A Blasfêmia do Absolutismo Graduado

As Obras de Vincent Cheung
3 min readDec 28, 2020

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~ Extraído de Reflections on Second Timothy ~

Um exemplo de abdicação cristã na área da ética é o absolutismo graduado. Neste sistema prevalente de ética, primeiro, os mandamentos de Deus são priorizados, frequentemente não de acordo com a revelação, mas de acordo com a opinião do homem. Segundo, é dito que muitas situações apresentam dilemas, de acordo com o julgamento do homem, nos quais dois mandamentos divinos (ou pelo menos dois) parecem se aplicar, mas uma pessoa deve violar um deles para obedecer ao restante. Terceiro, o mandamento que é considerado superior é obedecido, e o outro é infringido, ao passo que infringi-lo é, sem garantia bíblica para dizer isso, não considerado pecado. O absolutismo graduado é, na realidade, relativismo orientado.

A rebelião é bastante explícita, mas a blasfêmia está implícita. Ou seja, quando Deus deu os mandamentos, não teve a inteligência nem a previsão para perceber que eles gerariam dilemas éticos em tantas situações, nas quais seria impossível obedecer a todos os mandamentos relevantes. Mas parece que o homem detecta esses dilemas com bastante facilidade. Podemos não ser capazes de matar Deus, mas podemos pelo menos passar por cima dele. Por isso, priorizamos seus mandamentos, às vezes de acordo com sua revelação, às vezes de acordo com nosso próprio julgamento, e decidimos obedecer apenas aqueles que consideramos viáveis em qualquer situação.

Ele pode esperar mais de nós? Obediência total a cada mandamento em cada situação? Deus realmente pensa que ele é Deus? E se alguém bater na porta e exigir saber a localização de um amigo para que ele o mate? Este é o caso de teste clássico. Não é mais importante proteger a vida de um homem do que dizer a verdade, embora a verdade seja o princípio pelo qual Deus opera, pelo qual ele estabelece o valor da vida e pelo qual ele nos testifica o evangelho da graça? Mas não há como obedecer aos dois mandamentos, certo? O que você disse? Devemos tentar dominar o agressor, ou nos recusar a divulgar a informação e correr o risco de sofrer tortura, ou mesmo sacrificar nossa própria vida para salvar o amigo? Você deve estar brincando. Oferecemos apenas duas opções para você escolher. O pensamento centrado no homem não pode processar coragem e sacrifício altruísta. Pare de nos confundir.

Considere o que isso significa para Jesus Cristo. A Escritura diz que ele foi tentado, mas nunca pecou. O que isso significaria de acordo com os proponentes do absolutismo graduado? Eles dizem que os mandamentos divinos muitas vezes se contradizem devido às circunstâncias em que se aplicam, e quando se contradizem, a coisa certa a fazer é obedecer ao mandamento superior, ao passo que desobedecer ao mandamento inferior não conta como pecado. Isso significa que, na visão deles, Jesus poderia ter matado centenas de milhares de pessoas com as próprias mãos — homens, mulheres e crianças — mas, visto que estiva obedecendo a uma ordem superior em cada caso, ele nunca pecou ou assassinou ninguém. Ou ele poderia ter cometido fornicação, até atos homossexuais, centenas de milhares de vezes. Ele poderia ter estuprado milhares de mulheres e crianças. Ele poderia ter roubado centenas de milhares de vezes, e mentido centenas de milhares de vezes. Se ele foi compelido a fazer isso em cada caso, a fim de seguir um mandamento superior, então ele não pecou.

Pelo menos por implicação, esta é a ideia deles da impecabilidade de Cristo. Se eles não abandonarem o absolutismo graduado após isso ter sido clara e repetidamente explicado a eles, então eles devem ser julgados perante a igreja e excomungados. As pessoas que sabem que sua doutrina implica essa blasfêmia sobre Cristo e ainda insistem nela não podem ser consideradas cristãs. E todos aqueles que os poupam compartilham de seus pecados. A única visão correta é reconhecer que os mandamentos de Deus nunca se contradizem e que é sempre logicamente possível obedecer a todos eles.

Vincent Cheung. The Blasphemy of Graded Absolutism. Disponível em Reflections on Second Timothy (2010), pp. 65–66. Tradução: Luan Tavares (27/12/2020).

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Written by As Obras de Vincent Cheung

Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)

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