“A dúvida é ilegal no reino…”
O anjo Gabriel foi enviado a Zacarias para anunciar que ele teria um filho, que se tornaria João Batista. Zacarias disse: “Como posso ter certeza disso? Sou velho, e minha mulher é de idade avançada”. Ora, Zacarias era sacerdote, e deveria ser um líder religioso e modelo para o povo, mas ele respondeu com incredulidade. Quando Deus nos diz algo ou faz uma promessa para nós, devemos crer nela mesmo que nunca tenhamos experimentado algo semelhante, e mesmo que ninguém mais tenha experimentado algo semelhante. Nunca há uma desculpa para duvidar de Deus, mas mesmo que haja uma desculpa, Zacarias não a tinha. Ele conhecia a história de Abraão e Sara, que tiveram Isaque pela promessa de Deus quando eram velhos. Ele conhecia outras pessoas na Escritura que tiveram filhos e filhas, mesmo sendo estéreis. De fato, mesmo que ele nunca tivesse recebido essa visão, ele poderia ter crido em Deus e recebido a cura. Sua fé poderia ter renovado sua juventude e derrubado a esterilidade. Como está escrito: “Em sua terra nenhuma grávida perderá o filho, nem haverá mulher estéril. Farei completar-se o tempo de duração da vida de vocês”. Como a maioria dos mestres cristãos de nossos dias, Zacarias era um líder religioso, mas não acreditava na Escritura, e respondeu com incredulidade. Então o anjo disse: “Sou Gabriel, o que está sempre na presença de Deus. Fui enviado para lhe transmitir estas boas novas. Agora você ficará mudo. Não poderá falar até o dia em que isso acontecer, porque não acreditou em minhas palavras, que se cumprirão no tempo oportuno”.
As pessoas costumam ler seus ideais políticos e éticos na palavra de Deus. Elas acham que boa política também é boa dogmática. Elas acham que a democracia é boa para o governo, então o reino de Deus também deve ser uma democracia. Mas o reino de Deus não é uma democracia, mas uma monarquia, até mesmo uma ditadura absoluta e eterna — Jesus Cristo é rei para sempre. Você diz: “Eles não votaram para nomear diáconos na Bíblia? E não votamos em coisas de nossas igrejas?”. É claro. Mesmo sob uma ditadura, os membros de uma unidade familiar podem votar no que comerão no jantar, mas não podem votar para mudar a lei da nação. Eles não podem sequer votar para decidir o que a lei quer dizer e depois seguir essa interpretação, em vez de seguir a lei. Assim, os membros de uma igreja podem votar em certos itens para manter a ordem na congregação, mas não podem votar para mudar a palavra de Deus. E eles não podem votar para decidir o que a palavra de Deus quer dizer, e depois seguir credo deles, em vez de seguir a palavra de Deus. Mas muitas pessoas que afirmam ser cristãs fizeram essa coisa ímpia. É assim que elas operam suas instituições há centenas de anos.
Os ideais políticos e éticos das pessoas nem sempre são o que a palavra de Deus ensina. A liberdade de expressão pode ser boa para uma democracia, mas o reino de Deus não é uma democracia, e não há liberdade de expressão no reino de Deus. Você não tem permissão para dizer nada que Deus desaprove. Nem sempre você pode ser punido por isso, pelo menos não imediatamente, mas como Jesus disse: “Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras você será absolvido, e por suas palavras será condenado”. Isso é chocante para o Cristianismo pagão histórico. Não devemos ter debates livres e expor opiniões na igreja? É claro que não. Você não pode proferir blasfêmia. Você não tem permissão para ensinar heresia. Mesmo que essas duas restrições sejam admitidas de má vontade por alguns cristãos, elas provavelmente considerariam a terceira como extremismo. Os cristãos apreciam esse tipo de discurso e o usam para definir grande parte de sua ortodoxia. Assim, eles reagiriam com indignação quando você lhes dissesse que isso é proibido no reino de Deus. Qual é o terceiro tipo de discurso proibido? A incredulidade. Ninguém tem permissão para falar com incredulidade.
A incredulidade é banida. A dúvida é ilegal no reino de Deus. Se Deus diz que algo iria acontecer, você não pode se perguntar se isso realmente aconteceria. Se Deus diz que você é capaz de fazer alguma coisa, não é permitido supor que apenas outras pessoas ou pessoas especiais foram capazes de fazê-lo, ou que isso já passou, de modo que agora ninguém é capaz de fazê-lo. Se você duvida de Deus, então Deus quer que você cale a boca. Cale sua boca estúpida. Aqui, ele não apenas corrigiu Zacarias ou o fez calar a boca sobre isso, mas não permitiu que o homem falasse de forma alguma. Ele o calou com um milagre. A incredulidade é muito vil aos olhos de Deus. Você acha que ele gostaria de alguém que fala com dúvida em uma posição de liderança ou que até mesmo ensine seu povo? Você acha que Deus gostaria que você escrevesse com incredulidade em seus credos e depois construísse uma denominação? Você acha que ele gostaria que você desse algum dinheiro a uma igreja que ordena que as pessoas duvidem de suas promessas e ordens? Ou ele gostaria que todo mundo calasse a boca? Cale a boca até se arrepender e aprenda a falar com um pouco de fé.
Você protesta: “Espere um minuto. Você quer dizer que em uma igreja ou instituição cristã, se a Bíblia diz que um milagre pode acontecer quando temos fé, mas um líder fala sobre isso com dúvida, ele deve perder o cargo?”. SIM. Absolutamente SIM. Se o cargo dele tem a ver com a fala e principalmente com o ensino, ele deve perder o cargo. Ele não deve ter permissão para orar em público, ou, por exemplo, para oferecer um relatório público sobre a situação financeira da organização — porque ele falará com incredulidade sobre isso. Após a investigação, se percebermos que é uma questão de doença espiritual e que ele deseja ter fé, mas se acha incapaz neste momento, provavelmente pode ser transferido para outra posição que não precisa que ele fale ou ensine, como o departamento de contabilidade ou zeladoria. Mas ser pastor ou mestre? NÃO, NÃO, NÃO. A igreja deve reagir contra o discurso de dúvida muito mais forte do que o mundo reage contra o “discurso de ódio”. Nenhuma organização cristã deve permitir que a incredulidade fale. Isso deve ser especificado no padrão acadêmico e no código de conduta de um instituto.
Os cristãos supostamente não permitiriam que um ateu se tornasse pastor e pregasse para eles, mas eles dariam boas-vindas a alguém que duvida das promessas do evangelho para doutriná-los semana após semana, mês após mês, ano após ano. Eles pagariam a alguém assim para se tornar mestre em seus seminários para treinar futuros líderes da igreja. Se alguém não acredita em curar os doentes em nome de Jesus, não deve estar falando com o povo de Deus. Se alguém não acredita em visões, sonhos e profecias do Espírito de Deus, ele não deve abrir a boca em público. Se alguém duvida que quando buscamos primeiro o reino de Deus, todas as coisas que os pagãos buscam nos serão acrescentadas, então ele não deve ter um cargo que envolve fala em nenhuma instituição cristã. Mas os cristãos têm comichão nos ouvidos pela incredulidade. Se alguém assim escrever um livro sobre a aceitação de um sofrimento sem sentido, os cristãos lhe dariam um prêmio. Outra pessoa que apenas repete o que a Bíblia promete é chamada de herege, fanática, alguém que ensina religião oriental ou algo assim. “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá”. Por que a igreja está no estado em que está? Aliás, por que o mundo está no estado em que está? Os cristãos desejam culpar os políticos. Depois eles querem culpar os carismáticos. Não, o problema é você. Sempre foi você, se você fala com incredulidade, se você permite a incredulidade, e se você financia a incredulidade.
Alguém duvidou de uma mensagem de cura transmitida por um anjo, e ele foi forçado a ficar calado pelo poder divino. Agora alguém superior a Gabriel falou. Ele é tão superior que o próprio Gabriel se prostraria e o adoraria. Ele disse que, se tivermos fé, podemos realizar um milagre da natureza, como ele fez quando falou com uma árvore, e que, se tivermos fé, podemos até falar com uma montanha e ordenar que ela se mova. Ele disse que podemos curar os doentes e expulsar demônios. Ele disse que podemos realizar os mesmos milagres que ele fez e milagres ainda maiores. Ele disse que Deus nos daria o que pedirmos em nome dele. Ele disse que receberíamos o mesmo poder que ele possuía, pelo mesmo Espírito que ele possuía, para recebermos visões, sonhos e profecias. Se um homem foi calado por duvidar de um anjo, podemos nos dar ao luxo de duvidar de alguém muito superior a um anjo e que cumpriu promessas maiores? Não vamos mentir para nós mesmos. De Deus não se zomba. Nós colheremos o que semeamos.
Vincent Cheung. “Doubt is illegal in the kingdom…” Disponível em Trace (2018), pp. 82–84. Tradução: Luan Tavares (28/09/2019).