A Autodefinição do Cristão
Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por ordem de Deus… (1 Timóteo 1:1)
É comum as pessoas se definirem por coisas que são importantes para elas, das quais se orgulham ou que as moldaram. Por esse motivo, não é incomum que elas se definam em termos de nacionalidade, raça, treinamento e profissão, gênero, estado civil e assim por diante. Muitas vezes acham natural e necessário, e até louvável, caracterizar toda a sua vida por essas categorias. Aqueles que passaram por experiências notáveis ou até traumáticas também podem permitir que essas coisas moldem sua identidade e perspectiva. Portanto, há aqueles que se definem como sobreviventes de câncer, ou sobreviventes de holocausto, ou sobreviventes de estupro, abuso e assim por diante.
Isso é inaceitável para a fé cristã. Problemas ocorrem quando as pessoas se definem por essas categorias humanas e, em seguida, permitem que elas enquadrem a maneira como percebem o mundo e se relacionam com os outros. Por exemplo, uma pessoa que se define principalmente por sua raça pode até se recusar a se tornar cristã. Ouvi falar de uma mulher chinesa que se recusou a crer em Cristo porque o Filho de Deus em sua natureza humana não era chinês. A verdade era secundária para ela, mas a raça era primordial. Naturalmente, até os judeus tinham um problema análogo. Embora Jesus fosse judeu em sua natureza humana, eles relutavam em aceitar alguém de Nazaré. Então, houve um pastor chinês que tentou provar que os chineses são de fato sangue judeu. Se isso soa ridículo, o Cristianismo “Messiânico” também, e o Cristianismo “Negro” igualmente. Sabemos que eles são cristãos fracos no momento em que se identificam por esses termos. A repreensão que Jesus deu a Pedro se aplica a eles — eles têm em mente não as coisas de Deus, mas as coisas dos homens.
Nós não devemos simpatizar com esse modo de pensar. Cristo deve ser tão central em nossa autodefinição que ele deve dominar e ofuscar todas as categorias e preocupações humanas. Podemos estar cientes desses fatores humanos, mas eles devem se tornar relativamente insignificantes na forma como nos definimos. Se Cristo é o Senhor em sua mente, e se ele é tudo em todos, como sua relação com ele pode ser definida por sua raça, gênero ou educação?
Se alguém tinha motivos para se gloriar das coisas da carne, Paulo tinha. Mas ele disse que considerava todas as suas credenciais humanas como lixo, até como esterco, para que pudesse ganhar a Cristo. Ele não era um judeu que era cristão, mas era um cristão que era judeu. Ele não era um erudito que também cria em Cristo, mas como um crente em Cristo, ele também era um erudito. Seu intelecto não emprestava credibilidade à fé cristã, mas era sua identidade cristã que tornava seu intelecto credível. Ele não definiu sua fé cristã em relação a algum fator humano, como sua linhagem, educação ou profissão; antes, ele se definiu e tudo sobre si em relação a Cristo e seu lugar no reino de Cristo. E ele viu tudo no mundo a partir dessa perspectiva. Essa é outra maneira de dizer que uma autodefinição centrada em Cristo e uma cosmovisão verdadeiramente cristã caminham juntas.
Você é um americano? Maravilhoso, mas considere isso um lixo para que você possa ganhar a Cristo. Se você é um cristão, você é um cristão que por acaso é americano, e não o contrário. Você é primeiro um cidadão do céu. Você é negro? Muito bem, mas esqueça isso. Se você é cristão, é uma nova criação em Cristo, uma raça única dos escolhidos de Deus. “Espere”, você diz, “não devo me orgulhar da minha raça?” É claro que não. Quem lhe contou essa bobagem? O mundo lhe ensinou isso, não a Bíblia. Se você deve se orgulhar de ser negro, e se deve enfatizar isso, não reclame quando outros manifestarem orgulho de serem brancos em vez de serem negros como você. Então, é claro, o resultado é a divisão, e não a unidade em Cristo. Qual é a sua profissão? Você é psicólogo? Ótimo, mas não pense que a psicologia possa explicar tudo e não leia a Bíblia com a mentalidade de um psicólogo. Em vez disso, julgue a psicologia com a mentalidade de um cristão. Cristo deve ser o ponto de referência central para todo o nosso pensamento e comportamento. Raça, gênero e classe não fazem diferença, mas apenas uma nova criação em Cristo Jesus.
Você pode se queixar de que é impossível abordar qualquer coisa, inclusive a fé cristã, sem trazer para ela nossos próprios antecedentes e pressupostos. Isso é verdade. Mas se você é cristão, então você é uma nova criação em Cristo — você tem um novo histórico. E se você é cristão, a Bíblia ordena que você renove sua mente — adquira um novo conjunto de pressupostos. Reoriente seu pensamento e entronize Cristo em sua mente como o ponto de referência pelo qual você se define e todo o restante. Então, você achará impossível abordar qualquer coisa à parte de sua formação e pressupostos cristãos. Só então você pode ter certeza de que tem uma firme compreensão de sua identidade como cristão.
Vincent Cheung. The Christian’s Self-Definition. Disponível em Reflections on First Timothy, pp. 6–7. Traduzido por Luan Tavares em 02/09/2019.