única razão seria porque não há criador — nem Deus — do outro lado de sua religião. Sua fé não é um relacionamento criador-criatura, mas um relacionamento criatura-criatura, um relacionamento consigo mesmo. Sua teologia é limitada ao que ele pode crer sobre si mesmo, porque — e esse é o segredo — seu “Deus” não é nada além de si mesmo. É quase uma forma de solipsismo, e sua fé é apenas uma projeção. Isso explica a falsa humildade da ortodoxia feita pelo homem. Não há Deus do outro lado da sua fé. Ele não pode estar centrado em Deus porque Deus está totalmente ausente em sua vida e em sua doutrina. Você pode ver que isso anula o pensamento padrão e nos leva na direção oposta. Mas você também pode ver que eu estou certo.
Veja:
Salmodia Exclusiva
Vincent Cheung. The Creator-Creature Distinction. Disponível em Contract (2020), pp. 121–122. Tradução: Luan Tavares.